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Temos que falar do que está acontecendo em Maceió. Em agosto, o Maurício Angelo escreveu sobre o tema e lançou luzes sobre o crime que a Braskem cometeu minerando sal-gema por décadas na cidade. Quem que autorizou a palhaçada? A ditadura militar. Um crime socioambiental que gerou lucros bilionários.
É bom ressaltar que a Braskem é uma empresa que tem como principal controladora a Novonor (ex Odebrecht). A Petrobrás também tem participação na empresa. Só a Petrobrás entregou R$ 65 bilhões em dividendos para seus acionistas só em 2021. A Odebrecht, após ser severamente alvejada pela Lava Jato, passou por um rebranding e está voltando a crescer. Dinheiro não é exatamente o principal problema para essas empresas.
O que está acontecendo deveria estar nas capas de todos os jornais. A Braskem fez cavernas subterrâneas naquela época e esse processo está fazendo bairros inteiros de Maceió cederem hoje. Está em processo um inacreditável êxodo urbano de 55 mil pessoas. É como uma cidade inteira do porte de Campos do Jordão tivesse que ser deslocada às pressas, sem saber para onde ir. Tudo isso estava oculto até 03 de março de 2018, quando um tremor de terra foi registrado em vários bairros da cidade. Naquele momento, começava o pesadelo dos moradores, que viram bairros inteiros afundarem e foram retirados às pressas de suas casas.
Por que ocorreu o colapso? A Braskem abriu 35 minas de sal no subterrâneo de Maceió e, quando parou de explorar o sal gema, deixou as cavernas abertas, como se nada tivesse acontecido. O chão da cidade já vinha cedendo antes de 2018, de acordo com o Serviço Geológico Brasileiro. Os bairros mais afetados foram Pinheiro, Mutange, Bom Parto, Farol e Bebedouro. Junto com as casas, foram destruídas ruas, equipamentos públicos desapareceram e hoje o que se vê são cenários de abandono que lembram os arredores de Chernobyl ou a cidade de Centralia, na Pensilvânia.
Em junho, foi lançado o documentário “A Braskem Passou por aqui: a catástrofe de Maceió”, mostrando como a vida das pessoas foi afetada pela irresponsabilidade da empresa e como parte da história de uma das cidades mais bonitas do país foi perdida.
É preciso olhar, antes de tudo, o lado humano da tragédia: embora a Braskem tenha se comprometido na Justiça a arcar com até R$ 12 bilhões em indenizações, isso não traz de volta a dignidade de quem literalmente perdeu tudo por causa da empresa. É o caso da cabeleireira Rosa Maria Cavalcante, que tinha construído toda a sua vida no bairro do Pinheiro: “Tinha muita mulher empreendedora, viu? Muita mulher trabalhadora ali naquele Pinheiro, que fazia quentinha, que matava frango, que tinha seu mercadinho, que tinha seu comércio. Tinha muitas lojas de roupas femininas. Os homens também tinham barbearia, padaria, mas tinha muitas lojas femininas, muitas mesmo, e mulheres empreendedoras, advogadas, engenheiras”, disse Rosa nessa reportagem. Os laços de vizinhança e as relações comerciais cederam junto com o solo dos bairros afetados.
Outro ótimo relato sobre a situação em Maceió foi feito pelo Meteoro Brasil. As imagens são impressionantes:
O conceito da coisa por si só é inacreditável: por décadas, a Braskem abriu cavernas e extraiu sal gema EM AMBIENTE URBANO, com a devida bênção dos governos militares. É como se você abrisse uma mina embaixo do Bixiga ou do Leblon com a devida anuência do governo. Um crime histórico e irreparável, que foi escondido por décadas e condenou milhares de vidas a abandonar às pressas toda uma vida construída por décadas, tirando de mais de 50 mil pessoas o lar, o senso de comunidade e a segurança que deveria ser a mais simplória de todas: a de que o solo sob os pés não vai ceder.