Como vocês perceberam (ou não), andei meio ausente nesses últimos dias. Eu poderia dar um monte de desculpas, mas a realidade é que eu já tinha assumido alguns compromissos e estou completamente sem tempo de acompanhar as coisas diariamente. Além disso, tenho me sentido muito cansado e espero que isso não seja sintoma de nada mais grave, só de que ando assumindo compromissos demais.
Metal Nazista
Eu não vou entrar na discussão sobre se o Mayhem é uma banda nazista ou não porque há exatamente vinte segundos eu estava tentando achar aqui no Google qual era a pronúncia correta do nome da banda, e só achei a pronúncia correta depois de passar por uma cidade na Alemanha e por uma revendedora de carros na Vila Olímpia. Esse é o meu nível de conhecimento sobre eles e não vou me arrogar como especialista na questão.
Bem, eu gosto de rock. Sempre gostei, desde quando a MTV chegou no Brasil, em 1991, e eu tinha 8 anos de idade. Achava as bandas da época incríveis, depois fui conhecendo mais sobre a história do rock e abraçando muita coisa dos anos 60, 70 e 80, em especial. Em certo momento da minha vida, até uns 18 anos de idade, achava legal ter “atitude rock’n roll” e cheguei a andar com os roqueiros na época do colégio, aqueles caras que se vestem de preto, fumam, bebem e ficam jogando sinuca em algum “barzinho rock’n roll” sempre que podem. E, para ser honesto, a última coisa que a gente pensava era na posição política dos caras. No máximo a minha mãe ficava me enchendo o saco porque “o pastor falou que rock é coisa de quem tem pacto com o diabo”. Nessas horas a gente agradece a falta de proficiência em inglês dos pais, que me impediam de ouvir Raul Seixas mas não me impediam de ouvir Black Sabbath, Iron Maiden e outras bandas do tipo.
Mas daí chegou a Internet e ela foi provavelmente a melhor coisa que poderia ter acontecido para a democratização do conhecimento musical. Passei anos sendo eternamente grato aos downloads que eu fazia via SoulSeek, que me fizeram conhecer coisas tão diversas quanto J-Rock, touareg music e post rock. E daí, já em meio a uma faculdade de Ciências Sociais, veio a minha primeira experiência complicada em relação à mistura entre política e música: conheci uma banda ucraniana de black metal chamada Drudkh, achei o som bem maneiro, MAS eu eventualmente era um grande interessado em estudar história da Ucrânia e descobri que uma música deles chamava “Ukrainian Insurgent Army”. Para quem não sabe, a Ukrainian Insurgent Army foi o exército colaboracionista que lutou do lado dos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Hoje isso está mais em evidência por causa do novo nacionalismo ucraniano surgido no contexto das hostilidades com a Rússia, mas essa minha descoberta foi em 2007, um ano depois do lançamento do álbum em que essa música estava (o Blood in Your Wells). Fiquei meio escandalizado com a História, guardei isso para mim, esqueci a existência da banda e parti para outros downloads.
Estou citando esse exemplo porque se deparar com uma banda simpática ao nazismo pode acontecer com qualquer um, e eu só descobri isso por uma conjunção realmente grande de fatores (conhecer os horrores do nazismo + conhecer a história da Segunda Guerra + conhecer a História da Ucrânia + conhecer inglês + ser capaz de associar uma coisa com a outra). Muita gente não faz essa associação, e não só na esquerda: até hoje tem muito tio reaça que escuta Pink Floyd ou Rage Against the Machine sem entender a mensagem política dessas bandas.
A realidade é que, no fim das contas, eu não tenho muito orgulho em falar ao grande público que eu gosto de rock. Primeiro porque isso já me caracteriza de cara como tiozão, uma vez que o rock enquanto ritmo musical já passou do auge há muito tempo, e a maioria dos roqueiros gosta de música velha. Segundo porque muita coisa no rock envelheceu mal demais, e não estamos falando só das músicas dos Raimundos aqui: muito roqueiro que se achava revolucionário quando jovem e era fã de um estilo de vida “easy rider” no final dos anos 60 – e naquela época isso realmente era algo vanguardista – virou um velho nostálgico de épocas zoadas falando “nos anos 60 era tudo melhor”. Pra começo de conversa nos anos 60 o combustível era praticamente gratuito nos EUA. À partir das duas crises do Petróleo, nos anos 70, o estilo de vida easy rider passou a ser caro, o que significa basicamente que aquele estilo de vida “rock’n roll” na estrada tomando vento na cara passou a ser algo cada vez mais elitizado.
Então, a realidade é que os motoqueiros dos anos 60, que “largavam tudo”, viraram os caras de família rica ou bem sucedidos dos anos 80 e 90 que usavam seu tempo livre para “largar tudo” e andar de moto por aí, replicando essa ideologia “easy rider” sem a sua carga revolucionária, só como um hobby de rico. Olhando em contexto, era até bem previsível que em 2020 essa galera passasse a sair de moto apoiando um fascista, que nem a galera dos motoclubes fez massivamente quando Bolsonaro começou a fazer motociatas pelo país.
No fim, o rock virou o estilo de música dos tiozões de Harley reacionários. Eu gosto do ritmo, mas não dá pra ter muito orgulho mesmo. Especialmente depois de umas decepções meio pesadas, estilo descobrir que o Eric Clapton é um velho racista anti vacina. Eu era fã de algumas fases da carreira dele (especialmente Cream, Blind Faith e Derek and the Dominos) do nível “quando eu recebi meu primeiro salário fui numa loja que importava CD’s encomendar álbuns”. E hoje eu não sei o que eu faço com esses álbuns (até porque CD hoje caiu totalmente em desuso, e a própria mídia já deve ter deteriorado já). Enfim, só queria registrar o gosto agridoce na boca mesmo.
Assédio no BBB
Eu gosto de reality shows. Mas não gosto pelos motivos habituais: eu acho que esse tipo de programa funciona bem como experiência sociológica, especialmente nesse período em que as redes sociais estão completamente segmentadas em bolhas. Especialmente o programa anual da Globo: um monte de gente de origens diferentes é colocado numa casa e tem simplesmente o enorme desafio de CONVIVER CIVILIZADAMENTE por três meses. Está há cada ano mais difícil.
Depois do sucesso das edições de 2020 e 2021 (que me pareceu muito mais contextual, ligado ao fenômeno da pandemia), o fato é que as edições de 2022 e 2023 foram – ainda está sendo, no caso da edição atual – muito ruins. Em 2022 foi ruim a ponto da direção desistir de investir no programa no meio do caminho, quando ficou claro que o grupinho de homens ganharia. Em 2023, a direção do programa deve estar achando que 2022 foi um ano bom.
Na primeira semana, teve um caso de relacionamento abusivo beirando a agressão física. Umas semanas depois, teve preconceito religioso + racismo. Para completar o combo de desgraça, dois participantes cometeram importunação sexual com uma participante de outro país que estava em intercâmbio. Foram corretamente expulsos do programa, apesar da condução equivocada do caso por parte da produção, que acabou expondo indevidamente a vítima.
O fato é que o BBB é uma reunião de famosos de diferentes origens. Fred, Guimê e Cara de Sapato passaram o programa todo próximos, mas vieram de três meios extremamente machistas: Fred veio do meio dos “parças” dos jogadores de futebol, um bando de novo rico ou pseudorrico que quer viver ostentando nas redes sociais. Guimê veio do funk ostentação (ele tem uma dentadura de ouro na boca), que é extremamente machista e se guia pela lógica “vou mostrar que sou um cara bem sucedido pra passar o rodo em todas as meninas da quebrada em relações extremamente desiguais que sempre flertam com o abuso”. Cara de Sapato veio do MMA, esse meio que, em sua elite, está extremamente ligado ao reacionarismo mais rasteiro. Não é uma casualidade que Jose Aldo tenha cedido a sua casa para Bolsonaro ficar nos EUA. E também não é uma casualidade que a família Gracie seja uma das apoiadoras mais entusiasmadas do bolsonarismo.
Quando esses caras se juntam, tem toda uma história prévia de machismo e reacionarismo retroalimentada por anos convivendo em ambientes tóxicos. Para piorar, agora existe uma profissão chamada “influencer”, e influencers também são ícones do novoriquismo alimentado por cultura de coach motivacional; Esses caras acreditam que estão no BBB por méritos deles, minimizando as enormes mazelas de uma sociedade que se reúne para consumir esses caras como produtos de entretenimento.
Dessa junção de fatores, saem caras que acham bacana “passar a mão” em uma garota ou mesmo usar técnica de imobilização para arrancar um beijo dela. Cenas perturbadoras, que, repito, foram punidas devidamente, apesar da condução equivocada por parte da Globo.
A Globo, por sua vez, decidiu substituir os dois eliminados por meio de uma repescagem. A direção do programa já desistiu de vez.
Credit Suisse

O UBS, maior banco suíço, comprou o Credit Suisse, segundo maior, para impedir uma falência catastrófica depois de mais um caso de “inconsistências contábeis” que culminou em corrida aos bancos. A grande questão nessa história é que o governo suíço está oferecendo US$ 280 bilhões para que o processo corra sem percalços. US$ 280 bilhões, para vocês terem ideia, é o tamanho do PIB da Finlândia. Se o “empréstimo do governo da Suíça para o UBS absorver o Credit Suisse” fosse um estado brasileiro, seria o segundo maior PIB, atrás apenas de São Paulo. Tudo isso para salvar UM BANCO. Prioridades do capitalismo
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Por hoje é só. Espero que, antes de tudo, eu esteja em melhores condições nos próximos dias.
Abraço!
Me admira ver que ninguém, nem especialistas, lembram que o BBB não é um jogo (um jogo tem regras fixas, e o BBB as muda conforme precisar). Os assediadores agora são linchados pela audiência que sempre quis que isso acontecesse justamente para saciar sua sede de guilhotinar a reputação de alguém. Mas todo mundoe squece que o BBB é um programa e que precisa alimentar seu patrocínio, da rpolêmica. Além disso, eles estão num ambiente controlado, o que já muda totalmente. Portanto, acreditamos que essas pessoas são assim na vida real, progressistas cravaram guimê e cara de sapato como potenciais estupradores, mas esqueceram que por trás disso tudo está uma emissora que sabe o que está fazendo, que tem profissionais que fazem isso por décadas e manipulam o comportamento dos participantes ali, e até o nosso, a ponto da gente esquecer que essa emissora já manipulou uma eleição presidencial. Há vários fatores , em um ambiente controlado, para fazer com que eles se comportem como a direção quer. BBB não é um jogo, não é um experimento científico. Encarar ele como isso é ser manipulado por essa emissora.
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Ah sim, boa parte disso é culpa dos críticos de tv, que ao invés de espalharem o senso crítico, apenas “babam ovo” e ficam deslumbrados com um programa
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Enquanto isso, naquele debate amador profético em 2014, até admiraçãozinha pela ReCópia já era melhor pela co-dona da análise…https://www.desfavor.com/blog/2014/01/desfavor-da-semana-deselitizado/
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Pelo menos eu não era nascido para acompanhar o “Caçador de Poupanças” Collor…
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Melhoras para ti. Espero um dia a gente poder tomar café (uma sugestão se quiser, não sei se lhe é viável, é visitar o Café dos Bombeiros na Praça da Sé. Fui lá uma vez e achei bem legal 🙂 ).
Quanto aos temas, nem acompanho o BBB, acabo no final “via proxy” (como textos como o seu, bem lúcido e que deixa claro inclusive posições sociais, como as citadas).
E da banda de rock, bem, admito que eu curtia Gary Glitter (as músicas são legais e lembrando que faz parte da coletania do Jive Bunny, na qual muitos provavelmente tiveram contato com o estilo nos anos 80), até que descobri sobre a pedofilia que ele praticava… é uma pena e não acompanhei mais sobre. Em tempos, também curto animês e mangás, e no meio também há gente com visão meio “torta”. Então é aquela coisa, o pior é quando o artista é pior que a obra. Algo difícil de engolir quando uma hora começamos a curtir sobre.
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De fato. Depois que a gente conhece histórias crueis envolvendo os artistas a gente acaba se afastando mesmo. Fica uma sensação meio agridoce e daí a gente prefere consumir outras coisas.
E o café dos bombeiros é ótimo, fica bem do lado do meu trabalho. Dia que você vier aqui pra região avisa.
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