Eu gostaria de falar sobre física de partículas. Queria ter com quem conversar sobre a força nuclear fraca, a força nuclear forte, o eletromagnetismo e como os cientistas vão fazer pra juntar a gravidade nisso daí, criando uma teoria em que relatividade e mecânica quântica convivam pacificamente.

Eu queria discutir com alguém quais os efeitos práticos das temperaturas menos que o zero absoluto obtidas em 2013. Queria mesmo entender porque outras experiências do tipo não foram realizadas e porque isso não gerou a repercussão que deveria. Pô, são temperaturas menores que o zero absoluto, que fazem a matéria se comportar de forma completamente diferente em relação às distribuições de energia de Boltzmann. Isso deveria estar sendo discutido. Será que a ideia de uma distribuição de Boltzmann invertida, com as energias sempre tendendo a um ponto máximo, não pode ajudar a explicar a energia escura, por exemplo? Parece que essa descoberta foi tão inesperada que os cientistas ainda estão criando um arcabouço teórico que possa explicá-la. Mas mesmo assim, eu queria ter com quem discutir esse assunto mais à fundo.

Também queria ter pessoas que discutissem comigo sobre elementos superpesados. Poxa, a tabela periódica ganhou quatro elementos essa semana. Pela primeira vez na história, o sétimo período está completo, e, se alguma equipe de pesquisa achar algum elemento químico além do 118, entraremos no terreno inexplorado do oitavo nível de energia, além do Q. Eu queria ter com quem falar mais sobre o assunto, mesmo que seja pra expor minha frustração com o fato de que esses elementos pesados são extremamente instáveis e a tal “ilha de estabilidade” ainda parece não ter nenhuma evidência prática.

E os táquions, será que existem? Será que algum dia alguém vai achar evidência empírica deles? Sempre é possível, até uns anos atrás alguns cientistas faziam piada de quem acreditava na existência do Bóson (ou Campo) de Higgs. E hoje ele está aí, provado, já rendeu até Prêmio Nobel ao Peter Higgs. Qual será que é a importância dos Pentaquarks? O que o CERN vai descobrir nos próximos anos? E as sondas que estão indo visitar outros planetas? E telescópios mais potentes, como o James Webb? O que descobriremos? Como poderemos discutir essas descobertas? O quão importantes elas serão?

Daí eu lembro que me formei em humanas. Não tenho nenhuma formação em exatas. Cientista Social ainda, uma profissão que praticamente não tem mercado no Brasil. Olho pro cenário político presente, no Brasil e no mundo, e quero chorar. Olho pro futuro e também quero chorar. Tenho cada vez menos paciência com militante de Internet. Tenho cada vez menos paciência com a Internet, em geral, como mostra esse texto aqui. Às vezes considero minha vida profissional e acadêmica um erro. Eu remo, remo e continuo estagnado, sem ter pra onde ir. Não tenho condição nenhuma de parar tudo e começar de novo, esperando resultados daqui 5, 10 ou 15 anos. É aquele maldito estado de suspensão, em que todo mundo sabe que você está ali, a um clique de distância, mas justamente por saber disso não fazem nada.

Queria ter feito as coisas de maneira diferente. Queria ter outras frustrações. Experimentar sensações de impotência novas. Cometer erros diferentes. Lidar com questões novas. Mas a estagnação e a falta de expectativa me consomem de dentro para fora, tornando minha vida cada vez mais oca e amarga. E não consigo me conformar com meus erros, com minha situação. Estou preso em um quarto escuro e sem janelas, mas continuo batendo na parede sem nenhum nexo, como se uma hora isso fosse me fazer sair.

Espero que ao menos surjam novas respostas pras questões científicas. Se minha vida parece não ter pra onde expandir seus horizontes, que ao menos os horizontes do conhecimento humano se expandam nos próximos anos.