As Lições da França e da Eslovênia para o Brasil

Neste domingo, 24 de abril, tivemos duas eleições presidenciais na Europa, na França e na Eslovênia. Ambas com derrota da extrema direita, o que pode nos dar lições de como vencer a extrema direita na eleição de outubro.

Primeiro vamos falar da França.

Tivemos Macron x Marine Le Pen pela segunda vez seguida. No entanto, algumas coisas chamam a atenção

1) Na eleição atual Mácron é incumbente
2) Na eleição atual o comparecimento foi menor que no segundo turno de 2017 (74% em 2017 x 71% em 2022)
3) A vantagem de Macron diminuiu de 33 para 19 pontos percentuais em comparação com 2017

Também rolaram outros fatores: Marine Le Pen tentou amenizar seu discurso, o que fez surgir uma opção de extrema direita ainda mais radical que ela (Zemmour). Macron, por sua vez, já estava desgastado por um governo que tomou atitudes impopulares e tem fama de “pró-ricos”.

No entanto, a participação menor ajudou a aproximar Le Pen de Mácron. Le Pen ganhou 2,6 milhões de votos entre 2017 e 2022 (foi de 10,6 pra 13,2 milhões). Macron perdeu 2 milhões de votos (de 20,7 milhões para 18,7 milhões)

Eleição da França em 2017 – Segundo turno (Macron em amarelo e Le Pen em Azul)
Eleição da França em 2022 – Segundo turno (Macron em amarelo e Le Pen em Azul)

Então na verdade a França é mais um recado de como um governo pró elite pode ser decisivo pra diminuir a participação política e tornar a extrema direita um player eleitoral viável.

Esses três por cento de eleitores que se recusaram a votar provavelmente votariam em Macron.

Agora, vamos para a Eslovênia.

A Eslovénia estava sob governo do primeiro ministro Janez Jansa desde 2020. Jansa era a versão eslovena de Viktor Orban ou Andrzej Duda. Um típico líder de extrema direita que tinha sido eleito na esteira do crescimento da antipolítica no país. E tinha tomado o poder quando os democratas bateram cabeça e não conseguiram manter uma governabilidade mínima.

É necessário dizer que a Eslovênia é um país parlamentarista. Então, na prática, Jansa só montou governo porque seu partido conseguiu se aliar com outras forças de direita, formando um governo de coalizão conservador. Um dos partidos mais importantes era o ultradireitista SNS.

Você não precisa decorar os nomes dos partidos na Eslovênia, pelo amor de Deus. Até porque o partido mais votado nessa na eleição de hoje na Eslovênia nem existia na última eleição parlamentar. Mas Jansa perdeu, e perdeu de forma folgada até. Contra todos os prognósticos.

Eleição eslovena, 2022: centro esquerda bate o partido de Janez Jansa

Em 2018, a centro esquerda tinha formado uma coalizão precária com um monte de partidos menores. A cláusula de barreira por lá é de 4%. Essa coalizão se desfez em 2020, o que possibilitou a subida de Jansa ao poder. Agora, a coalizão de Jansa está reduzida a 35 das 90 cadeiras.

Beleza, mas o que fez o partido de Jansa perder? De novo, não se preocupem com nome de partido, e sim com o contexto maior. Nesse caso, três palavras explicam:

Unexpected high turnout

Sim, a participação nas eleições eslovenas foi muito surpreendente.

Boca de urna na Eslovênia

Muito surpreendente nível “nem a galera do partido que ganhou a eleição estava acreditando que ganhou a eleição por uma margem tão grande”, como mostra essa reportagem.

Para vocês terem ideia: em 2018, a participação nas eleições eslovenas foi de 34,4% da população. Em 2022, a participação foi de 49,3%. Quinze pontos percentuais a mais. A cada sete eleitores que foram votar em 2018, dez votaram em 2022.

Qual é a lição de tudo isso para nós? Quanto mais gente votando, mais fraca a extrema direita fica. Isso é verdade na França e na Eslovênia, mas também é verdade no Brasil. Quem mostra isso são as eleições de 2020: abstenção recorde e direita vencedora. A esquerda nunca teve tão poucas prefeituras como após a eleição de 2020.

Então, para além de incentivar os jovens a tirar título de eleitor, devemos incentivar todos a votar. Facilitar o voto de todo mundo. Incluir o máximo de pessoas no processo, fazer as pessoas tirarem segunda via de título eleitoral, ajudar de todas as maneiras.

Não se enganem: mais votos significam que o ódio tem menos influência. Quanto mais gente votando, menor a chance a maioria compactuar com os absurdos de um governo de extrema direita. Por mais que eles estejam no poder. Por mais que eles pareçam poderosos.

Participação é a chave para vencer a extrema direita.

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Um comentário sobre “As Lições da França e da Eslovênia para o Brasil

  1. Obrigada Leonardo
    Pensava nas armas, em como combater e passar pelas eleições de 2022 de forma que o povo brasileiro seja o grande vencedor e beneficiado.
    Não podemos esmorecer a frente desta batalha. Todos votando, você diz.
    Precisamos agora, descobrir, como fazer o povo votar a seu favor.

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