Esse discurso da “liberdade de expressão” de hoje nem é novo, é exatamente o mesmo discurso do “politicamente incorreto” de dez anos atrás que alçou ao estrelato caras como Danilo Gentili, Leandro Narloch e… Bolsonaro. A sensação é de que ninguém aprendeu nada nesse período.

Ao mesmo tempo, também parece que existia muito comportamento pernicioso oculto por aí, dentro da vida cotidiana. A sociedade escondia ou aceitava esses comportamentos abomináveis nos meios privados, em nome de uma convivência familiar. E essa defesa da “liberdade de expressão”, que na roupagem reacionária basicamente é “liberdade de ódio”, acontece porque esses comportamentos não são mais aceitáveis, nem na esfera pública e nem na esfera privada.

Dez anos atrás um post homofóbico renderia no máximo risadas fora da bolha progressista. É um bom sinal que hoje a sociedade como um todo, incluindo as grandes empresas, não aceitem mais esse tipo de discurso de pessoas públicas, ainda que ele continue popular para muita gente. Homofobia gera conflitos nos almoços familiares, por exemplo. Quem mantém esses comportamentos perde empregos, mas também perde amigos e relacionamentos.

Esse tipo de mudança também é desigual. Enquanto as áreas fervilhantes das grandes cidades e as mídias sociais de grande circulação veem esse movimento ocorrer mais rápido, os ambientes privados e os meios sociais mais conservadores veem essa mudança ocorrer mais lentamente. Mas essa mudança ocorre em toda a sociedade. E, ocorrendo, atrai resistências, porque o atraso é essencial para a sobrevivência de muita gente.

E nisso se reciclam os movimentos conservadores. Porque esses movimentos nunca apresentam nada de novo. Só trazem sempre a mesma coisa em uma outra roupagem. Mas sempre são movimentos laudatórios do atraso, retratos cruéis de uma sociedade que não deveria existir mais.