Vou começar aqui o esforço de escrever uma espécie de diário público, como se eu estivesse em 2005. Praticamente uma coluna de frases curtas. É um dos testes que farei. Se der certo, é capaz que vire uma newsletter quando eu aprender a usar uma ferramenta decente de newsletter. No fundo, acho que eu só preciso mesmo de um espaço menos ingrato que o Twitter pra escrever. Lá, as coisas se perdem e tudo acaba afogado no meio de um ambiente em que as pessoas querem cada vez mais aparecer.
Livraria Cultura
Ao contrário de muitos que comentaram, não tenho nenhum vínculo afetivo com a Livraria Cultura, e olha que eu era frequentador assíduo do Conjunto Nacional até 2015. Os preços lá eram sempre mais caros que em outros lugares e eu achava o ambiente meio pedante, como se fosse algum status frequentar a livraria. Só comprava livros lá porque algumas coisas eu só achava por lá mesmo, mas a única diferença agora que faliu é que os funcionários não receberão nada oficialmente (o que é obviamente uma merda)
Influenciadores
Eu acho meio elitista chamar influenciadores pra Brasília em cima da hora por um encontro com o Lula e a Janja. A passagem de avião está uns 4 mil reais. Fica muito inviável pra personalidades classe C que nem eu que não ganham dinheiro pra usar as redes (em tempo, eu não fui convidado)
Fico feliz de verdade em ver gente que eu conheço e admiro nessa conversa aí, sendo reconhecido por seu trabalho. É legal ver o sucesso de quem você gosta. Única coisa que me entristece muito (e isso não tem nada a ver com a reunião de terça-feira) é quando o sucesso muda as pessoas: aquela pessoa que era legal e fazia questão de puxar seu saco todas as vezes que falava com você e de repente nem lembra mais que você existe porque está fazendo sucesso, tendo público, lançando livro, indo em ambientes de grande audiência. Isso me deixa mal, mas é só um desabafo besta.
Turquia
Eu vejo os jornalistas conversando sobre o terremoto da Turquia e só penso “pelo amor de Deus, chamem um geólogo”. Um monte de platitudes estilo “se sabem que é uma área perigosa por que não tiram as pessoas de lá?” Foi um evento terrível numa área desguarnecida pela pobreza e pela guerra, com agravantes de que foi de madrugada (todo mundo dormindo) e no meio da pior onda de frio do inverno atual. É caso de se entristecer, chorar e ajudar, se for possível. Mas sim, a resposta inicial turca demorou. E a resposta na Síria a gente nem sabe direito como está sendo.
Elon Musk quer transformar o Twitter numa rede elitizada e transformar isso no padrão das redes sociais. O que é profundamente lamentável e joga no lixo o esforço que idiotas como eu tiveram em produzir conteúdo naquela rede social, que já foi muito democrática mas hoje é a ilha de plástico do Pacífico das redes sociais. Só vai ter notoriedade quem pagar pela desgraça do selo azul. Torço pro bosta mole do herdeiro de minas beneficiado pelo apartheid conseguir ir pra Marte. E eventualmente receber a visita de um asteroide no meio do caminho. Namastê!
Banco Central
Meu alerta em relação a toda essa questão envolvendo o governo Lula e o Banco Central é de base institucional: normalmente, os anseios de independência de organizações estatais não servem a objetivos técnicos, mas ao corporativismo de grupos específicos que ou fazem parte da instituição ou exercem lobby na instituição. Isso aconteceu, por exemplo, com o Ministério Público Federal, que fez uma enorme campanha por independência completa durante a Lava Jato, especialmente quando o Procurador Geral da República era Rodrigo Janot. O resultado? A politização do órgão fez com que as indicações passassem a ser políticas e o último PGR, Augusto Aras, foi praticamente um assessor de Bolsonaro no Ministério Público.
A mesma coisa tende a ocorrer com o Banco Central. O fato de que o presidente do BACEN hoje foi indicado pelo Bolsonaro – e é alinhado ideologicamente com ele – conduz a uma inevitável politização do órgão. Se politizar o Ministério Público tem consequências nefastas no combate à corrupção, politizar o Banco Central tem consequências horrendas em relação à política monetária. E, no fim, as decisões se tornam menos técnicas do que quando o Banco Central não era independente. Porque o Banco Central vai passar dois anos emanando as diretrizes do governo anterior e os dois anos seguintes emanando as diretrizes do novo governo.
E é isso: se existia a chance de uma indicação técnica no Banco Central, ela acabou. Lula vai ser obrigado a indicar um “Augusto Aras do Banco Central” para implementar em velocidade apressada sua política monetária nos anos finais do governo. Apressada porque política econômica não tem efeito imediato, e para ter efeito antes da eleição a guinada vai ter que ser mais radical. Não importando a ideologia de quem esteja no poder, essa dinâmica de comando do Banco Central é a receita do desastre econômico.
Lula nos EUA
O Lula não só é convidado de honra do Biden, como vai anunciar um monte de coisas interessantes: os EUA vão ingressar no Fundo Amazônia e vão anunciar parcerias com o Brasil em várias áreas. Tem negociação até para formar um grupo de países disposto a negociar a paz entre Rússia e Ucrânia.
É muito interessante o movimento do Lula na política externa: em novembro, reinseriu o Brasil na discussão internacional na COP 27. Em janeiro, reafirmou a posição de liderança agregadora na América Latina ao se encontrar com vários chefes de Estado na Argentina. Em fevereiro, basicamente reuniu as demandas da América Latina e está conversando de igual para igual com os EUA.
Cadê a Luísa Mell?
A Michelle Bolsonaro tirou e matou as carpas do laguinho do Palácio de Alvorada pra pegar as moedas. É uma mesquinharia que beira o grotesco. Mas sempre dá para piorar: agora, também sabemos que três emas da Granja do Torto morreram porque o governo cortou a verba da alimentação dos animais e começou a dar restos de comida pras emas. O Brasil foi governado por quatro anos por uns vilões de Sessão da Tarde, aquela galera que aparecia nos filmes “vamos destruir o parquinho das crianças para construir um lixão”. Só que na vida real isso custou milhares de vidas.
Futebol
Queria dizer que sigo passando raiva com o Santo André, que montou, como é tradição, um time fedorento de ruim. Só não deve ser rebaixado no Paulistão porque por algum motivo difícil de explicar o time consegue uns pontos aqui e ali.
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Acho que por hoje está bom. Volto em breve.
Boa, Leo! Acho que esse blog vai ser uma ótima opção para fugir cada vez mais do twitter, que tende a ser mais tóxico com as políticas de remuneração do melon usk.
Quanto a independência do banco central: de fato campos neto não é independente e vai seguir as diretrizes bolsonaristas. Porém, duvido do capital político do novo governo em bater de frente com as ações do BANCEN, principalmente pq elas privilegiam uma elite rentista que está pouco preocupada com o crescimento do país. Ao meu ver, o governo tem que insistir na falta de compromisso de campos neto com o país, deixar claro que ele é um bolsonarista e como todo terrorista, digo, bolsonarista, quer o caos. Atacar as políticas do banco central e não o presidente dele vai encontrar vários defensores nas mídias tradicionais e gastar do pouco capital político que o governo tem.
Lembremos que o governo precisa passar urgentemente uma reforma fiscal e vai precisar de todo capital político que tiver.
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Acho que minha aliadíssima quase antipolítica também vai perceber sobre…até deixar de ter qualquer perfil twitteiro.
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Mainstream linkedista no Telegram e Spotify tá bem isso mesmo…
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Saudades em ler seus textos, Rossatto!
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Adorei o formato Léo!
E mesmo que não tenha a newsletter tem rss e ele entrega certinho sempre que você lançar alguma coisa. (Por aqui tô aprendendo e voltando a usar tecnologias jurássicas com o fim do twitter e a derrocada, de uma forma geral, das redes sociais)
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Saudades barra lateral do Blogger, quando conectavam meu Webnode de futebol Trophy Manager…
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