Idéias horríveis que geram propagandas horríveis

A revolta com algumas propagandas horríveis que andam pipocando por aí não é só minha. Mas nesse post de DENÚNCIA se questiona: pra onde está indo o dinheiro das faculdades de propaganda? O que estão fazendo com a verba das empresas para o marketing?

As fontes de propaganda ruim variam: desde comerciais que viralizaram na Internet até coisas que você vê na TV e se pergunta como gastaram dinheiro nisso. Os motivos são vários: propagandas pretensiosas, preconceituosas, uma ideia horrível que ganha ares de genial, ou a tosquice levada a limites extremos para obter mais audiência. O resultado sempre é péssimo.

Sem mais delongas, vamos às propagandas:

1) Colgate Total 12

O cara não via a irmã há muito tempo e ela aparece do nada no consultório dele. Qual é a primeira coisa que ele faz depois do “irmãzinha, há quanto tempo”? Isso mesmo, oferece PASTILHAS DETECTORAS DE PLACA BACTERIANA pra irmã. E ela encara com a maior naturalidade, como se pastilhas que deixam sua boca rosa e denunciam que você é um porco que não escova os dentes direito fossem distribuídas em churrascos de família.

Pior que isso é a aparência de intimidade mal feita, como se a porcaria da pastilha, que serve APENAS para justificar o uso de Colgate Total 12 (que protege sua boca por até 12 horas), fosse uma demonstração de carinho do irmão sem noção para com a irmã.

Mais triste é saber que esse comercial é apenas a sequência de uma ideia ruim. Antes dele a Colgate fez um comercial em que o filho dentista tem uma CESTA DE MAÇÃS em seu consultório, e as usa para descobrir que a mãe tem gengivite (!!!). É tão ruim quanto:

2. Bravo Wolverine

Esse foi uma “denúncia” do Felipe Lobo.

A FIAT deve ter pagado milhões para licenciar essa série especial “Wolverine” para o Fiat Bravo, o que poderia dar margem a várias ideias bacanas de propaganda relacionadas à indestrutibilidade e resistência – que são características do Wolverine. E daí estraga tudo fazendo uma propaganda horrível.

A representação dos atores é ruim – mas não dá pra representar bem com um enredo tão tosco. A única referência ao filme é o “de Cinema”. Se fosse assim, era melhor fazer o Fiat Bravo série especial Meu Malvado Favorito 2, que pelo menos soaria engraçado.

Mas vamos ao comercial: a guria encontra do nada, na concessionária, o “Paulo”. Deviam ser conhecidos. Daí ele apresenta o carro “de cinema” pra ela, coisa que qualquer vendedor já deveria ter feito. A convida pra entrar no carro. Mostra os recursos “de cinema”. Põe a mão na perna dela, fala “de cinema” de novo e beija.

Ou seja: além do enredo ser horrível, ainda eterniza aquele estereótipo babaca e machista de “comprar carro para pegar mulher” que é análogo às mulheres seminuas que aparecem em comerciais de cerveja. Não basta a FIAT gastar milhões e veicular em rede nacional uma propaganda ruim, tem que prestar um desserviço à sociedade também.

3) Open English

A Open English faz uma série de propagandas que já são clássicas no que se refere à tosquice e à falta de noção. Na verdade, eles querem aparecer justamente por isso, para consolidarem a marca enquanto usam um marketing “descolado” e atraem pessoas para o curso.

Mas é difícil acreditar que alguém queira fazer um curso de inglês online com eles depois de ver um comercial como o da Open English do mercado em Mi-a-mi. Os comerciais deles são todos horríveis, mas nesse eles definitivamente chutam o balde:

Primeiro lugar: eles estão em Miami. Isso quer dizer que em algum momento eles desceram no aeroporto, foram para um hotel, despacharam a bagagem e saíram para algum lugar. Vamos supor que o primeiro lugar que eles foram foi o mercado da propaganda. Qual é o motivo do cara comentar “e aí, você estudou na Open English?” apenas no mercado? Isso mesmo, nenhum.

Mas a coisa piora muito. O cara compra o cacho de bananas e a guria manda um “Congratulations, you just won a million dollars!” do nada. Daí mesmo com o notebook do caixa piscando atrás informando o prêmio o cara fala “Milhão? eu não quero milho, eu quero banana!”. MEU DEUS, NÃO É POSSÍVEL.

Daí o outro cara, espertão, simplesmente rouba um milhão de dólares do amigo, comprando uma garrafa de água mineral. Muito ético. Mas piora ainda mais.

Se você olhar pro fundo, o mercado vende APENAS garrafas de água sem rótulo, além do cacho de banana aleatório que o guri que perdeu o prêmio pegou. O sentido disso é zero. Mas ainda há a cereja do bolo.

Reparem no final da propaganda. Viram a professora com sotaque dizendo “professores americanos, 24 horas por dia”? Você já viu ela antes, no mesmo comercial. Ela era a caixa do supermercado. Não tem como ser pior. Não tem como alguém se inscrever de verdade no curso e pagar R$ 178,00 por mês (sim, é essa a mensalidade do curso online) vendo isso.

4) Selaria Texana

Fiquei sabendo dessa pérola da publicidade por causa do Guillermo Pinheiro. Apenas assistam:

Nem tem o que comentar. Os atores são horríveis. O comercial é horrível. O enredo não existe. O cara SONHA COM UMA SELA. O comercial tem um ar romântico forçado. E no final o slogan é “Selaria Texana, fazendo o amor acender o fogo”. É surreal demais pra ser verdade.

5) Hyundai Veloster

Eu admito que as propagandas da Hyundai me dão certo asco. Mais do que isso: o tipo de motorista de carros Hyundai, na maioria das vezes (toda generalização é burra), é o mesmo tipo de caras que vemos dirigindo SUV’s ou pick ups – o cara que parece ter peru pequeno e usa o carro como forma de afirmação, sendo imprudente e egoísta no trânsito.

Esse ar pomposo das propagandas de carros Hyundai atinge seu ápice nessa propaganda do Veloster, de 2011:

Reparem: não é mostrada NENHUMA característica do carro no comercial. Bem, elas são mostradas, mas em inglês e rapidamente, afinal o objetivo é justamente o de que as pessoas não entendam a maioria dos recursos do carro. O de explorar aquela admiração que o brasileiro tem pelo estrangeiro. Enquanto isso, a fala, sempre pomposa, fala APENAS que o Veloster é “fenomenal” e “genial”. E o cara que quer afirmação compra a ideia.

A pior parte é sempre a supervalorização que beira o ridículo. Em outra propaganda, a Hyundai trata o fato do carro ter três portas como uma das maiores inovações da história da indústria automobilística:

“Você conhece um carro com TRÊS PORTAS?”. Sim, há mais de 50 anos inventaram a Kombi.

Trivia: o locutor de voz pomposa que fica falando “fenomenal” e “genial” nas propagandas da Hyundai é Ferreira Martins, que também é a voz por trás das propagandas eleitorais do PSDB desde a eleição de Fernando Henrique Cardoso.

Bônus: o melhor comercial do ano

Em 2009, quando treinava a seleção da África do Sul, o treinador Joel Santana ficou famoso pelo inglês macarrônico, em uma entrevista após o jogo dos Bafana Bafana contra o Iraque pela Copa das Confederações. Em 2013, resolveu rir de si mesmo e se tornou o astro de uma propaganda genial do shampoo Head & Shoulders. Vale a pena ver:

Apesar de tudo, ainda há esperança para a publicidade.

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6 comentários sobre “Idéias horríveis que geram propagandas horríveis

  1. Ainda há esperança para a publicidade? Acho inválido você falar isso sobre um país que revolucionou o meio e se tornou um dos maiores influenciadores mundias na publicidade.Concordo que existam muitos comerciais sem conteúdo, sem mensagem e sem nenhum tipo de informação que irá acrescentar algo ao público. Acho que pegar vários filmes ruins e colocar metendo o pau não é muito ético. Sugiro que você veja mais os sites que acompanham diariamente novos anúncios pelo mundo inteiro. Procure sites das premiações, principalmente de Cannes, que é o maior festival de criatividade no mundo. Não discordo de você colocar essas propagandas aqui, pois também as acho ruins. Mas a sua última frase, pelo menos para mim, tirou toda a credibilidade do seu texto. Obrigado. Pedro Cantas.

    Obs: Esse comercial da Selaria Texana não pode ter feito por profissionais de publicidade, o trabalho de amador é visível, nenhuma agência séria criaria um material como esse. Mas, sendo ruim ou não, ele já atingiu mais de 520 milhões de visualizações. Ou seja, funcionou.

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    • Esse texto é basicamente de galhofa. É óbvio que tem muita propaganda boa por aí, mas mostrá-las não foi o objetivo nesse texto.

      Não dá pra levar tudo tão a sério.

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  2. Assino embaixo. Os comerciais da Fiat e Unilever (Colgate e Companhia) são sempre decepcionantes, principalmente por se tratarem de grandes empresas.

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