
Não estou comentando muito sobre a COP 26, mas a tentativa do grande capital internacional de influenciar o agenda setting da forma como tem ocorrido é preocupante. A maioria das grandes empresas e dos grandes fundos de investimento parece tratar com a mesma lógica das iniciativas de responsabilidade social: ações cosméticas feitas só como marketing.
Estudando a lógica e as iniciativas de ESG (que é a integração da agenda ambiental, social e de governança) o que mais fica claro é que as empresas querem de fato ser vistas como preocupadas com essas questões, mas as ações ainda estão longe de ser estruturais. Implantar a ideia de ESG “de verdade”, nas estruturas, processos de produção, cadeia produtiva e no relacionamento com funcionários, clientes, fornecedores e a comunidade tem um poder revolucionário.
Não vi nenhum grande player do mercado sequer pensando em fazer isso de fato.
Boa parte das empresas que mandaram representantes pra COP 26 pensam na agenda ESG como um certificado de “olha como somos legais pro mundo”. Até a Blackrock, a maior administradora de fundos de investimento do mundo, faz muita propaganda para alardear o quanto seus fundos ESG são bons. Isso quer dizer que não estamos falando apenas do ESG como um “certificado”: o ESG agora também é um mecanismo que as empresas utilizam para reformularem sua imagem e se valorizarem ainda mais no mercado. A preocupação aqui é muito mais com o dividendo para o acionista do que com o meio ambiente.
Para combater as mudanças climáticas, isso não só não tem nenhum efeito como é contraproducente. Pois dá a ilusão “algo está sendo feito”. E não, nem de longe está sendo feito o suficiente. Assim como as empresas nunca fizeram o suficiente em responsabilidade social, no geral, mas já ganharam muito em marketing com isso reposicionando a imagem das marcas.
E a discussão vai muito, muito além de reposicionamento de marcas. Parece clichê, mas estamos falando do futuro da humanidade. De como nossos filhos e netos vão viver, de qual qualidade a nossa vida terá nos próximos anos e a vida deles terá nas próximas gerações. E não adianta adiar ou fazer só ações cosméticas. Quanto mais demorarmos para transformar nosso padrão de emissões, mais sofreremos no futuro. E ninguém quer que o mundo se torne um cenário de Civilization VI.