
O caso do gibi em que o Superman se revela bissexual fala muito sobre a não aceitação atual da homofobia em ambientes como o do vôlei, mas também fala sobre uma mudança de cultura muito mais profunda na sociedade. Empresas promovem a inclusão de grupos outrora marginalizados quando veem que esses grupos são progressivamente aceitos na sociedade, não o contrário.
A nossa sociedade capitalista meritocrática liberal (sempre vou agradecer ao Branko Milanovic pelo conceito) tem como característica a redução do conceito de inclusão ao conceito de inclusão na sociedade de consumo. Isso quer dizer que a concepção de um Superman bissexual é um sinal de que a temática da inclusão LGBTQI+ 1) Atrai atenção da sociedade, colocando um personagem icônico da DC (na verdade o filho dele) no centro de uma discussão sobre inclusão 2) Vende, afinal estamos falando de um tema largamente discutido pela sociedade e que representa uma inovação dentro do cenário de um universo específico de histórias em quadrinhos da DC Comics.
E é esse o interesse final. A DC Comics entendeu que tem mais a ganhar do que a perder, financeiramente falando, ao trazer a dimensão da sexualidade não heteronormativa à tona. Não cabem romantismos exacerbados aqui.
Há também um benefício marginal relacionado à imagem da empresa enquanto vanguarda em relação ao tema, sendo que na verdade empresas como a DC trataram a questão com menos relevância do que deveriam nas últimas décadas.
Mas a inclusão em si é ótima. Porque é um termômetro de que a sociedade de fato parece mais permeável a abraçar esses temas. Especialmente os jovens, público predominante das histórias em quadrinhos da empresa. Quando empresas de diversas áreas, da DC Comics à Boticário, entendem que esses temas são importantes, a discussão se aprofunda em todos os demais setores da sociedade, ainda que muitas das manifestações sejam refratárias, como a do agora ex-jogador de vôlei do Minas Tênis Clube que se posicionou de forma homofóbica. Sobre o Minas Tênis Clube, só é lamentável a demora em se posicionar e o fato de ter feito isso só após ser pressionado pelos patrocinadores. Também fica aqui a DENÚNCIA de que um time chamado “Tênis Clube” tem no time de vôlei sua principal equipe esportiva no momento, mas talvez seja uma denúncia menos relevante.
É claro que residem dois problemas aí. O primeiro deles é o das empresas que se dizem inclusivas só para terem acesso ao chamado “pink money”, tendo acesso a renda aquisitiva dos LBTQI+ sem de fato promover políticas de inclusão. Não parece ser o caso da DC Comics atualmente, uma vez que o próprio colorista da revista do Superman bissexual, Gabe Eltaeb, foi demitido após declarações preconceituosas. A revista inclusive foi recolorida.
O segundo problema é a reflexão sobre quais mudanças de fato a sociedade vai abraçar ao discutir essa temática. Inclusão sem transformação frequentemente resulta em alienação, e a alienação é característica da nossa sociedade capitalista em relação aos grandes movimentos de minorias. A incorporação desses movimentos não pode ser uma ferramenta de enfraquecimento deles pelo sistema, tem que produzir mudanças de fato. E esse desafio é muito maior do que lidar com as vozes do atraso que ainda são tão frequentes nas redes sociais (e infelizmente estão sentadas nas cadeiras mais importantes do país)