Ser Anti Vacina é Estratégia de Recrutamento Para a Eleição

Não é segredo para ninguém que Jair Bolsonaro tem como estratégia recorrente a radicalização das pessoas que ainda acreditam nele. Foi assim o governo todo, do episódio do golden shower às manifestações de 07 de setembro. Essa retórica é simples, mas extremamente eficiente entre os “já convertidos”: pautas morais e senso de urgência são maneiras de manter o bolsonarismo mobilizado, e também de ocultar os inúmeros absurdos cometidos pelo governo.

A bola da vez é a vacinação (ou a oposição à vacinação). O governo Bolsonaro reproduz a estratégia dos grupos anti vacina dos EUA e da Europa de espalhar mentiras discriminadamente. Mentiras que vão de “vacina causa autismo” a supostos vídeos de crianças morrendo após a vacinação (todos mentirosos). Tudo feito para engajar a base bolsonarista que ainda sobrou.

Além disso, outros boatos são requentados: o de tentar tratar a facada que Bolsonaro sofreu como uma “conspiração da esquerda”, o do “kit gay”, e uma forte pauta moralista, feita com dois objetivos: 1) tentar fazer o brasileiro esquecer que, no frigir dos ovos, o governo Bolsonaro foi a maior catástrofe que esse país já sofreu; e 2) manter o bolsonarista mobilizado e em alerta contra o “risco dos comunistas tomarem o Brasil novamente”.

No caso das vacinas em específico, o discurso toca em algo que o bolsonarismo sempre tenta explorar (e deturpar): a retórica da liberdade. Essa retórica foi explorada durante o governo todo, e, na prática, só serviu como instrumento de desregulação. Hoje, o brasileiro tem muito mais dificuldade para comprar comida, gasolina e energia, os ricos estão cada vez mais ricos e caras como Paulo Guedes tem tanta liberdade para agir que deixam dinheiro em offshore sem grandes incômodos. Enquanto isso, a desregulamentação de políticas ambientais faz com que mineradores, madeireiros e pecuaristas destruam a Amazônia. Na prática, é como se o Brasil vivesse em um contexto anarcocapitalista, com as instituições sequestradas e servindo a grupos próximos ao presidente: especuladores, agronegócio, milícias.

Esse discurso de sequestro das estruturas estatais chega na política de vacinação também. Se dependesse do Bolsonaro, não haveria vacinação. Se não houvesse resistência ao desejo quase erótico de Bolsonaro em ser um autocrata, o Brasil teria taxas de mortalidade maiores que a dos países do Leste Europeu, onde a vacinação se arrasta e líderes autoritários como Viktor Orban dão as cartas. Hoje, tirando Peru (que revisou seus dados, e por isso aparece como o país com maior mortalidade per capita de COVID), os dez países com maior mortalidade por milhão de habitantes estão no Leste Europeu: Bulgária, Bósnia e Herzegovina, Hungria, Montenegro, Macedônia do Morte, Geórgia, Tchéquia, Croácia, Eslováquia e Romênia. E logo depois vem o Brasil, mesmo após meses de relativa tranquilidade, provocada pelas… vacinas.

Bolsonaro não está nem aí com isso. Até as mortes viram propaganda para ele. Se alguém já vacinado morre de COVID, “olha lá, as vacinas não funcionam”. Se algum vacinado morre de qualquer outro motivo, vira “efeito colateral da vacina”. Se um não vacinado morre de COVID, falam que “qualquer coisa vira COVID”. É uma postura típica de um assassino em massa que tem o único objetivo de consolidar um poder absoluto e, quando possível, usar as instituições do país como forma de destruir a oposição. Isso mesmo: quando, e não se.

E quando é esse quando? Quando ele for legitimado novamente. Para isso, ele precisa de um exército mobilizado. Um exército que acredita em todos os absurdos espalhados pela máquina de desinformação de Bolsonaro. Um exército de pessoas cheias de ódio, escandalizadas e radicalizadas por vídeos na Internet, que seja capaz de angariar votos, mas que também seja capaz de matar os outros se possível. É assim que regimes sanguinários nascem. Um ditador não mata sozinho milhares de pessoas. Precisa de pessoas radicalizadas, dispostas a darem a própria vida nesse processo. E, para isso, Bolsonaro precisa se consolidar como o “defensor da liberdade”. Nem que essa liberdade seja a de ser racista, ou a de sabotar a vacinação, provocando mais mortes. Dane-se. Para Bolsonaro, a morte dos opositores é um desejo e a morte dos apoiadores é um mero efeito colateral da “guerra”.

Enquanto isso, Bolsonaro, seus filhos e seus asseclas tentam se apropriar do estado como ditadores autocratas. Como versões nacionais de um Suharto. No fundo Bolsonaro sonha todos os dias em ser um Suharto, em ser um ditador sanguinário e corrupto que ficou 32 anos no poder e não respondeu por seus crimes porque a Indonésia teve uma “transição pacífica”. Exatamente como a transição feita no final da ditadura militar aqui no Brasil.

Mas, para tudo isso acontecer, vencer a eleição é essencial. De forma fraudada, com factóides, matando opositores? Dane-se, se o objetivo for consolidar o poder. Nesse contexto, matar crianças sabotando a vacinação é uma questão menor. Tem muito mais gente pra ser morta. E é por isso que Bolsonaro segue radicalizando o discurso e espalhando mentiras em escala industrial.

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