Um Breve Histórico da Greve do Metrô em São Paulo

Caos provocado pela Greve do Metrô em Sp (Fonte: http://www.agencianoticias.com.br/)

Caos provocado pela Greve do Metrô em Sp (Fonte: http://www.agencianoticias.com.br/)

Dado o mar de desinformação que circula na Internet sobre a greve do Metrô em São Paulo, referendado pelo discurso político inflamado de quem quer transformar a coisa em campanha política antecipada, cabe fazer um breve resumo do que aconteceu nos últimos dias. Um resumo que não se pretende imparcial, mas que se pretende honesto.

Porque ser imparcial e ser honesto são coisas diferentes. O discurso da imparcialidade é aquele que pondera críticas e elogios a todos os lados. E, para isso, às vezes distorce os fatos. O discurso honesto é diferente: é aquele que procura compreender os fatos e o que está por trás deles.

Então, vamos aos fatos:

Antecedentes

Antes da greve do Metrô, houve outra greve com semelhante potencial de prejuízo: a dos ônibus em São Paulo. O curioso é que a greve foi feita à margem do sindicato da categoria, que tinha aprovado a proposta de aumento salarial da prefeitura (eu mesmo cheguei a desconfiar que fosse locaute – greve de patrões fazendo lobby – e me retratei por isso depois).

Durante a greve dos ônibus, os Metroviários votaram por sucessivos adiamentos de um eventual movimento grevista. Por fim, marcaram a data: 05 de junho.

29 de maio de 2014

Metroviários fazem campanha salarial e marcam greve para o dia 05 de junho. No entanto, antes da greve, propõem a abertura das catracas ao invés da cessação do serviço, para não prejudicar a população. O governo de Geraldo Alckmin não aceitou.

02 de junho de 2014

Os Metroviários, que inicialmente tinham pedido 35,5% de aumento salarial, em menção ao aumento pleiteado pelos Ministros do STF, fixaram sua proposta salarial em 16,5%. No entanto, o governo estadual NÃO APRESENTOU PROPOSTA além da anterior, de 8,7%, e a greve foi confirmada para o dia 05.

04 de junho de 2014

O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) determinou, DURANTE A GREVE, o funcionamento de “100% do Metrô no horário de pico e ao menos 70% nos demais horários”. O que, na prática, é uma afronta contra o direito constitucional de greve. Vamos relembrar o Artigo 9º da Constituição Federal (que, vale lembrar, é cláusula pétrea):

Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.

§ 1º – A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

§ 2º – Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

O problema é que as Tribunais usam o texto do § 1º do Art. 9º para cercear o direito de greve. A manipulação do conceito de “serviços ou atividades essenciais” e do conceito de “atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade” para o atendimento de interesses de quem quer que seja é notória. Em seu conceito original, o § 1º tinha como objetivo evitar a interrupção de serviços realmente essenciais para o cidadão, como o atendimento médico, por exemplo.

E não dá pra acusar o Judiciário de partidarismo nesse caso: é conservadorismo mesmo. Tanto que a greve dos ônibus também foi declarada abusiva pelo tribunal.

Mais triste ainda é constatar que greves de ônibus e Metrô são facilmente condenáveis pela justiça, “por serem serviços essenciais”, atropelando a Constituição. Enquanto isso, as greves de professores duram meses. Está rolando uma, inclusive, nas Universidades Estaduais paulistas, sem nenhuma repercussão. Os governos não acham os professores importantes o suficiente para negociar rapidamente com eles. A Justiça não acha educação um “serviço essencial”. E a sociedade dá de ombros. Vivemos em um país em que Metrô é essencial, mas educação não é.

A lógica malufista é o Leviatã de nossa sociedade, e ela insiste em se manter de pé.

05 de junho de 2014

Sem acordo, o Metrô entra em greve. O sindicato dos Metroviários propôs uma de duas alternativas para terminar com a greve: adoção de catraca livre com desconto dos dias ou aumento de 12,2% (era 16,5% antes). O governo de SP não moveu um dedo. Permaneceu com a proposta anterior, de 8,7%. E não houve acordo novamente.

08 de junho de 2014

Após três dias sem avanços nas negociações, a legalidade da greve do Metrô é julgada pelo TRT. Sim, o mesmo tribunal que queria “greve com 100% de funcionamento no horário de pico”. Como era de se esperar, a greve foi declarada ilegal. Além disso, o TRT determinou que o percentual de reajuste fosse exatamente o pleiteado pelo governo, de 8,7%. E ainda determinou corte de ponto e possibilidade de demissão dos funcionários.

O curioso é que uma das justificativas na decisão do TRT para a ilegalidade da greve é a de que “8,7% é o máximo de percentual que o Metrô pode pagar sem comprometer suas contas”. Quando pensamos em “comprometimento das contas do Metrô” é quase inevitável pensar que a empresa perdeu quase R$ 1 bilhão em um “cartel de trens” nos últimos 20 anos, com participação de figurões influentes no governo paulista no período, como Andrea Matarazzo e Robson Marinho. E que “cartel de trens” é um belo eufemismo para um bando de licitações superfaturadas garantidas com pagamento de propinas a políticos. O esquema era tão manjado que a Folha de São Paulo sabia de vencedores de licitações do Metrô com meses de antecedência, em 2010.

Os metroviários obviamente não aceitaram a decisão da justiça. E resolveram permanecer em greve, mesmo com a multa diária de R$ 500 mil imposta pelo TRT.

09 de junho de 2014

O governo de São Paulo intensifica a repressão policial à greve e demite funcionários grevistas, mas a greve continua. Funcionários grevistas do Metrô chegaram a ser presos, relembrando os tempos da ditadura em que greves eram ilegais, no final da década de 70

O curioso aqui é constatar que todos os problemas do estado de São Paulo parecem ter uma única solução para o governo Alckmin: aumento do policiamento. Não importa que a repressão policial signifique passar por cima de uma cláusula pétrea da Constituição Federal. O importante é conseguir o apoio daqueles do público conservador para as eleições de outubro. E São Paulo tem a maior e mais influente elite conservadora do país. Uma elite que patrocinou a ditadura através da FIESP, por exemplo. E, para essa elite, a repressão policial é a forma ideal de governar.

É uma pena que a repressão policial não abasteça o Sistema Cantareira e o abastecimento de água em São Paulo esteja em risco nos próximos anos.

Considerações e próximos passos

Antes de me acusarem de “petista” para tentar evitar a discussão, saibam de duas coisas:

– O Sindicato dos Metroviários é ligado ao PSTU, de oposição ao governo Dilma.
– O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ofereceu ajuda ao governo de SP e pediu aos Metroviários que “refletissem e encerrassem a greve”.

A questão é a seguinte: em junho de 2013, a repressão policial patrocinada por Alckmin (e replicada por outros estados depois) no movimento pela redução das tarifas de ônibus provocou uma onda de manifestações que afetou muito a Copa das Confederações e ajudou a destruir, no final, a popularidade do governo federal. A popularidade de Alckmin terminou intacta, tanto que ele continua como favorito à reeleição em SP.

Agora, através da repressão desmedida à greve do Metrô, Alckmin parece querer desencadear outro movimento do tipo. Em junho passado, as manifestações tiveram três momentos distintos:

Momento 1: pela redução da tarifa
Momento 2: pelo direito de manifestação
Momento 3: “contra tudo o que está aí”.

O questão é que o discurso “contra tudo o que está aí” respinga sempre no governo federal e nunca no governo estadual, ainda que esse tenha sim sua parcela de culpa e que a maioria dos contingentes policiais seja estadual. E isso ocorre por causa de uma herança deixada por Portugal: o brasileiro é sebastianista.

O que é o sebastianismo? Bem, vamos lá (obrigado, Wikipédia):

O Sebastianismo foi um movimento místico-secular que ocorreu em Portugal na segunda metade do século XVI como consequência da morte do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Por falta de herdeiros, o trono português terminou nas mãos do rei Filipe II da rama espanhola da casa de Habsburgo. Basicamente é um messianismo adaptado às condições lusas e à cultura nordestina do Brasil. Traduz uma inconformidade com a situação política vigente e uma expectativa de salvação, ainda que miraculosa, através da ressurreição de um morto ilustre.

Não há nenhum “morto ilustre” para ressuscitar no Brasil, fiquem em paz. Mas há sim um sebastianismo em nossa política. Sebastianismo no sentido de que o brasileiro acha que o Presidente da República é uma espécie de super-herói capaz de resolver todos os problemas da nação. O brasileiro médio ignora o fato de que existe um legislativo altamente conservador e fisiologista, fruto da FALTA DE ATENÇÃO ao votar. Ignora que há um poder judiciário extremamente conservador, como provam as decisões que querem acabar com o direito constitucional de greve. Ignora que há uma quantidade enorme de empresários que vivem às custas de vantagens em licitações públicas e vão fazer todo o possível para manter essas vantagens, corrompendo os governos de todas as formas possíveis. E ignora que existem governos estaduais e municipais, com atribuições próprias, muitas vezes fazendo oposição ao governo federal.

A maior luta política no país deve ser a do Direito à Complexidade. A de mostrar para as pessoas que elas podem pensar por si mesmas, compreendendo que todos os governos acertam e erram. É por isso que as análises políticas devem ser honestas e não pretensamente imparciais.

Em relação à greve do Metrô, isso é só uma linha do tempo analítica. Mas é nítido que, no jogo político da greve, os Metroviários jogam com seus empregos, e o governo paulista joga com os tribunais, em nome da reeleição.

54 comentários sobre “Um Breve Histórico da Greve do Metrô em São Paulo

  1. Resumo da história: de que adianta a presidente (estamos falando da atualidade) ser bem intencionada, querer melhorias, se a mesma não tiver apoio político, principalmente do Legislativo.

    Essa guerra política é que trava o Brasil.

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  2. A justificativa inicial, colocando o artigo como justo (e não imparcial), denuncia desde logo a predisposição do artigo – que, sem entrar no mérito dos fatos, nada tem de justo na sua parcialidade. Não consigo perceber a lógica da sua proposição de que ser imparcial e ser justo são coisas diferentes – é o mesmo que dizer, pelo reverso, que ser parcial e ser justo são sinônimos.

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    • O artigo não entra no mérito dos fatos? Como assim? Acho ele um texto feito com muita dedicação, embora também apresente uma opinião individual. E daí? Sinta-se a vontade entrar em detalhes, deixando a sua própria opinião mais clara, contribuindo assim para compreender as causas da situação atual.

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      • Mas eu não disse que não emitiria opinião. Eu só recusei a abordagem imparcial e desapaixonada que seria de praxe pra tentar analisar os fatos de forma mais honesta sob o meu ponto de vista.

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      • É…a Folha é o pior exemplo que alguém poderia usar, dada a sua história pregressa e presente!
        E essa propaganda diz bem o que é sua verdade!
        “Aos olhos de hoje, apoiar a ditadura militar foi um erro, mas as opções de então se deram em condições bem mais adversas que as atuais”, diz editorial de página inteira publicado neste domingo, 30 de março, quando se completam 50 anos do golpe que culminou em uma ditadura militar; “Este jornal deveria ter rechaçado toda violência, de ambos os lados, mantendo-se um defensor intransigente da democracia e das liberdades individuais”, afirma ainda o jornal de Otavio Frias Filho; texto defende que repúdio ao regime é merecido, mas que nem todas as críticas têm fundamento

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      • Sim, eu sei! Foi bom você ter recusado uma “abordagem académica” in toto. (Obrigado pela expressão “de praxe”, não conhecia …)

        Aliás, na minha opinião, um bom texto sempre mostra um ponto de vista individual, seja ele académico ou não, até na ciências exatas, embora bem menos …

        Acho que a paixão do autor é o combustível para qualquer trabalho escrito, seja ele na blogosfera ou em outros meios.

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  3. Me solidarizo com os metroviários, que foram humilhados pelo judiciário ao serem obrigados a engolir suas reivindicações legílitmas com o rabo entre as pernas, após serem transformados em bandidos pela imprensa.

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    • Informe-se sobre o salário dos metroviarios antes de achar que foram humilhados… Humilhado é o trabalhador que saí de casa as 4da manhã envolta mais de 20 Hs pra ganhar salário mínimo e fica sem transporte

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      • Todos os trabalhadores são humilhados diariamente, seja metroviário, seja aquele que recebe o salário mínimo.
        No entanto, os metroviários têm certo patamar (ainda longe do ideal) justamente porque sempre lutaram.
        Todos têm os mesmos direitos, mas nem todos têm a disposição e coragem de lutar.
        Se pesquisar, o salário mínimo ideal considerado pelo DIEESE é de ~R$3.077.
        Não negamos que os trabalhadores que você citou sejam humilhados, mas isso não quer dizer que a forma conduzida pelo Governo nesta Campanha, também gerou humilhação aos metroviários.

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  4. Quando positivo uma opinião contrária ao texto (ou negativo uma opinião favorável), automaticamente o site dá um voto negativo ou positivo.

    Já quando positivo uma opinião favorável ao texto ou negativo uma opinião contrária, nada acontece.

    Que fraude é essa?!?!?!?!

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  5. Gostaria que alguém pudesse esclarecer, porque as greves só acontecem em ano eleitoral? A quem realmente interessa? Acredito que não possa interessar ao governador do Estado de São Paulo! Tenho 55 anos, acompanhei muita palhaçada. Todos alegam que estão no seu direito, mas e o direito de quem esta sendo prejudicado, como fica?

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    • Gente, como assim a greve só acontece em ano eleitoral? Em 2012 os profesores das universidades federais fizeram a sua maior greve da historia! E eu não lembro se ter tido eleição esse ano… Tem greve o tempo todo, inclusive de médicos e funcionários de hospitais, vocês é que não vêem…

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  6. Concordo com o texto, e São Paulo por ter um governo simpático à mídia está longe de qualquer crítica, ao contrário o caso de corrupção do metrô que vem desde a época de Mário Covas está sendo totalmente abafado. Sou obrigada a discordar com o significado dado à palavra “imparcialidade” e fui procurar no dicionário. Aqui vai segundo o dicionário Aurélio “adj. Que não sacrifica a justiça ou a verdade a considerações particulares. / Que não tem partido a favor nem contra: juiz imparcial. / Justo, reto, eqüitativo.” E concordo até porque prego sempre a imparcialidade da mídia, pois é um dever desta informar sem ter lado. Infelizmente em nossa sociedade tal palavra não pode ser utilizada, já que nossa mídia tem lado bem definido, e para fazer valer isto mente, distorce e esconde a verdade.

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  7. Acho curioso que essas greves só acontecem em ano eleitoral. Acho curioso os metroviários(PSTU) querer catraca livre que é a mesma pauta do passe livre(PSTU). As tarifas estão congeladas desde abril do ano passado. Alguém sabe me explicar como é que dá aumento salarial de 34,5% ? Como empresário gostaria de aprender esta conta pois na iniciativa privada isso é impossível. Somente mentes utópicas continuam com essas idéias já abandonadas em todo o mundo civilizado. Só aqui na republiqueta das bananias, na ilha dos Castros e no península do KIM JONG é que ainda persiste essa ideologia do almoço de graça.

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    • A única conclusão com a fúria frenética do seu comentário é que você não leu o texto. Ou senão leu tão contaminado de ódio que foi incapaz de fazer qualquer reflexão que fugisse do seu dogmatismo cotidiano.

      Só prova minha tese sobre o sebastianismo do brasileiro.

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    • Josimar, qualquer greve é uma ação política. Qualquer presidente, senador ou deputado age da mesma forma, seguindo os mesmos leis do poder. Nem falar da mídia. Não importa o pais.

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    • Bom, já que você falou de tarifa, você sabia que se houvesse somente o aumento inflacionário da tarifa nos último 10 anos, o valor seria de ~R$1,85?
      Você sabia que há anos atrás o Governo aportava dinheiro no Metrô e depois parou, tendo a Cia, que gerir com o dinheiro da tarifa, ou seja, o Governo como majoritário poderia investir com aporte financeiro para as despesas da empresa, mas não o faz. Além disso, são arrecadados R$5 milhões por dia com a tarifa e ainda há mais 8% de receita com publicidade, com planejamento de chegar a 20%.
      Ainda com os R$2,5 Bilhões desviados dos cofres públicos no Cartel do Metrô, seria possível arcar tanto com um reajuste maior, como também com a redução da tarifa.
      Também que o Alckimin acabou de sancionar seu próprio reajuste salarial e seus secretários entre outros, gerando um custo de R$230 milhões por ano, sendo que o que foi apresentado aos metroviários não chega a 15% dessa despesa.
      Ainda que os 35,47% reinvindicados, tem como base, estudos, pesquisas e cálculos feitos pelo DIEESE, com base nas perdas dos últimos 10 anos, além da produtividade e o decente aumento real.
      E por fim, os Metroviários de Brasília em média recebem 40% a mais que os metroviários de SP, sendo que aprenderam no Metrô de SP, no DF há apenas 1 linha, apenas 250 mil usuários por dia, a linha é muito mais nova e moderna e mesmo assim já conquistaram muito mais. Inclusive, em 2013 que foi o ano do grande avanço para eles, tiveram reajuste de 70 a 111%, dando em média geral de 90% de reajuste.
      Então o índice apresentado tem embasamento, tem argumento de defesa e não é nada surreal.

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  8. Otimo texto, porem , voce esta sendo suave com o Judiciario ao dizer que são conservadores. Não acredito. Dos Poderes do Brasil é o pior, e o unico em quem não votamos, por pior que votamos.

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  9. É sempre importante essa relação dos fatos. Mas misturar assuntos da política em geral acaba atrapalhando o raciocínio. A greve deve ser usada com inteligência e principalmente muito respeito. Por um lado há uma expectativa de manutenção ou até queda de preços, por outro de aumento de salários, legítimas, mas difíceis de tratar simultaneamente. Concluo que as conquistas devem ser gradativas com sucessivos ganhos reais, o que indica que a proposta do governo não era indigna. Talvez uma greve de 70 por cento, aliando a presença das pessoas no local de trabalho, explicando a situação para a população seria uma saída.

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  10. Ótimo texto, porém tenho dúvidas se seria uma herança sebastianista ou se é uma herança feudalista, que não foi extinta com a revolução capitalista, de que o presidente é Rei (também por ser mais fácil de compreender a política dessa maneira do que ter que considerar os 4 poderes separados, cada um com sua individualidade) completada por um maniqueísmo secular que só consegue separar as coisas em dois lados (bem e mal), tendo como base pré-conceitos, ou seja: o bem é o bem porque parece ser o bem e não porque faz o bem.

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  11. Honestamente, acho que todo trabalhador tem o direito e dever de lutar por seus direitos. Acontece que fica dificil fazer isso sem apoio popular. Sejamos práticos, primeiro acho que o timing da greve foi péssimo, ok que maio é a data base, mas a cidade tinha acabado de passar pela mesma situação com a greve dos onibus. Segundo que 8,7% de dissidio não é ruim. A maioria das categorias que conheço tem tido dissidios menores que isso. (a minha inclusive).
    Ai o cidadão comum fica preso 3 horas no transito, tem horas descontadas do seu salário, tem que trabalhar até mais tarde, passa por um desconforto infinito, fica com raiva e quer que os metroviários se ferrem por que eles estão de saco cheio de sofrer.
    Pra lá de certo, errado ou qualquer ideologia, no fim do dia é isso o que acontece. Em se tratando de um serviço que afeta a vida de milhares de pessoas, sem a simpatia do cidadão, não vai.

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    • Como já dito em outros posts, não era apenas pelo reajuste, a mídia que bateu no índice, mas há uma pauta extensa, que inclusive, muitos itens não geram custos para a Cia e outros itens que fazem parte da legislação e o Metrô não cumpre. Não foram os metroviários que arrastaram para junho, foi o Governo e o TRT, por isso descarta-se a Greve oportunista.
      Além disso, os Metroviários se predispuseram em trabalharem de graça, desde que houvesse catraca livre para a população enquanto seguissem as negociações, o Governo negou.
      No geral, a população apoiou sim, houve diversas pesquisas, inclusive de mídias de direita, que mostraram uma variação entre 70% e 81% de apoio da população, porém, no geral se mostrava o contrário na imprensa comprada.

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  12. Dentre todos os pontos expostos, gostaria apenas de entender um fato: O governo não autorizou a catraca livre, os metroviários ficaram com medo de perder seus empregos. O governo e a justiça não autorizaram a greve em horário de pico, os metroviários foram lá e fizeram mesmo assim, mesmo alguns perdendo empregos…
    Aí vem a questão, se esse é pra ser um texto honesto, e totalmente parcial, como é possível gerar a algazarra que foi gerada e não é possível liberar as catracas já que em ambos os casos foram pleitadas as ordens impostas?
    Não sou a favor do governo em hipótese alguma, nem federal e nem estadual, mas não consigo ser a favor dos metroviários também, especialmente porque tudo se tratou de oportunismo e ação política.

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    • Em um mundo ideal, se os Metroviários soubessem desde o começo que a postura do governo Alckmin seria essa, com demissões sumárias, tinham apostado na catraca livre desde o primeiro dia.

      O problema é que, no caso da catraca livre, a Justiça não ameaça os metroviários apenas com demissão: ameaça com prisão também. É uma faca de dois gumes.

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      • Gostaria de acreditar nisso, mas seria no mínimo ingenuidade minha.
        Infelizmente o que ficou evidente, na minha opinião, é que eles não fizeram isso desde o começo porque era mais interessante prejudicar a imagem do governo perante a população enfurecida, ainda mais com uma oportunidade de ouro às vésperas da copa.

        Se essa luta tivesse sido simplesmente em prol dos interesses dos metroviários, a catraca livre surtiria um efeito muito mais forte, mesmo custando algumas demissões ou até prisões, mas o cunho político destoa a parcialidade e o apoio que eles almejavam, pelo menos de minha parte.

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    • O colega já disse bem. A Catraca Livre se realizada pode criminalizar quem executou. A Greve é um direito e não foi peitar, pois há outras instâncias da justiça que ainda não havia julgado nada. Sendo assim, as demissões foram ilegais e ninguém imaginava que aconteceria, coisa que com a Catraca já seria uma certeza desde o início.

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  13. Art. 30, CF: Compete aos Municípios
    V – organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter ESSENCIAL.

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  14. Se há a premissa que os metroviários estão certos (como seu texto tem), as ações do governo/justiça são vistas como muito duras, até irracionais.

    Mas se, por exercício, tomarmos as ações destes governantes como certas, as ações dos metroviários serão vistas como duras e oportunistas.

    Portanto, se você tem forte convicção por algum lado, você só enxergará um oponente intransigente sem interesse em negociar.

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    O governo, entretanto, tem uma poderosa vantagem: agiu nos limites da lei. O Governador tem o direito de se negar os aumentos (afinal ele não é obrigado a aceitar nada) e justiça fez seu julgamento (e mesmo tendo um viés conservador) também dentro dos limites da lei. E é neste ponto em que os metroviários pecam, ao desacatar a justiça quando ela os desfavoreceram.

    ****

    Alguns pontos importantes eu não achei em lugar algum e são cruciais para fazer um julgamento objetivo: as contas do metrô. É mesmo impossível dar mais que 8,7%? Qual é o plano financeiro para os próximos anos? Caberia este aumento?

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    Acho que a lei do parágrafo 1º deveria ser logo regulamentada para parar de haver confusão. Acho que a jurisprudência já é sólida em entender que serviços públicos tem um direito a greve especial (assim como seu regime de trabalho não é CLT, mas também um especial) e devem manter seu funcionamento em altos níveis. Li que tu se posiciona contra incluir transporte público na lista de serviços essenciais, mas eu voto por incluir. Especialmente em grandes centros urbanos.

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    Por fim, em minha opinião o momento da greve foi oportunista. Parece que seus argumentos por aumento não são convincentes o suficiente então a saída seria colocar seu oponente numa situação completamente embaraçosa para tomar vantagem. Mas nem precisa muito para ver que a equipe de negociação está perdida: sair de 35% para 12% é motivo de piada.

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    • Só um adendo: na verdade saíram de 35% pra 8,7%, porque na própria segunda, após as demissões, os Metroviários admitiram esse reajuste em troca da readmissão dos metroviários demitidos.

      E o Metroviário faz greve todo mês de maio/junho. A data-base deles é 1º de maio, é essa a época de negociação (e eu nem argumentei a favor de aumentos maiores, só quis deixar explícito o modo truculento como o governo conduziu a negociação. Se o governo não aumentasse a proposta mas cedesse em outros pontos provavelmente os metroviários aceitariam)

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    • Como já dito pelo outro colega, não se pode dizer oportunista a greve, pois a data de dissídio dos metroviários é essa e sempre foi, só uma correção, que não há greve todo ano… As últimas: 2007, 2012 e 2014.
      Falou bem também quando disse que os metroviários aceitariam outros pontos que não fossem o reajuste, foi a mídia que focou no índice e o Governo se aproveitou disso, mas por exemplo, das 104 cláusulas da pauta dos metroviários,diversas não geram custo nenhum para a Cia e algumas têm custo baixo. Além disso, no meio das reivindicações existem itens constantes na legislação e o Metrô não cumpre; nesses pontos o Tribunal poderia e deveria intervir, julgando a favor dos metroviários (assim como já aconteceu com a CPTM em casos parecidos).
      Outra coisa: as pessoas estão confundindo; a Greve não foi julgada Ilegal (foi legal), mas foi julgada abusiva (do ponto de vista rídiculo de que os Metroviários teriam que cumprir 100% do serviço – ora, como seria feita a greve então???); mesmo assim, ainda há o TST e posteriormente o STF para julgar o caso. Sendo assim, a continuidade da Greve não foi passar por cima da justição, pois ela tem instâncias e poderia se chegar até a máxima.
      Quanto à dizer que Metrô é serviço essencial, quem conduziu as coisas para tornar esse serviço como essencial foi o Governo, pois, se houvesse investimento em todos os setores, haveria Escolas para todos os lados, Hospitais para todos os lados, industria e comércio nas Zonas Leste e Sul, diminuindo a necessidade de deslocamento para o trabalho, outros tipos de transportes públicos, etc, ou seja, o Metrô não seria tão essencial, o que demonstra que a Constituição não previa tal serviço como essencial, mas sim água, luz, saúde, etc.
      Quanto à possíbilidade orçamentária, o próprio Secretário dos Transportes, o Presidente do Metrô, entre outros, já anunciaram e apresentaram números que comprovam que poderiam ceder mais, porém, preferiram a truculência.

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  15. Salários praticados segundo o site do metro/sp :
    Oficial Manutenção Industrial 3.558,92
    Oficial Manutenção Instalações I 1.842,98
    Oficial Manutenção Instalações II 2.782,55
    Oficial Movimentação 2.587,23
    Oficial Veículos 3.810,07
    Operador Transporte Metroviário I 2.494,73
    Operador Transporte Metroviário II 3.439,54
    Operador Transporte Metroviário III – A 4.475,87
    Operador Transporte Metroviário III – B 5.634,89
    Operador Transporte Metroviário IV 6.736,85

    Agora de uma olhada no acordo coletivo dos metroviários do Rio de Janeiro:

    Clique para acessar o 264_acordo_coletivo.pdf

    Agora quero ver ter peito e publicar

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    • Duas perguntas:

      – Por que eu “não teria peito” de publicar?
      – Existe alguma lei que impeça grupos que ganham mais de três salários mínimos ao mês de lutar por aumentos salariais?

      Sem contar que a maioria dos funcionários é Oficial de Movimentação, operador de transporte metroviário I e oficial de manutenção de instalações I. Todos eles tem em comum o fato de ganharem menos que o salário mínimo necessário para uma vida digna no Brasil de acordo com o DIEESE, que, em maio de 2014, é de R$ 3079,31: http://www.dieese.org.br/analisecestabasica/salarioMinimo.html#2014

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      • Claro que tem direito de lutar por aumento salariais. O que questiono é o uso político da pauta de reivindicação. O que questiono é o quebra-quebra. O que questiono é tirar o direito dos demais cidadãos menos privilegiados de ter acesso ao transporte. Me desculpe Leo Rossato mas isso é muita vigarice e egoísmo. Por isso sou a favor das privatizações. Quanto aos estudos do SM que o dieese realiza é muito correto e importante para acompanhamento dos sindicatos, mas você como especialista em gestão pública deve pelo menos imaginar o que aconteceria com as empresas privadas se isso fosse resolvido por decreto.Ainda creio no lema “ordem e progresso”

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    • Vc realmente acha esses salários muito altos? Sabia q o governador aumentou seu salário e ganha em torno de 20.000,00?
      Vc é o tipo de pessoa que acha que os políticos são deuses e q neste país só eles podem ganhar bem?

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    • Da mesma forma que o salário do RJ é péssimo por ser Metrô privatizado, a qualidade do serviço é a pior do país pelo mesmo motivo, privatização… Os empresários não querem nem saber em qualidade, mas sim no lucro, e exploram os trabalhadores de lá….. Agora veja a qualidade de serviço no Metrô de Brasília, que é empresa pública, serviço dos melhores (ainda há muito o que melhorar), e o salário dos metroviários de lá é em média 40% maior do que de SP.

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    • Esse dados devem ser do teto, quem é antigo na categoria deve ganhar isso ai. a verdade é que o novo plano de carreira é uma merda e demora demais pra chegar nisso ai. Quanto ao plano ao acordo coletivo do SIMERJ creio que merecem todo apoio para brigar por melhores salários. Uma coisa é questionar a tatica adotada pelo sindicato (e vamos levar em consideração que o governador é um fdp). Outra coisa é querer privatizar para todos ganharem esse mesmo salário que esta no acordo do SIMERJ. Você sabia que nas áreas terceirizadas da limpeza do metrô se ganha um salário minimo, e o supervisor ganha 900 conto? Não acha justo estatizar para os trabalhadores da limpeza conseguirem brigar por melhores salários? Os bilheteiros da L4 ganha quase isso tbm e não tem garantias de trabalho. Apoiar isso é uma vergonha.

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  16. Isso que vc quer ser honesto? fala sério, vc é tendencioso e diz num trecho que não podemos viver sem transporte mas podemos viver sem educação … Podemos sim, pq o transporte nos garante ir ganhar nosso sustento … Se comer ninguém pode ficar…

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    • Concordo. Preferia que se tivesse dito que seria parcial. Porque se fosse realmente honesto teria dito que o Governo aumentou a proposta dos 7,8 para 8,7 (dá prá ler isso em qualquer mídia, menos neste blog). O que se pode dar acima da inflação. Se diz da “perda de quase R$ 1 milhão”. Então, já que teve isso, que se dane se a empresa dar aumento acima do que as contas suportam? Muito honesto. O direito de greve nunca foi “regulamentado”. O STF deveria é lançar uma ADPF (veja no Google se não souber o que é) no Congresso, assim não precisaria deixar os regionais julgarem o que é ou não essencial a população. Deixar 4,5 milhões de pessoas na mão para que a categoria que queria prá lá de 30% e ficasse com os finais 12,2%, é muito imparcial. Deixar 4,5 milhões de pessoa na rua, não é essencial (eu pude enfrentar o trânsito e ir de carro – quem não pode, teve o dia cortado – porque não são todos os empresários que puderam suportar a falta do seu funcionário). Ora bolas, muito honesta essa análise. Estou impressionada.

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