Eu prometi que não ia publicar nada nos dias de Carnaval. No final, acabei publicando em todos os dias do Carnaval. Eu simplesmente não consigo desconectar e sair de férias.
Chuvas no Litoral Norte
Já são quarenta e oito mortos de acordo com a Prefeitura de São Sebastião, e mais de cinquenta pessoas estão desaparecidas. Voltou a chover em São Sebastião e novos deslizamentos fecharam trechos da Rio-Santos que tinham sido abertos há pouco tempo.
Além de tudo isso, uma nota triste inexplicável: repórteres do Estadão foram agredidos no condomínio de luxo Vila Anoman. O repórter fotográfico Tiago Queiroz foi obrigado a apagar as fotos do alagamento e a jornalista Renata Cafardo foi empurrada contra um alagamento. Os agressores, que também foram vítimas da tragédia, trataram os jornalistas como “comunistas”. Vai entender.

Mas é isso, tragédias revelam o melhor e o pior das pessoas. Existem repórteres sendo agredidos pagando R$ 30 mil para sair de helicóptero de São Sebastião, mas também há enorme mobilização para angariar recursos para as vítimas, e a maior parte das doações tem chegado de helicóptero. Ainda existem pessoas isoladas no litoral, mas alguns recursos estão começando a chegar. O governo Tarcísio de Freitas mudou de estratégia e, após a abertura de trechos da Rio-Santos, pediu para as pessoas deixarem o litoral o mais rápido possível, antes de novos deslizamentos de terra. Existe previsão de que chova mais 250 milímetros nas próximas 72 horas, o que deve agravar a situação.
Apuração do Carnaval
Eu nunca escondi de ninguém que a minha parte preferida do Carnaval é a apuração do desfile das escolas de samba. Eu inclusive gosto de assistir os desfiles pra saber em quais quesitos as escolas devem perder pontos. Às vezes dá certo.
O problema é que, no caso de São Paulo, a coisa é tão mal feita que beira a aleatoriedade, especialmente depois do célebre evento de 2012 chamado “o homem que rasgou as notas do Carnaval de SP”. Nesse dia, também nasceu o célebre meme “cheiro de clorofila no ar”, como acusação de corrupção na atribuição de notas às escolas.
O fato é que, depois do ocorrido, o público não pôde mais acompanhar a apuração no sambódromo. E, para além disso, a própria dinâmica da atribuição de notas mudou: a menor nota possível no Carnaval de SP é 9! Se na parte de cima isso acaba não afetando as melhores escolas (inclusive parabéns para a Mocidade Alegre pelo título), na parte de baixo a má vontade de alguns jurados pode decidir um rebaixamento, visto que o conjunto de notas passa a ser decidido praticamente com base na aleatoriedade.
Isso é tão grave que algumas das maiores escolas de São Paulo desfilaram esse ano no grupo de acesso. Vai Vai, Camisa Verde e Branco, Pérola Negra, X9 Paulistana, Nenê da Vila Matilde. Todas escolas com uma enorme história, que deveriam estar no Grupo Especial.
Time Pequeno é uma Merda
Como todos sabem, eu torço pelo Santo André, e a dinâmica de torcer para um time pequeno é uma droga: disputamos doze jogos na temporada e todo o resto é decidido nesses jogos: se estaremos na Série D do Brasileiro, se disputaremos a Copa do Brasil, se estaremos no Paulistão ano que vem. Então o Paulistão é realmente muito importante para o planejamento do Santo André.
Só que, assim como ocorre com outros times pequenos, os técnicos e jogadores contratados não criam identidade com o clube. Para eles, o Paulistão pelo Santo André é apenas uma vitrine para que eles consigam uma posição melhor em outro clube para o resto do ano.
Foi o que aconteceu com o treinador aqui: faltando dois jogos, ele decidiu ir para o CSA. Ainda existem coisas para decidir aqui (como a classificação para a Série D de 2024), mas isso não importa muito para quem não tem identidade com o clube. E é a parte mais difícil: eu nem lembro mais quem foi o último jogador que completou cem jogos pelo Santo André. O time é sempre um local de passagem só.

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É isso. Espero que esse final de Carnaval traga boas surpresas para todo mundo!
Quando puder, faça um post sobre o filme “Subterrâneos do Futebol”. É curtinho, e mostra a fragilidade do “profissional do futebol” (o que explica um pouco essa cultura de não fincar raízes num time).
Dá para assistir neste link: https://vimeo.com/231070501
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