Aparentemente, nos dois textos anteriores, eu errei o ano. Não vou corrigir meu erro (sim, foi um erro, não foi proposital) porque é simbólico: 2022 acabou, mas segue estrebuchando e assustando como se fosse um fantasma ou um zumbi. Então, bem vindos a 2023 é que consigamos logo nos livrar dos ecos de 2022. Inclusive dos emocionais.

OVNIs

Começaram a aparecer casos de OVNIs sendo derrubados por EUA, Canadá e China. Por coincidência, depois da derrubada de um balão chinês em solo americano, sob acusação de espionagem.

Tem um lado bom nessa história: talvez isso desmoralize de vez os teóricos da conspiração de UFOs (basicamente UFO é OVNI em inglês). Agora, se aplicarmos uma Navalha de Occam na situação, é muito mais provável que seja uma guerra fria entre equipamentos espiões de EUA e China do que vida alienígena chegando ao planeta Terra. Mesmo porque, até onde se sabe, nenhum desses equipamentos tem tecnologias desconhecidas ou coisa do tipo.

Até porque é preciso ressaltar o óbvio: estatisticamente, o avistamento de OVNIs deveria ter aumentado drasticamente com o advento dos smartphones. Mas o que se percebeu foi exatamente o contrário: por muito tempo, nem se falou a sério em OVNIs fora dos círculos mais malucos de teorias da conspiração. Agora o fenômeno está voltando: provável que seja porque a galera das teorias da conspiração está com mais tempo livre agora que o Trump saiu do poder nos EUA – e o Bolsonaro aqui no Brasil, o que indica que em breve receberemos muitas “visitas de OVNIs” aqui.

Explodiram um Trem

Um trem descarrilou na divisa entre os estados da Pensilvânia e de Ohio, nos EUA. Em dez dos cinquenta vagões do trem, havia uma substância cancerígena usada na confecção de alguns tipos de plástico, o cloreto de vinila. As autoridades locais resolveram que era uma boa ideia QUEIMAR O PRODUTO, o que causou uma enorme contaminação em escala local. Existem muitos registros de contaminação entre animais e de mortalidade generalizada em rios, ainda que seja necessário tomar cuidado com exageros típicos de… teóricos da conspiração. Se a situação se agravar, deve sair mais coisa, especialmente na mídia de Pittsburgh, que fica a cerca de 80 Km do local do acidente.

Milicos Enquadrados

O PT vai apresentar essa semana uma PEC para diminuir o poder dos militares, e, ao contrário do que os pessimistas de plantão estão falando, acho que isso passa com bastante facilidade. Inclusive com apoio efusivo do Arthur Lira. O motivo é simples demais: cada cargo a menos na mão dos militares é um cargo a mais que pode parar na mão do centrão. Enquadrar os militares e tirar o poder deles sobre assuntos civis é ótimo para os “políticos profissionais”, não só como elemento de normalização da política, mas também porque são um concorrente a menos. E, como todos viram durante o governo Bolsonaro, um concorrente que é capaz de destruir todos os outros.

Então, no fim, só o lobby dos deputados e senadores militares, ligados a Bolsonaro, deve ser contra esse projeto. Os bolsonaristas vão encher o saco nas redes sociais, vão levantar hashtag, vão convocar manifestações, mas é aquilo que a gente já conhece e que pra falar a verdade já está dando sono pela insistência.

Turquia e Síria

Já são 35 mil os mortos no terremoto do dia 06 de fevereiro. E, nessas alturas, os relatos de sobreviventes resgatados são cada vez mais raros.

Como era de se esperar desse bando de gente ruim associada à extrema direita, já começaram com conspirações do tipo “esse terremoto foi feito pela iniciativa HAARP dos EUA porque a Turquia não estava se enquadrando às iniciativas da OTAN contra a Rússia”. A gente já sabia que eles não tinham nenhum escrúpulo, mas não deixa de surpreender a capacidade dessas pessoas em não respeitar absolutamente nada.

Yanomamis

Povos indígenas são uma identidade. A pessoa nasce indígena, morre indígena, tem uma conexão intrínseca com seu território, uma forma de viver e de enxergar o mundo baseada numa relação profunda e sustentável com a natureza. O indígena se enxerga como parte da natureza.

O garimpeiro não é uma identidade. Garimpeiro é um profissão, e a retórica do garimpo é, em alguma medida, uma retórica interiorana e extrativista da retórica de coach ou de day trader que promete enriquecimento fácil: enquanto nas grandes cidades esses consultores prometem ganhos expressivos no mercado de ações que quase nunca se concretizam, no interior a retórica do garimpo promete… ouro. E daí a natureza se torna inimiga do “sonho dourado”, e os indígenas também são. Para essa turma, os indígenas precisam ser eliminados e a natureza precisa ser derrubada.

Quando um governo apoia essa lógica (e a retórica do Bolsonaro sobre o tema está num livro publicado pela Biblioteca do Exército na década de 90 que nega a existência dos Yanomamis), está aberto o caminho para um genocídio.

Garimpeiro pode sair da reserva que ele invadiu e trabalhar em outra coisa. Inclusive preservando a floresta. Mas a realidade é que durante o governo Bolsonaro esse discurso “febre do ouro” formou uma legião de criminosos dispostos a fazer qualquer coisa em nome do sonho de ficar rico, que quase nunca se concretiza.

Santo André

O Santo André é uma coisa impressionante: monta um time por ano, nunca tem dinheiro, sempre joga muito mal, mas de algum jeito consegue, quase sempre, os pontos necessários para não ser rebaixado no Paulistão. Nesse ano de 2023 isso aconteceu de novo. Não me perguntem como, apenas aconteceu.

Cometa Verde

Até dia 15, o céu do hemisfério norte vai ser presenteado por um cometa de luz verde que vai voltar a nos visitar só daqui a 50 mil anos – o cometa C/2022 E3.

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É isso. Até a próxima!