Hoje Bolsonaro deu entrada no Hospital Vila Nova Star com quadro de suboclusão intestinal. Como ocorreu há alguns meses atrás também.
Embora seja de praxe que deixemos nos levar pela situação e façamos memes e constatações escatológicas sobre o tema, eu detesto quando isso acontece. Porque essas internações sempre servem de pretexto para Bolsonaro fomentar a sua guerra de narrativas dizendo que “são fruto da tentativa de homicídio que ele sofreu em 2018”. Inclusive, logo após a internação de hoje, o Ministro da Saúde Marcelo Queiroga literalmente falou isso.
Fortalecer essa narrativa de “Bolsonaro é um herói que quase morreu pelo país e segue sofrendo” é uma tentativa recorrente de manter suas bases fiéis e radicalizadas, mesmo com o país horrível que Bolsonaro proporcionou a quase todas as pessoas nos últimos três anos. Bolsonaro faz todo o possível para lembrar a todos que foi vítima de uma facada, como se houvesse uma conspiração da esquerda pra impedir o grande herói Bolsonaro de salvar o Brasil.
O fato de muita gente comemorar e fazer piada com esse tipo de evento (e eu admito a minha culpa aqui de SEMPRE ter feito piada com isso) só fortalece essa narrativa pro bolsonarista radicalizado. Óbvio que eles não tem empatia por ninguém, mas o bolsonarismo é um eterno “acuse-os do que você é”, e nesse caso em específico eles vão apontar o dedo para qualquer coisa que não seja uma mobilização preocupada em nome da saúde do presidente.
Além disso, tem a questão de que tudo o que vem de Bolsonaro causa desconfiança. A falta de transparência e o manejo frequente de fake news como estratégia política por parte do bolsonarismo fazem com que todos desconfiem do que está acontecendo. Ele está doente mesmo? Qual é a gravidade da doença? Essa doença apareceu quando? Ela já existia antes da facada? São todas perguntas legítimas quando o Presidente da República não tem transparência ao tratar de um tema. E não vale falsa simetria aqui: Dilma foi transparente em relação ao tratamento de seu câncer em 2009. Lula foi igualmente transparente em relação ao tema em 2011.
A questão é: se um presidente é capaz de usar seus próprios problemas de saúde como ativo eleitoral, como Bolsonaro tem feito, ele é capaz de qualquer coisa para permanecer no poder. E esse “vale tudo” deve piorar até a eleição. A missão de qualquer um que quer defenestrar Bolsonaro é não entrar nessa pilha e convencer o brasileiro de que é possível viver longe dessa radicalização maluca imposta pelo Bolsonaro durante os últimos anos. E essa tarefa está longe de ser fácil.