Confesso que estou numa crise pessoal, desencadeada pela iminência dos 40 anos de idade.
Mais do que isso: tudo o que eu tenho lido sobre política tem soado altamente desinteressante nos últimos dias. Por um lado isso é bom, uma vez que vínhamos clamando há anos por um cenário político mais “chato”, que não tenha grandes novidades todos os dias. Durante os quatro anos de governo Bolsonaro, eu acordava todas as manhãs estressado e não conseguia sequer tomar café da manhã em paz, porque sempre aparecia alguma desgraça nova patrocinada pelo trevoso. Então é até bom as coisas estarem um pouco mais monótonas.
Por outro lado, no entanto, tenho tido dificuldade de fazer grandes análises sobre qualquer coisa, tendo em vista o baixo interesse. Eu realmente não gosto da sensação de estar falando sozinho e não sei muito bem sobre o que as pessoas querem que eu fale (e se elas querem de fato que eu fale sobre alguma coisa)
Nem vou separar em tópicos que hoje o texto é mais curto (espero que vocês os inúmeros textos anteriores).
Essa notícia me deixou meio mal. Porque eu passei muito tempo da minha vida nesse movimento artificial de não criar expectativas para não me frustrar, e eu sei que isso é meio impossível. Então a frustração vem de qualquer jeito. Quando eu era jovem e solteiro, por exemplo, tinha tanto trauma de relação a questões afetivas que nunca conseguia sequer flertar com ninguém. E naquela época não existiam aplicativos facilitando o serviço. E tudo porque eu não queria criar expectativas. Não criar expectativas me levou a ser uma pessoa muito antissocial e isso tem efeitos até hoje.
Uma coisa que eu tenho observado nos últimos anos é como o Brasil deixou de ter interesse mundial. A imprensa deixou de cobrir sistematicamente o país. A Reuters e a AFP, que chegaram a ter serviços em português, não tem mais. O El País chegou a ter uma versão brasileira, que foi extinta. O The Intercept só segue existindo no Brasil por causa que os funcionários assumiram a operação quando Glenn Greenwald se afastou. Outros serviços, como EFE, ANSA e SwissInfo, diminuíram a frequência com a qual traduzem notícias para o português. Isso sem contar nos serviços russos, afetados pelas sanções ocidentais. De agência internacional aqui só sobrou a BBC, que já estava aqui antes do boom de interese no Brasil que houve há uns 15 anos atrás. Vai levar muito tempo para o Brasil voltar a ter destaque internacional.
Em relação aos cem dias de Lula, bacana, que ele tenha mais uns 2800 dias no poder se possível. Só de passar cem dias sem o dejeto tóxico do bolsonarismo o Brasil está melhor. Em termos práticos, as notícias são boas: a inflação veio menor que o esperado e, pela primeira vez em muito tempo, está dentro do limite superior da meta (a inflação anual está em 4,65% e o limite da meta é 4,75%)
O Twitter, para variar, está passando vergonha. Em março, a plataforma começou a responder automaticamente a todas as solicitações da imprensa com um emoji de fezes. Agora, participou de uma reunião com o governo e teve a cara de pau de dizer que perfis com fotos de assassinos em ataques às escolas não estão fazendo apologia ao crime. Óbvio que o processo de radicalização acontece de forma mais intensa em fóruns como o 4Chan e em grupos de games no Discord, mas o papel da plataforma tem sido lamentável.
Aliás, como rede social é mato, fiz uma conta no Spoutible, uma rede que promete combater o discurso de ódio de forma mais efetiva. Espero que ela tenha usuários pra isso um dia.
Desculpa a falta de jeito e de frequência, estou meio zoado mesmo. Espero que uma hora passe.
Abraço!
Oi, Leonardo! Só deixando meu oizinho aqui pra você!
Eu gosto muito dos seus textos e das suas análises (de qualquer assunto, inclusive, hehehehe!).
Fico muito feliz quando chega o e-mail com seus textos, paro pra ler na hora!
Abraços, Alice
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Bem parecido aqui!
#TimeAudiência
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Entendo um pouco teu sentimento, Leo.
Tenho me sentido assim também, às vezes.
Como sugestão, quem sabe tu poderia retomar um conteúdo similar aquele teu fio do “uma curtida, uma notícia de esperança”. Falar de coisas boas, iniciativas positivas, perspectivas otimistas.
Andamos precisando disso.
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Precisamos mesmo. Acho uma boa tentativa.
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Olha eu aqui dando um oi!
Uma coisa que reparei é que sou mais velho que tu (sou 82, então fiz 40 ano passado!). Só que tem um detalhe: desde os 35 já falo que tenho 40! 🙂 Meio que por ter um jeito mais “infantil” nos trejeitos, a brincadeira que faço é falar que tenho mais idade do que possuo realmente (e é gozado como a galera na brincadeira acaba TIRANDO idade, o que me dá raiva até!).
Entendi que muitas vezes a gente se preocupa com a idade e esquece da experiência. Posso ter 40 anos, mas não tenho a SUA experiência em políticas e comunicação às pessoas. Talvez algumas coisas somos parecidos, mas aí é para conversar em um café (que ainda lhe devo!).
Saúde a ti e a todos Leonardo! Fique bem! Precisando de algo, o e-mail está aí!
PS: quanto ao Twitter, gostaria de te convidar para de vez em quando passar no Manual do Usuário do Rodrigo Ghedin. Tem uma comunidade (o Órbita) lá que talvez você goste de participar e trazer ou ler alguns textos! Ou bem, apesar de eu não ter mais Twitter ou Mastodon, acompanho a Ursal, onde sei que tu joga uns textos lá. Enfim, onde estiver, darei um jeitinho de acompanhar (só estou evitando comentar demais pois tou chato ultimamente também :p )
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