Trago notícias do Ibope de 05 de setembro, agradecendo ao @g1 pela cortesia. Os dados falam muito, muito mesmo. Principalmente porque as movimentações começaram.
- o Consolidado da pesquisa:
Bolsonaro 22%
Marina 12%
Ciro 12%
Alckmin 9%
Haddad 6%
Álvaro Dias 3%
Amoêdo 3%
Meirelles 2%
Boulos 1%
João Goulart Filho 1%
Brancos/Nulos 21%
Não sabe/não respondeu 7%
Bolsonaro subiu no limite da margem de erro, assim como Alckmin, Haddad, Amoedo e Meirelles. A diminuição da porcentagem de votos brancos, nulos e indecisos é notória.
Mas o grande destaque da pesquisa foi a subida de Ciro Gomes, que, além de estar acima da margem de erro, parece ser mais estrutural que a dos demais candidatos.
2. As projeções de 2º turno:
Ciro 44% x 33% Bolsonaro
Alckmin 41% x 32% Bolsonaro
Marina 43% x 33% Bolsonaro
Bolsonaro 37% x 36% Haddad
Ciro Gomes conseguiu a maior vantagem sobre Bolsonaro, dentro da margem de erro. Hoje, o único candidato contra quem Bolsonaro seria competitivo em um segundo turno seria Haddad.
3. A Rejeição aos candidatos:
Bolsonaro: 44%
Marina: 26%
Haddad: 23%
Alckmin: 22%
Ciro: 20%
Meirelles, Daciolo e Eymael: 14%
Alvaro Dias, Boulos e Vera: 13%
Amoêdo: 12%
João Goulart Filho: 11%
Ninguém ganha eleição tendo 18% de rejeição acima do segundo candidato mais rejeitado. Bolsonaro, que cresceu com o discurso da rejeição à política, sabe que o sentimento de rejeição, em geral, é muito mais potente que o de aceitação. E tem um fato que precisa ser dito: durante a campanha eleitoral, rejeição só sobe, nunca cai. Bolsonaro só tem chance se todo mundo tiver mais de 40% de rejeição também (não vai acontecer)
4. Votos por sexo:
Bolsonaro cresceu ligeiramente entre as mulheres, mas o maior crescimento nesse sentido foi do Ciro Gomes. Ciro também foi o que mais cresceu entre os homens, junto com Haddad. Caiu em 10% a quantidade de brancos/nulos entre mulheres em relação à pesquisa passada
5. Votos por escolaridade:
Ciro e Marina cresceram entre as menores escolaridades (Ciro de maneira mais intensa), enquanto Bolsonaro e Amoedo cresceram entre quem tem curso superior, mostrando que o eleitor vê Ciro e Marina como opções de quem tem menos escolaridade (e escolaridade também está relacionada à condição financeira) e Bolsonaro como opção de quem tem mais escolaridade. Estudar mais não garante um voto melhor.
6. Votos por renda
A subida de Ciro tem um caráter mais popular e Bolsonaro continua tendo um perfil do voto de elite. A subida do Amoedo entre as maiores rendas é notória, mas o candidato da elite segue sendo Bolsonaro, com bastante sobra.
Um fato relevante é o de que Haddad está tendo maior aceitação na elite, no atual momento. Não atraiu o voto popular lulista, que está cada vez mais com Ciro e Marina. Com esse movimento de consolidação, a transferência de votos não será automática entre Lula e Haddad. O esforço de campanha daqui em diante terá que ser hercúleo.
É bom perceber nesses gráficos que o eleitor de menor renda e menor escolaridade é o que tem maior porcentagem de brancos/nulos e indecisos. Isso traz tendência de crescimento para Ciro e Marina, mais fortes nesses estratos (ou pro Haddad, se conseguir se vincular ao Lula)
Outro fator importante é que a campanha já começou de verdade, e com isso a porcentagem de votos brancos, nulos e indecisos diminuíram drasticamente. As pessoas já estão tomando uma primeira decisão de voto, ainda que não definitiva, e a indecisão do PT fez Haddad ficar pra trás.
7. O voto por raça:
Ciro cresceu muito entre pretos e pardos, enquanto Bolsonaro cresceu entre brancos. Haddad cresceu entre “outros”. Como a pesquisa passada, o viés raça existe sim, mas não é exatamente decisivo (no entanto, fortalece a percepção do voto do Ciro sendo mais ligado às classes populares, no momento)
8. O Voto por região
O crescimento de Ciro no Norte e Nordeste é enorme (no Nordeste ele se tornou primeiro lugar isolado nessa pesquisa, acima da margem de erro), consolidando o fato de que ele está se apropriando do legado de votos do Lula. O crescimento de Alckmin foi maior no Sul do país. No Sudeste, o único candidato que cresceu foi Bolsonaro, o que é um pesadelo para Geraldo Alckmin.
9. O voto por idade:
TEM QUE ACABAR O JOVEM.
A maior parte do crescimento do Bolsonaro se deu entre o público de 16 a 24 anos. Muito por conta da desmobilização da última semana em torno da candidatura Lula, por conta de sua impugnação no TSE. Bolsonaro também subiu no público acima de 55 anos. No entanto, a concentração de sua subida em públicos específicos mostra que ela pode ser volátil.
A subida de Ciro Gomes, por sua vez, se mostra muito consistente, uma vez que atinge todas as idades. Tem um caráter não segmentado. Esse tipo de subida é muito difícil de conter e de reverter com propagandas negativas.
Conclusões
Bolsonaro é mesmo o candidato das elites, e o crescimento de Alckmin foi residual, entre o pessoal que define seu voto pelo horário político (isso também explica o crescimento residual do Meirelles)
O crescimento do Amoêdo, por sua vez, veio de quem é afetado pelas redes sociais
Ciro, por sua vez, conseguiu conciliar as duas coisas, atingindo todos os públicos. Como já disse antes, Ciro tem a segunda militância online mais bem estabelecida, e a quantidade de vídeos dele compartilhados nos últimos dias cresceu sensivelmente também, mostrando engajamento
O PT, por sua vez, continua com chances, mas tornou a campanha mais difícil. Ao estar com seu candidato indefinido até o momento, o partido deu chance para que outros candidatos de centro esquerda cresçam. E quem tem abocanhado essa parcela de votos é Ciro Gomes.
Marina Silva mantém estabilidade, mas com alguns dados preocupantes. Perdeu algum espaço entre o público feminino e os jovens, para onde sua campanha estava se direcionando. O apelo não está dando certo, mas ao menos a maior parte do seu público permanece cativo.
Quanto ao Bolsonaro, a rejeição de 44% diz mais que qualquer intenção de voto. Em campanhas políticas, o aumento da rejeição costuma prenunciar a queda nas intenções de voto: é parte da dinâmica, as pessoas passam a falar mal do sujeito e isso vai fazendo efeito em algum tempo.
Com isso, a tendência é que comecem a surgir fendas na fortaleza de intenção de votos do Bolsonaro. Vai ser tema no grupo da família no WhatsApp, nas discussões em salões de cabeleireiros, na fila do banco. Essa tendência deve se refletir em números daqui 10 a 15 dias.
Análise de viés:
Bolsonaro: Alta e viés estável/ de baixa
Marina: estabilidade e viés estável
Ciro: Alta e viés de alta
Alckmin: Estável. Alta e viés estável
Haddad: alta pós oficialização
Álvaro: baixa e viés de baixa
Amoedo: alta e viés de alta
Meirelles: alta e viés estável
Então, em resumo, é isso. Finalmente as correntes estão se movendo.