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A Carla Zambelli contratou o Hacker da Vaza Jato Para Grampear o Telefone do Alexandre de Moraes
Sei lá, não tem muita coisa pra escrever depois dessa manchete. Mas a realidade é que Bolsonaro, através da Carla Zambelli, que provavelmente é o maior exemplo de pessoa burra porém extremamente motivada que esse país já teve, contratou Walter Delgatti, hacker envolvido no vazamento das informações de procuradores da Lava Jato no Telegram em 2019 para o The Intercept Brasil. O objetivo era esse mesmo: grampear o Ministro Alexandre de Moraes, achar “alguma irregularidade” nas escutas e usar isso como argumento para 1) Afastar Alexandre de Moraes do TSE antes da eleição ou 2) Anular o processo eleitoral – e para isso existia a minuta do golpe que foi encontrada na casa do ex ministro e atual presidiário Anderson Torres.
A informação foi veiculada inicialmente no Brazilian Report, e todo mundo negou. mas Carla Zambelli é uma burra extremamente motivada, e revelou pra Folha que de fato contratou Walter Delgatti. Só não revelou que o objetivo era grampear o Alexandre de Moraes para melar a eleição, mas talvez isso seja burro demais até para a Carla Zambelli.

Bolsonaro reagiu, dizendo que foi traído por Carla Zambelli. Ele insiste na tese de que só perdeu a eleição porque Carla Zambelli saiu brincando de bang bang nas ruas de São Paulo na véspera da eleição. Nessa briga, minha única torcida é para que um dos dois seja feito de antimatéria, para os dois se aniquilarem mutuamente sem deixar rastros.
Eventos Extremos e Mudanças Climáticas
A doutoranda e divulgadora científica Karina Lima fez essa sequência questionando se a intensidade da tragédia em São Sebastião tem a ver com as mudanças climáticas. Minha resposta, assim como a dela, basicamente é “não dá para afirmar com certeza mas indícios apontam que há grande chance de que sim”
De uma coisa, porém, podemos ter certeza: o descaso do governo do estado de São Paulo por vários anos minou a capacidade de responder a essa tragédia. Em 2020, quando chuvas no Guarujá mataram 43 pessoas, a resposta do governo estadual foi ágil e eficiente, tanto para encontrar os corpos quanto para mapear novos deslizamentos. O que aconteceu em três anos para que o estado perdesse toda a sua capacidade de prever e de responder rapidamente aos desastres? A resposta passa por retórica neoliberal e economia burra.
Em setembro de 2020, a ALESP aprovou a fusão de três institutos de pesquisa da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente que tinham prerrogativas muito diferentes: Instituto Botânico, Fundação Florestal e Instituto Geologico. Os institutos foram esvaziados em nome de um novo “Instituto de Pesquisas Ambientais”, que segue sem funcionar plenamente três anos depois.
Por que isso prejudicou a resposta ao desastre de São Sebastião? A resposta é simples: o Instituto Geológico era responsável pelas ações de mapeamento e de resposta a desastres. Eles tem um projeto desde 1993 de mapeamento de todas as ocorrências de desastres nas áreas historicamente mais vulneráveis do estado de São Paulo (Região Metropolitana, Baixada Santista e Litoral Norte), com registros contínuos é um trabalho de excelência junto à Defesa Civil estadual. Com a fusão, os pesquisadores do Instituto Geológico perderam a maior parte da verba para continuar o trabalho.
Eu vi esse processo com meus próprios olhos. Atuei em um projeto de aperfeiçoamento da gestão pública no Instituto entre 2019 e 2021, no contexto do meu trabalho. O projeto acabou justamente por conta da fusão entre os institutos, que inviabilizou as atividades. Os pesquisadores e a direção do instituto sempre foram contra essa loucura. Isso está bem claro no relatório final, de novembro de 2021:

Outros trechos do mesmo relatórios são ainda mais incisivos:



No Instituto Geológico, estátua a estrutura científica que viabilizava a prevenção e o enfrentamento a desastres no estado de São Paulo. Ao esvaziar essa estrutura, cortando verbas e incorporando o Instituto Geologico como um mero departamento de outro instituto com atribuições completamente diferentes, o governo estadual de São Paulo, sob João Dória, contribuiu para o agravamento da tragédia que se abateu sobre São Sebastião. E, se nada for feito, novas tragédias virão, sem resposta adequada.
Imperatriz
Eu sou torcedor da Viradouro desde a época do Joãozinho Trinta. Queria obviamente que a escola tivesse ganhado o Carnaval, mas o vice está de bom tamanho, considerando quem foi a campeã.
A Imperatriz Leopoldinense talvez tenha contado a grande história do samba esse ano. Falou de Lampião, o que já é por si só uma história. Trouxe Leandro Veiga de volta, e queria se estabelecer de vez depois de cair em 2019, vencer a segunda divisão em 2020 e permanecer na elite em 2022 (o que não é exatamente trivial no Rio de Janeiro)
Para além disso, tem uma questão política que se levantou nos últimos meses. A Imperatriz é uma escola muito ligada ao Complexo do Alemão, que foi extremamente politizado no período eleitoral, após a visita de Lula no complexo, com a jocosa associação do Complexo do Alemão à bandidagem.
Para piorar, no início de 2023, Antônia Fontenele, notória subcelebridade bolsonarista, comparou a roupa de Janja na posse “com uma roupa da Imperatriz Leopoldinense”. Essa tentativa de piada duplamente preconceituosa, em que a factoide humana em questão tenta chamar Janja e a escola de velhas e antiquadas, teve uma dupla resposta: a Imperatriz convidou Janja para desfilar na velha guarda da escola, Janja aceitou, e no final ambas terminaram campeãs do Carnaval, o que certamente não deixou a avó de Barbie fascista em questão feliz.
Brasil e a Resolução da ONU Contra a Guerra
O Brasil propôs que fosse incluída numa resolução votada na Assembleia Geral da ONU que todos deveriam se comprometer com a promoção da paz entre Rússia e Ucrânia. Esse trecho foi decisivo para que a resolução condenando a invasão da Ucrânia pela Rússia fosse aprovada, com o voto do Brasil.
Apesar desse voto, a Rússia não se indispôs com o Brasil. Pelo contrário: o chanceler Sergey Lavrov disse que está analisando a proposta de paz do Brasil com muito interesse.
Os únicos desesperados no momento são os membros do setor da esquerda brasileira que segue viúvo da União Soviética e acha que Putin é um líder de esquerda. Essa turma que solta na imprensa progressista ideário de extrema direita do Putin como se fosse de esquerda.
A realidade do discurso ideológico nessa guerra é que os ucranianos são nazistas no varejo enquanto o governo Putin é nazista no atacado. O neonazismo russo é muito mais aprofundado e ideologizado que o ucraniano: o neonazismo ucraniano é basicamente replicação de símbolos do Ukrainian Insurgent Army da Segunda Guerra, que era colaboracionista de nazista e lutava contra os russos. Os russos não: tem filosofia supremacista e o respeito de praticamente todos os líderes neonazistas do mundo. O neonazismo considera a Rússia uma espécie de Heartland, num sentido ainda mais profundo que o do Ratzel. Sem contar o sempre presente suporte da Igreja Ortodoxa. Hoje em dia, o Patriarca Kirill, patriarca de Moscou e bispo primaz da Igreja Ortodoxa Russa, é um grande entusiasta da guerra. Sobre isso, leiam a pesquisa de doutorado da saudosíssima Adriana Dias).
Mas a realidade para o Brasil é: saímos de párias para termos protagonismo na política internacional. Somos altivos e ambiciosos. Queremos a paz para que o mundo possa se concentrar no que realmente importa. Parece um sonho se compararmos com o que ocorria até poucos meses atrás.
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Por hoje é só. Conto com vocês para essa coluna chegar em mais gente, amigos!