Uma Carta aos Amigos, Colegas, Companheiros e Seguidores

Antes de 2018, eu era um perfil anônimo que falava algumas coisas sobre política e já tinha alguma repercussão. Comecei a aparecer em alguns podcasts, conversar com as pessoas, tentar entender o que estava acontecendo. Mas sempre com uma visão meio blasé da política, afastada, como se aquilo não fosse comigo. E eu tinha essa visão porque eu achava que a “grande política” jamais me afetaria. Hoje vejo que esse foi um equívoco comum a muitas pessoas: a gente achava que realmente conseguiria ficar longe da política, que a política era “suja”, que as análises tinham que ser desapaixonadas.

Eu me orgulhava de coisas idiotas, estilo ter anulado o voto no segundo turno de 2014 mesmo sabendo que a Dilma era muito melhor que o Aécio. De alguma forma, eu ainda achava que nunca participaria da política institucional. Era uma mistura de autoestima zoada (eu achava que jamais seria uma pessoa pública) e arrogância (eu sou muito melhor que essa galera aí que se sujeita à política institucional). Sim, era algo patético da minha parte.

Daí Bolsonaro foi eleito. Dória foi eleito aqui em SP. E o pior: eles foram eleitos com votos de gente próxima, gente que eu nunca imaginava que compraria esse discurso odioso. Para além do desespero em ver que o eleitor tinha realmente escolhido esses dois, eu vivi no meu dia a dia o quanto eles poderiam prejudicar pessoalmente nossas vidas através da destruição da máquina pública.

O pior é que, mesmo com ambos eleitos, eu não acreditava que isso pudesse me afetar. Na época eu estava prestando meu doutorado, tinha feito todo um planejamento em cima disso, e vi tudo isso desmoronar aos poucos, o que tornou minha vida muito mais difícil do que eu imaginaria.

Já em 2019, impactado por ambos os governos, resolvi tomar uma atitude que soava como contrassenso, quase temerária: resolvi deixar de ser anônimo nas redes, e resolvi fazer uma oposição honesta e sem ressalvas ao bolsonarismo. Mais do que isso: resolvi me engajar na política. Eu não tinha acesso a partidos políticos. Muito por minha culpa mesmo, pela postura blasé que adotei a vida toda. Sair da análise e ir para a luta sem deixar de fazer análises é um processo difícil. Existem pessoas que acham que você é um traidor ou um aproveitador.

Para mim, esse processo foi igualmente difícil. Além da militância das redes sociais, comecei a montar o programa de governo para a prefeitura de Santo André com o Bruno Daniel, que estava saindo pelo Psol. Foi uma casualidade, trabalhávamos no mesmo órgão em SP e nos aproximamos. Tornamo-nos amigos e colaboradores políticos.

Esse trabalho foi profícuo e acabou envolvendo outras pessoas. Eu realmente me dediquei porque aquilo fazia sentido para mim: pela primeira vez alguém ouvia e levava a sério minhas ideias para a cidade, que eu forjei por muitos anos, com base em minhas experiências profissionais. Acreditem, eu tenho experiência pra caramba: são treze anos trabalhando com políticas públicas, além da minha graduação, pós graduação e mestrado, sempre tentando trazer uma abordagem mais prática às Ciências Sociais, focada em soluções no âmbito local. O doutorado, apesar de estar num tema diferente, segue na mesma linha.

Esse processo de construção no Psol foi cheio de sobressaltos, sendo o principal deles a pandemia. Mas, de alguma forma, continuamos construindo a campanha. E, no final, acabei tendo a confiança do Bruno e do Psol de Santo André para coordenar toda a campanha eleitoral de 2020. No final, terminamos a eleição com mais de 7% dos votos e elegemos um vereador pela primeira vez em Santo André (o Ricardo Alvarez). Foi um saldo positivo, em um contexto muito desafiador, com um prefeito mauricinho que soube se vender como marqueteiro e domina completamente a máquina pública da cidade.

Paralelamente a isso, eu continuei trabalhando no governo do estado, fazendo minha pesquisa de doutorado e ainda arrumando tempo para atuar nas redes sociais, sem descuidar da minha família (e sim, o contexto foi bem adverso nos últimos anos). Por algum motivo, mesmo em todo esse contexto eu comecei a ter alguma relevância no debate político dentro das redes sociais. Muitas pessoas começaram a se interessar por minhas opiniões em contextos como o da CPI da COVID e o da construção de opções ao bolsonarismo.

Em 2022, eu compreendi que Lula era a única opção capaz de derrotar o Bolsonaro – e que também precisávamos de nomes fortes em Brasília para combater o bolsonarismo. Por isso, apoiei e tentei ajudar o Ricardo Galvão a se eleger deputado federal pela Rede. Não deu, mas ele teve uma votação expressiva, e se tornou Presidente do CNPq no governo Lula.

Acho difícil quantificar o o que eu fiz nesses últimos anos. Alguns dizem que foi muito, e eu tento acreditar nisso porque durante a minha vida sempre tive a tendência de minimizar meus feitos. Mas creio que minhas reflexões e ponderações ajudaram muita gente a definir seus votos e a aprender um pouco mais sobre política.

Hoje sou um pouco trabalhador em políticas públicas, um pouco divulgador científico, um pouco pesquisador em mudanças climáticas, um pouco ativista e em todo tempo guiado por uma postura extremamente cristã. Mas não um evangelho odioso, como o que os bolsonaristas pregam, e sim um evangelho de amor. Fiz muitos amigos no processo, mas de alguma forma que quero entender no dia a dia, parece que todos esses papeis convergem para a política institucional.

E, para que eu de fato me exponha como pessoa pública, preciso estar em um lugar com autonomia e em que eu de fato me identifique. Quando eu ajudei o Ricardo Galvão acabei me aproximando de muita gente da Rede. Em especial o pessoal que atuou diretamente na campanha dele, como o Pedro, a Valesca Zampieri, o Erick Santos, o Lucas Paulino e a Mariana Lacerda. Gente jovem, engajada, que acredita de verdade no que faz e que me faz acreditar no futuro.

Além disso, a Raquel Varela sempre foi uma amiga valiosa, desde quando a Rede se coligou com o Psol na campanha a Prefeito de Santo André em 2020, além de ter uma atuação consistente na área ambiental no contexto do Grande ABC já há muito tempo, e o Weslley, meu cunhado, também foi um grande apoio no processo.

Mas ninguém, absolutamente ninguém foi mais importante nesse processo do que a Kelly. No começo, ela era bastante reticente com meu engajamento na política. É normal: como companheira de vida, ela quer meu bem, meu conforto, quer me proteger do sofrimento, das frustrações e das perseguições. Por isso, eu só me senti à vontade para me expor como pessoa pública quando a Kelly finalmente entendeu meus sonhos, minhas motivações e topou embarcar nessa maluquice comigo (sim, porque é uma maluquice, isso nós temos que admitir).

Por isso, quero comunicar aqui que ingressei a Rede. E não só isso: ingressei na Executiva do partido em Santo André, como coordenador executivo. Se você é da cidade e acredita nas coisas que eu falo, escrevo e defendo, vamos conversar, vamos construir juntos o partido em Santo André.

Porque sim, eu estou considerando uma candidatura para 2024, mas também quero que mais pessoas se prontifiquem a se engajar politicamente pela cidade. Promover uma cultura de engajamento político, especialmente entre jovens, é mais importante do que qualquer possível candidatura. O maior debate que temos para os próximos anos é o debate sobre as mudanças climáticas, e isso tem sido especialmente negligenciado nos contextos municipais em praticamente todas as grandes cidades. Santo André não é exceção.

Só que a política é um esforço coletivo, e todo o meu esforço não vai valer nada se não fizermos as coisas juntos. À partir de hoje, eu conto com todos vocês. E também quero, de alguma forma, ser a voz de vocês. Sou uma pessoa comum, de classe média, e estou plenamente consciente de que a política é, antes de tudo, sobre servir aos outros. Depois de tudo o que vivi é que sigo vivendo, acho que finalmente estou pronto para isso.

Um abraço forte e apertado! E espero conseguir tomar um café com todos vocês!

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4 comentários sobre “Uma Carta aos Amigos, Colegas, Companheiros e Seguidores

  1. Vagner “Ligeiro” aqui!

    Cara, não sei o que dizer. Aprendi muito com muitos de seus textos aqui no seu blog e nas redes sociais! Espero muito que seja um de seus maiores capítulos agora 🙂

    Será uma grande honra acompanhar isso pois sei que você é uma pessoa que tem uma capacidade sensacional de síntese política e não duvido que caso um dia candidato, você tenha forças para mudar a cidade. Não sou de Santo André, mas bem, se eu conhecer gente perto ou poder indicar, farei o possível.

    Que nessa sua caminhada você consiga o que deseja, e que todo seus frutos dos estudos até hoje, seus esforços políticos e amizades se resultam em uma força política para mudar e aprimorar.

    Tudo de bom MESMO para você e seus familiares! Que Deus lhe proteja dos males (e dos risos maléficos… :v )

    (E o 1 Cruzeiro do dia do Pastel ainda tá guardado aqui 😉 )

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  2. Fico feliz com a notícia, pois realmente precisamos de pessoas boas no engajamento político-partidário! Tenho certeza de que você ajudará a construir muitos debates frutíferos! Desejo sucesso nessa nova fase, com ou sem a decisão de concorrer a um cargo eletivo. Não sou de Santo André, mas se fosse já teria um candidato, hehehehe! Abraços!

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