Bolsonaro Enganou os Aposentados e Fraudou a Eleição

A grande pergunta depois da votação do primeiro turno foi: por que os institutos de pesquisa erraram?

Duas linhas se destacavam nas respostas. A primeira era que os institutos cometeram erros de amostragem motivados pelo apagão estatístico da falta do Censo e mudança da PNAD Contínua, que passou a ser feita parcialmente por telefone em julho de 2021.

Essa linha, no entanto, tinha alguns pontos fracos. O primeiro deles: as pesquisas foram bem em relação a todos os candidatos, exceto um: Jair Bolsonaro. Chegaram a ser feitas perguntas do estilo “existem mais evangélicos do que o estimado no Brasil?” Era uma resposta difícil, de toda forma.

Outras explicações mais heterodoxas apareceram, como a de que “bolsonaristas não estavam respondendo as pesquisas”. Explicações pouco usuais aparecem quando as explicações são difíceis.

Além disso, é muito difícil pensar num erro metodológico/amostral que atinja um candidato só.

A segunda linha de explicação argumentava que existiu uma migração de votos de última hora para o Bolsonaro. Essa linha parecia ser mais plausível e já tinha ocorrido no primeiro turno de 2018.

Dentro dessa linha, o principal argumento era a máquina de fake news bolsonarista.

Mas esse argumento tinha um problema: com o tempo, os eleitores ficaram menos vulneráveis às fake news. Isso quer dizer que não fazia muito sentido que as fake news fossem responsáveis por todo o crescimento de 6% do Bolsonaro entre sábado e domingo, padrão similar ao de 2018. Por mais que as fake news explicassem parte do fenômeno (e na véspera da eleição as mentiras sobre Marcola apoiando Lula e sobre “Lula satanista explodiram”), não dariam conta de todo o quebra-cabeça.

Isso gerou um temor imenso na esquerda: qual era a “arma secreta” do Bolsonaro? O que tinha permitido um acréscimo tão rápido nos votos bolsonaristas? Isso poderia se repetir no segundo turno? Ninguém tinha respostas fáceis para essas perguntas, muito porque elas não existem.

Então começaram a surgir algumas explicações incrementais: inúmeras igrejas que ficaram em vigília entre sábado e domingo e foram direto para a votação de van, paramentados com os “uniformes” do bolsonarismo. Seções em que havia atraso proposital. Coação de inúmeros empresários para seus funcionários votassem em Bolsonaro. Mas nada que explicasse MESMO porque a coisa mudou.

Só que uma coisa tinha chamado a atenção de quem trabalhou na eleição: o aumento da presença entre maiores de 70 anos, que não precisam votar.

Saíram as estatísticas, é esse fenômeno se confirmou: um milhão de idosos a mais votaram esse ano, em contraste com as demais idades:

Votação por idade

Qual a explicação?

Depois de muita pesquisa e da lembrança de alguns bons jornalistas, veio à tona uma portaria do INSS publicada em fevereiro: à partir desse ano, o comprovante de votação serviria como prova de vida para o INSS, evitando que o aposentado tenha que ir ao banco. Além do comprovante de votação, outras coisas serviriam como prova de vida: vacinação contra a COVID, por exemplo.

Isso era um mecanismo “esperto”, mas poderia ser contra-argumentado como algo que “vai favorecer a todos”. Já era uma interferência clara na eleição, porém.

Mas as coisas iam piorar muito: na última semana antes da eleição uma mensagem disse que SÓ O VOTO NO 22 serviria como prova de vida.

Sim, uma mensagem foi reproduzida nos meios oficiais da campanha e depois mandada para grande parte dos aposentados do país dizendo que 1) Eles tinham que votar e 2) esse voto tinha que ser no 22… Isso tudo PARA CONTINUAREM RECEBENDO A APOSENTADORIA. Óbvio que isso teve muito impacto. Está tudo nessa reportagem do Valor.

O vídeo em questão, que a Ministra Carmen Lúcia mandou remover depois do primeiro turno, (dia 06/10, para ser mais exato) foi feito pelas redes oficiais da campanha do Bolsonaro (por isso a capilaridade) e induzia o eleitor a acreditar que a prova de vida só valia com o voto em Bolsonaro.

Isso é obviamente fraude eleitoral e uso da máquina, junto com orçamento secreto e com outros inúmeros mecanismos que Bolsonaro usou para subverter o processo eleitoral. Com tudo isso, é até compreensível a frustração do Bolsonaro na noite do dia 2 por não ter vencido no 1º turno: ele realmente tinha criado mecanismos poderosos de fraude eleitoral.

Mas a questão é que essa fraude cai EXATAMENTE na segunda explicação possível para o “erro” das pesquisas. Nenhuma pesquisa eleitoral no mundo é ajustada para lidar com fraudes eleitorais. Esse voto do aposentado no Bolsonaro nunca vai entrar para as respostas das pesquisas, porque o aposentado acha que está fazendo um mero recadastramento do INSS na urna. É bom lembrar que essas pessoas não são nativos digitais e a maioria delas não tem familiaridade com equipamentos eletrônicos.

Ainda assim, ele é importante: além do um milhão de aposentados a mais que votaram, muitos eleitores acima de 70 anos podem ter mudado de voto por conta dessa fraude. Só essa fraude pode ter tido papel decisivo para que a eleição não acabasse no primeiro turno.

E sim, dá pra quantificar isso: se Lula tivesse virado mais 1.855.000 votos de outros candidatos, ganhava no 1º turno. É plausível pensar que essa manobra do Bolsonaro tenha virado parte desses 1.855.000 votos. E o comparecimento desse “um milhão a mais” mostra a dimensão disso.

Somando isso com todas as demais manobras fraudulentas que Bolsonaro cometeu, é bem prudente dizer que em uma situação normal as pesquisas estariam mais próximas da realidade das urnas. Independente do ajuste da metodologia, os resultados não variam muito entre os institutos perto da eleição

As pesquisas detectaram Lula, Simone e Ciro ligeiramente melhores e Bolsonaro muito pior. É exatamente a característica de movimentos em massa… ou de uma fraude. Como não houve um “fato novo” que incorresse num aumento de popularidade absurdo do Bolsonaro, a fraude soa plausível.

E sim, o resto do fenômeno ainda pode ser explicado por fake news, por coação de bolsonaristas e coisas afins. Mas a fraude está aí, e ainda serve para fortalecer o discurso bolsonarista de que “institutos de pesquisa estão comprados”. Inclusive o CADE quer “investigar institutos de pesquisa”. O governo Bolsonaro tem como característica o aparelhamento das instituições (o CADE é comandado por um indicado do Ciro Nogueira)

Está cada vez mais claro bolsonarismo promoveu um ataque em várias frentes à democracia. E é preciso o TSE e os partidos se prevenirem para que esse ataque não se repita no próximo dia 30.

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