Bolsonaro e a “Imoralidade” Como Ativo Político

Bolsonaro brigou com a Anitta.

Story do Bolsonaro mostrando que a Anitta bloqueou ele no Twitter

Mas tem um aspecto dessa “briga” entre Bolsonaro e Anitta que está nos subterrâneos, mas acaba sendo muito forte entre o público mais conservador, em especial o evangélico: Bolsonaro sabe que os pastores vendem a Anitta como símbolo de imoralidade para suas comunidades.

Mais do que isso: o sucesso da Anitta seria uma “prova” de que há toda uma “conspiração pela imoralidade” que tem como objetivo arrancar Bolsonaro da presidência e colocar um “governo satânico” lá, obviamente encarnado na pessoa do Lula.

Essa conspiração cultural tem na Globo uma de suas cabeças. Entre evangélicos mais conservadores a Globo sempre foi “promotora de imoralidade”, e exemplos disso são tão diversos quando “cenas de sexo na novela” e “Linn da Quebrada no BBB”. Sim, eles chamam pelo termo pejorativo.

Tudo serve de “prova” de que na verdade o Brasil estava indo em um caminho de imoralidade, com “os gays dominando tudo”, e Bolsonaro é o único que “tem coragem e impede a gente de ter que ver gay se beijando na rua”.

Nesse contexto, o antagonismo com a Anitta ajuda o Bolsonaro.

Ele exibe o block da Anitta como um troféu ao mesmo tempo em que finge não se importar porque esse block serve de “prova” de que Bolsonaro é o inimigo das “forças do mal”, as forças que promovem a grande conspiração pela imoralidade e querem “transformar o Brasil em uma Sodoma”

Esse discurso é absurdo? Sim, para quem não está inserido em um contexto específico é muito absurdo. Mas causa algum impacto para o evangélico de igrejas conservadoras que é atingido o tempo todo por esse tipo de discurso. E esse público é a prioridade de Bolsonaro desde setembro, porque só sobrou o discurso moral. E com eles funciona.

E, só frisando: o “evangélico de igrejas conservadoras” não é necessariamente conservador. Nem com essa retórica Bolsonaro consegue ter a mesma popularidade nas igrejas que tinha em 2018. Justamente por causa disso Bolsonaro está fazendo tanto esforço pra recuperar esses votos.

É porque são os votos que Bolsonaro julga possíveis. Com a economia em frangalhos e após um governo catastrófico o pânico moral entre os grupos vulneráveis ao pânico moral é o que resta. Além disso, uso da máquina, tentativas de parecer descolado e demonstrar poder serão a tônica.

Mas o pânico moral tem outro efeito: desmobilização.

Bolsonaro só tem chance de ganhar se um monte de gente que está declarando voto no Lula não for votar. O pânico moral não serve só pra virar voto pro Bolsonaro. Serve pra fazer com que o eleitor do Lula se sinta desincentivado a votar.

É por isso que eles insistem. Bolsonaro sabe que o teto dele é baixo. Daí quer provocar pânico dizendo que o Brasil vai virar uma Sodoma sob Lula. Por isso tantas manifestações de pastores “cristão não pode votar em Lula”. Porque se tiver cristão votando no Lula Bolsonaro perde.

A campanha do Lula precisa entender isso pra ontem. E todo mundo que quiser derrotar Bolsonaro também. Tem que conquistar essa parcela dos cristãos insatisfeita com Bolsonaro, porque a vida piorou sob Bolsonaro, mas também porque MUITO cristão perdeu parentes na pandemia.

E, para isso, o primeiro passo é buscar formas de responder a esse discurso de pânico moral. Não como os políticos fazem costumeiramente, com concessões e com umas visitas meio hipócritas em igrejas, mas articulando de fato, monitorando redes e trazendo respostas rápidas e contundentes, que ataquem Bolsonaro de volta.

Porque, para cada argumento de Bolsonaro insuflando pânico moral, ele tem um calcanhar de Aquiles. Defesa é diferente de contra-ataque. Até hoje o pânico moral foi respondido com concessões e defesas. Nunca deu certo. Eles só ganharam terreno. Por isso precisa contra-atacar.

E contra-atacar é relativamente simples: exponham a imoralidade do Bolsonaro, dos filhos, de gente do círculo de apoio próximo ao presidente. Expõe as declarações absurdas, o desprezo dele à vida, as inúmeras vezes em que ele menosprezou a vida das pessoas. Exponham também as coisas que incomodam especificamente aos evangélicos, como as Bíblias feitas com foto do pastor que até outro dia era Ministro da Educação.

Bolsonaro é um anticristo, um falso profeta, e as atitudes dele provam isso. É assim que tem que ser pontuado todos os dias em conversas com evangélicos de diversas denominações.

Só assim ele será vencido.

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2 comentários sobre “Bolsonaro e a “Imoralidade” Como Ativo Político

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