O mundo está assustado com o surgimento de uma nova variante do coronavírus na África do Sul, que a OMS chamou de Omicron e que tem mais de 50 mutações em relação ao vírus original. Um dado em específico saltou aos olhos: a rapidez do contágio da nova variante, que rapidamente se tornou prevalente na África do Sul.

No entanto, esses dados precisam ser colocados em contexto, para evitar alarmismos exacerbados. Ninguém está falando que a situação não é grave ou que ela não requer cuidados. Mas é preciso ler o contexto.
1) A África do Sul estava em seu momento mais “tranquilo” da pandemia: pela primeira vez desde o início da pandemia, a África do Sul está registrando médias de menos de mil casos diários da doença. Nos demais países, os registros ainda são de casos isolados de pacientes vindos da África do Sul ou de outros países, como o Egito. Embora haja prevalência da Omicron no país, isso ainda não significou grande aumento de casos, como podemos ver no gráfico a seguir. As outras variantes surgiram no meio de outros surtos. Enfrentaram concorrência e demoraram mais para se estabelecer. Isso não ocorreu com a Omicron.
2) A África do Sul ainda tem poucos vacinados: embora o avanço da Omicron não seja muito rápido, ele ainda é mais rápido na África do Sul do que seria em outros países, por um motivo simples: apenas 23,51% da população do país tem o ciclo vacinal completo. Isso obviamente torna o país mais vulnerável a variantes do tipo, fazendo com que elas se espalhem mais rapidamente do que em países em que a vacinação está mais avançada. Fica o alerta para os países ricos de fornecer subsídios para que a vacinação também avance com velocidade na África.
3) Ainda não houve impacto no número de mortes: embora a variante seja recente, era de se esperar que houvesse um aumento expressivo no número de mortes, mas isso felizmente não ocorreu ainda. O número de mortes ao dia na África do Sul segue em menos de uma pessoa a cada milhão de habitantes. No caso
4) Não se sabe se as vacinas funcionam contra essa variante, mas elas provavelmente funcionam sim: o único caso público detectado entre já vacinados foi o se um homem de 36 anos que testou positivo ao desembarcar em Hong Kong, vindo da África do Sul, mas não apresentou sintomas. Ele tinha tomado duas doses da Pfizer. Ainda é preciso novos casos para saber se há um padrão, mas, se houver, isso significa que as vacinas continuam funcionando contra hospitalizações e casos graves. O que é corroborado pela fala do próprio Ministro da Saúde da África do Sul:
Conclusão
Toda notícia do tipo demanda cuidado. É preciso continuar alerta. A pandemia não acabou. Mas o Brasil está chegando em 130 milhões de vacinados com esquema vacinal completo. São mais de 60% da população. E, em breve, a vacinação deve se estender para crianças entre 5 e 11 anos de idade. Os casos estão em baixa no país, especialmente nos locais em que a vacinação está mais avançada. A solução para essa variante (e para qualquer outra) é o avanço rápido da vacinação, incluindo doses de reforço. Empresas como a BioNTech, que desenvolveu a vacina junto com a Pfizer, já anunciaram grupos de trabalho para desenvolver vacinas específicas contra a variante Omicron.
Em resumo: cuidado. Mas calma.