Talvez, no calor do momento, as pessoas tenham perdido um pouco da noção da proximidade entre Roberto Jefferson e Jair Bolsonaro. Tem Ministro do Bolsonaro espalhando foto de 2003 do Lula com o Roberto Jefferson até.
Mas o fato é que o relacionamento entre Bolsonaro e Roberto Jefferson é um relacionamento de décadas que sempre foi muito próximo, a ponto de misturar questões pessoais e políticas. Vamos aos exemplos:
Assim que fez 18 anos, Eduardo Bolsonaro conseguiu um cargo comissionado na liderança do PTB na Câmara dos Deputados. Ficou quase um ano e meio ganhando R$ 10 mil por mês e nunca apareceu lá. Quem conseguiu o cargo pra ele? Roberto Jefferson

Inclusive isso aconteceu em 2003: Bolsonaro foi filiado ao PTB de Roberto Jefferson entre 2003 e 2005. Ironicamente, nessa época o partido era base do governo Lula (e é esse o “argumento” que Bolsonaro está usando nos grupos fechados pra tentar associar Roberto Jefferson a Lula). Mas a piada melhora: depois do Mensalão, o Bolsonaro saiu do PTB. Chegou a se filiar ao PFL por um ano, mas foi para o PP em 2006 PARA FAZER PARTE DA BASE DO GOVERNO. Qual governo? O do Lula. Sob essa lógica, o próprio Bolsonaro é tão “ligado ao Lula” quanto o Roberto Jefferson.
Apesar das relações políticas entre ambos esfriarem por um tempo, as relações pessoais sempre foram amistosas. Tanto que a aproximação foi natural quando ambos se viram novamente do mesmo lado (contra a Dilma). À partir daí Roberto Jefferson sempre esteve próximo a Bolsonaro. Tanto isso é verdade que Roberto Jefferson se sentiu à vontade para radicalizar. Nos últimos quatro anos fez apologia de armas, insultou Ministros do STF e acabou preso. A proximidade era tanta que ele contava com indulto do Bolsonaro, igual Daniel Silveira.

Se tudo isso ainda parece meio distante, basta lembrar que HÁ MENOS DE UM MÊS Bolsonaro e Roberto Jefferson bolariam juntos um estratagema para desestabilizar Lula: o Padre Kelmon e sua inusitada presença nos debates.

Para quem pensa que foi algo “simples”, não se enganem: foi um planejamento de longo prazo de ambos para interferir no pleito eleitoral.
O plano original era que o candidato fosse o próprio Roberto Jefferson, mas ele teve a candidatura barrada pelo TSE:

No entanto, esse plano do Roberto Jefferson era muito mais antigo. Ele descaracterizou completamente o PTB para transformar o partido num bolsonarismo radical. Tomou diretórios estaduais, expulsou nomes históricos do partido e colocou no lugar deles bolsonaristas radicais. Resultado: dos dez deputados originais, o PTB passou a ter só três deputados, sendo que dois deles tinham sido eleitos do PSL de Bolsonaro em 2018. Por que isso é importante? Porque com os dois senadores que o partido também tinha o PTB bateu o número mínimo pra ir nos debates.
Por que eu expliquei tudo isso? Para vocês entenderem o tamanho do esforço que o Roberto Jefferson fez com o único propósito de ser linha auxiliar do Bolsonaro nos debates e no horário eleitoral, desgastando a candidatura do Lula.
Tudo, obviamente, combinado com Bolsonaro.

Corta para o segundo turno.
Os bolsonaristas, na iminência da derrota, estão tentando emplacar a narrativa de que o TSE é parcial e de que eles “estão sendo censurados”. Já teve vídeo de decisão judicial fake do André Valadão, Jovem Pan fazendo drama no ar, tudo crime eleitoral.
Além do objetivo pós eleitoral de contestar os resultados, havia um objetivo imediato: consolidar a narrativa de que bolsonaristas eram “defensores da liberdade” e o TSE (assim como o PT) era “censurador”, “contra a liberdade”.
Para isso eles tinham um objetivo: cavar uma prisão.
Não faltaram tentativas.
O que o próprio André Valadão fez ao inventar uma decisão judicial foi um crime. Mas o TSE tem tido que andar na corda bamba nesses últimos tempos, espremido entre o discurso de inação e o discurso de “destruidor das liberdades”.
Politizaram o TSE. Nesse momento, surgiu o plano:
Roberto Jefferson, em prisão domiciliar e proibido de acessar redes sociais, resolveu ofender a Ministra do STF Carmen Lúcia via… redes sociais. Era uma violação tão flagrante da prisão domiciliar que o STF não poderia ignorar. E, de fato, o STF não ignorou. Mas no inquérito já existiam suspeitas de que Roberto Jefferson tinha um arsenal de armas em casa, o que é proibido para quem está em prisão domiciliar. O STF queria resolver isso depois da eleição, mas foi alertado que Roberto Jefferson faria mais ataques durante a semana final.
Assim que a PF chegou na casa de Roberto Jefferson, as suspeitas sobre o arsenal foram confirmadas: eles foram recebidos com 20 tiros de fuzil e três granadas.
E aí está o grande turning point: eles não responderam (até porque estavam feridos)
Se respondessem, mudava tudo. Mudava tudo porque quem ia aparecer lá antes de todo mundo seria o reforço da PF do Rio. E a PF do Rio está completamente aparelhada pelo Bolsonaro. Eles não se incomodariam de rifar uma equipe de policiais federais para ajudar Bolsonaro. Eles agiram quase como fãs do Roberto Jefferson depois da prisão:

Mais que isso: eles queriam mesmo acabar com essa equipe da PF, que foi designada especificamente pelo Alexandre de Moraes na época do inquérito das fake news para que as informações não vazassem para o restante da corporação, aparelhada pelo Bolsonaro.

Além da PF do Rio, o próprio Ministro da Justiça ajudaria a corroborar a narrativa de que “Roberto Jefferson era um defensor da liberdade que foi abordado a tiros pela PF do Alexandre de Moraes ATÉ ONDE A CENSURA PODE CHEGAR!!!”

No final, o plano falhou. No futuro, provavelmente veremos o 23 de outubro como o Riocentro do Bolsonaro.
Mas é preciso dizer: Bolsonaro e Roberto Jefferson sempre estiveram juntos. Planejaram uma campanha eleitoral juntos, cavaram essa prisão e provavelmente planejaram a reação, incluídos aí os tiros.
O fato de que a reação falhou miseravelmente, mostrando que Roberto Jefferson é um terrorista disposto a atacar forças policiais, está fazendo com que Bolsonaro largue a mão do Roberto Jefferson. Mas isso é puro desespero de quem está vendo a possibilidade de reeleição como algo cada vez mais distante.
Amigos, não se iludam com o Roberto Jeferson e Bolsonaro. Eles estão juntos por aí há mais de 30 anos. Fazer a gente crer que essa comédia pastelão do dia 23/10/22 não foi um grande conluio, é acreditar que Bolsonaro é liberal e democrata. Vejamos o desenrolar dos fatos.
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