É hora de uma breve análise do Datafolha que saiu agora dia 10 no Jornal Nacional. A pesquisa foi encomendada pela Globo e pelo Grupo Folha, de acordo com as notas fiscais emitidas no registro da pesquisa inter01.tse.jus.br/pesqele-public…
Vamos aos dados. Lembrando que não constam mais simulações com o ex-presidente Lula, após a decisão de impugnação de sua candidatura pelo TSE:
- Eleição presidencial:
Jair Bolsonaro (PSL): 24% (+2%)
Ciro Gomes (PDT): 13% (+3%)
Marina Silva (Rede): 11% (-5%)
Geraldo Alckmin (PSDB): 10% (+1)
Fernando Haddad (PT): 9% (+5%)
Alvaro Dias (Podemos): 3% (-1%)
João Amoêdo (Novo): 3% (+1%)
Henrique Meirelles (MDB): 3% (+1%)
Guilherme Boulos (PSOL): 1% (=)
Vera Lúcia (PSTU): 1% (=)
Cabo Daciolo (Patriota): 1% (=)
João Goulart Filho (PPL): 0% (-1%)
Eymael (DC): 0% (=)
Branco/nulos: 15% (-7%)
Não sabe/não respondeu: 7% (+1%)
Subidas acima da margem de erro: Ciro, Haddad.
Quedas acima da margem de erro: Marina
2. Rejeição:
Bolsonaro: 43% (+4%)
Marina: 29% (+4%)
Alckmin: 24% (-2%)
Haddad: 22% (+1%)
Ciro: 20% (-3%)
Cabo Daciolo: 19% (-1%)
Vera: 19% (-1%)
Eymael: 18% (-1%)
Boulos: 17% (-1%)
Meirelles: 17% (-4%)
João Goulart Filho: 15% (-2%)
Amoêdo: 15% (-2%)
Alvaro Dias: 14% (-2%)Rejeita todos/não votaria em nenhum: 5% (+1%)
Votaria em qualquer um/não rejeita nenhum: 2% (=)
Não sabe: 6% (+2%)
3. Segundo turno com Bolsonaro:
Marina 43% x 37% Bolsonaro (branco/nulo: 18%; não sabe: 2%)
Alckmin 43% x 34% Bolsonaro (branco/nulo: 20%; não sabe: 3%)
Ciro 45% x 35% Bolsonaro (branco/nulo: 17%; não sabe: 3%)
Haddad 39% x 38% Bolsonaro (branco/nulo: 20%; não sabe: 3%)
4. Segundo turno sem Bolsonaro:
Ciro 39% x 35% Alckmin (B/N: 23%; não sabe: 3%)
Marina 38% x 37% Alckmin (B/N: 23%; não sabe: 2%)
Alckmin 43% x 29% Haddad (B/N: 25%; não sabe: 3%)
Ciro 41% x 35% Marina (B/N: 22%; não sabe: 2%)
Marina 42% x 31% Haddad (B/N: 25%; não sabe: 3%)
Bolsonaro cresceu com o atentado, mas sua rejeição também cresceu. Não há dúvida de que ele é o grande assunto dessa eleição: dois terços dos eleitores (67%) ou votam em Bolsonaro ou o rejeitam veementemente. O resultado disso aparece nas derrotas em simulações de segundo turno.
5. Voto por sexo:
Marina teve uma queda brutal, especialmente entre mulheres, e Bolsonaro subiu tanto entre homens quanto entre mulheres (mas segue tendo mais eleitores homens). Ciro também subiu em ambos os sexos, assim como Haddad. Há bem mais mulheres indecisas do que homens.
6. Voto por escolaridade:
O impressionante é que Alckmin tem bem mais votos entre quem tem ensino fundamental, disputando a liderança com Ciro e Bolsonaro. O capitão da reserva, por sua vez, segue líder entre quem tem ensino superior, enquanto Ciro cresce em todas as escolaridades.
7. Voto por renda
A segmentação do Datafolha é diferente do Ibope, o que é legal, porque mostra que o público mais fiel ao Bolsonaro não é o rico de verdade, mas aquele que SE ACHA RICO, mas ganha de 5 a 10 salários mínimos. Nessa turma aí, o Bolsonaro tem quase 40% dos votos.
O remediado que quer se vender como rico, o “empreendedor” que acha que vai crescer, o vendedor que ganha muita comissão e acha que mudou de status social, todo esse público é muito vulnerável ao discurso do Bolsonaro e quer polícia na rua com queda de impostos pra continuar “por cima” no espectro social.
8. Voto por idade:
Bolsonaro teve muito crescimento entre o pessoal que tem entre 45 e 59 anos, mais sensível aos programas estilo Cidade Alerta sobre o atentado. Se a gente conjugar isso com o crescimento de Bolsonaro entre quem tem 5 e 10 salários mínimos, o retrato é o daquela família em que opai está com a carreira consolidada e em que os filhos são adolescentes ou estão na faculdade (o que naturalmente deixa os pais mais preocupados com questões como a violência)
Entre jovens, Bolsonaro não cresceu: os maiores crescimentos foram de Ciro e Haddad, enquanto Marina desmoronou. Os jovens foram influenciados pelo atentado de outra forma: com postagens no WhatsApp falando que o atentado foi forjado. E, ao mesmo tempo, as campanhas de Ciro e Haddad se intensificaram nas redes sociais.
Além disso, é notória a impopularidade do PSDB entre pessoas de 35 a 44 anos, e também o crescimento de Haddad nesse segmento, formado por pessoas que viveram os governos FHC e Lula.
E, entre os maiores de 60 anos,novos nomes não conseguem decolar.
9. Voto por região:
Bolsonaro cresceu com força entre o público de 45 a 59 anos da região Sudeste do Brasil. No restante dos públicos há certa estabilidade.
Resumindo: pessoas que assistem ao Datena.
Marina derreteu no norte do país, e Ciro e Haddad ganharam alguma força no país todo.
No Nordeste, Ciro e Haddad cresceram de forma impressionante. Marina perdeu dez pontos, e Bolsonaro segue estagnado. Finalmente os votos de Lula começaram a ser transferidos para Haddad.
Conclusões
1) O atentado não arrefeceu a rejeição de Bolsonaro, mas fez com que o “voto envergonhado” se revelasse, colocando o candidato muito próximo de seu teto real. No entanto, os ataques já recomeçaram e a tendência de queda deve começar a ser vista em números nas próximas pesquisas.
2) Há um componente passional nessa eleição, que está aparecendo mais agora, e ele explica porque, com a oficialização de Haddad e o crescimento de Ciro, Marina Silva está caindo. O eleitor quer firmeza de seus candidatos, e no momento o sinônimo de firmeza é Ciro e não Marina.
3) A pesquisa comprova que a leve subida de Bolsonaro é fruto do atentado sim, mostrando que Bolsonaro subiu nos estratos mais sensíveis à repercussão televisiva do atentado. Esse movimento deve arrefecer nos próximos dias.
4) Alckmin está quase estagnado, mas seu crescimento residual não é sustentável: atinge o público que não é seu público-alvo, os mais pobres e menos escolarizados, que serão alvo de Ciro, Haddad e Marina nos próximos dias da campanha. Pra crescer, só tomando voto de Bolsonaro
Ainda há alguns votos com Amoedo, Meirelles e Álvaro Dias também, que são plausíveis pra Alckmin, mas Meirelles e Amoedo estão em crescimento, inviabilizando essa transferência de votos, e o voto em Álvaro Dias tem um forte componente regional.
5) Os votos de Lula finalmente começaram a se transferir para Haddad, mas está cada vez mais claro que essa massa de votos será dividida com Ciro Gomes, que cresceu muito no Nordeste, mas também entre os mais jovens que não querem votar em Bolsonaro.
6) Marina Silva ainda tem chances, mas não vai pro segundo turno com os votos do Lula. A conta dela, agora, tem que ser “votos pouco engajados do Centro + os pobres que querem votar no Alckmin + alguns votos vindos do Bolsonaro”. No momento, a esquerda tá entre Ciro e Haddad.
Por enquanto, é isso.