Não sou o maior pesquisador sobre nazismo e nem sobre neonazismo, mas eu gosto de investigar lógicas condutoras e consequências dos movimentos. O nazismo tem como lógica fundadora a desigualdade entre povos (existem povos superiores e inferiores) e a legitimidade de supressão de “povos inferiores” por “povos superiores”. Tudo numa exacerbação extrema do nacionalismo, e, mais do que isso, do etnicismo, no sentido de que etnicamente existem povos “melhores” que os outros. E isso em um contexto de capitalismo industrial fortemente nacionalizado.
Nesse contexto, o nazismo se caracterizou por uma forte aliança entre o governo autoritário e os principais empresários da Alemanha, com consequências internas que conhecemos bem aqui no Brasil por serem as mesmas da época da ditadura: arrocho salarial e perseguições a sindicatos.
A Alemanha antes da I Guerra era uma das sociedades capitalistas industriais mais avançadas do mundo, o que também fazia com que a ciência alemã fosse uma das mais avançadas do mundo. E a filosofia. E as ciências humanas em geral.
Num contexto de neocolonialismo e ressentimento da I Guerra, uma das nações, que, do ponto de vista ocidental, era uma mais avançadas do mundo industrial, científica e filosoficamente, se entrega a um regime autoritário que acha que alguns povos são melhores que os outros.
A questão do nazismo é que quando você junta capitalismo fordista com uma ideologia extremista que acha alguns povos naturalmente superiores a outros, duas coisas aparecem:
1) Você julga que pode eliminar os “povos inferiores”
2) Você cria uma estrutura industrial pra isso.
Com a junção dessas coisas todas, temos algo que nunca vai teve paralelo em regime nenhum no mundo, em lugar nenhum: um complexo industrial construído com o objetivo declarado de eliminar “povos inferiores” e “pesquisas científicas” usando esses “povos inferiores” como cobaias
Campos de extermínio eram plantas industriais feitas com o propósito de eliminar pessoas apenas porque os nazistas as julgavam “inferiores”. As pessoas eram “matérias primas” e partes do corpo das pessoas mortas, como os cabelos, eram usadas como insumos industriais pra Guerra. Campos de concentração tinham o mesmo objetivo, mas também produziam insumos para abastecer o regime com trabalhos forçados.
É o exemplo mais extremo de desumanização que a humanidade já proporcionou. Muito além de qualquer tortura, qualquer crime de guerra, qualquer campo de trabalhos forçados.
Na prática, você estava condenado a ser morto da maneira mais vil possível apenas por ser quem você era.
E o nazismo é, no fim, uma versão extrema do capitalismo oligárquico nacionalista. Num dos países mais industrializados, com mais cientistas, mais filósofos de renome e profundamente cristão – que seria o exemplo perfeito do capitalismo moderno – nasceu o mais grotesco dos regimes.
O nazismo estava tão conectado ao capitalismo que, mesmo com a derrota dos alemães, muita coisa dos nazistas foi aproveitada depois. Marketing moderno? Muita coisa veio de Goebbels. Corrida Espacial? A tecnologia foi literalmente roubada dos nazistas após a guerra. Multinacionais? O modelo ideal eram as alemãs, fortemente dependentes do governo alemão.
Qualquer coisa que se faça pra relativizar nazismo não é apenas inaceitável: é desvalorizar o ser humano a ponto de entender que em certas condições ele pode ser sim morto em estruturas montadas para matar. Só porque nasceu judeu, ou homossexual, ou com deficiência, ou negro, ou eslavo, ou cigano, ou se identificou com o comunismo.
A maior abominação da História da humanidade foi produzida pelo capitalismo. A integração entre capitalismo e nacionalismo ressentido fez com que o país supostamente mais avançado do mundo na ciência e na filosofia também abraçasse a maior abominação. E levasse ela ao extremo.
É por isso que pode ter partido conservador, liberal, de esquerda, de direita ou comunista. Mas nunca, em hipótese nenhuma, pode ter nazista emitindo opinião livremente. Porque nazistas são desumanos e abomináveis, mas também são fortemente persuasivos, pois usam técnicas as mesmas técnicas industriais de persuasão e de manipulação de massas que hoje são todas como o padrão de atuação em agências de publicidade.