Bolsonaro Está Assinando Uma Sentença de Morte Para os Pobres

O governo Bolsonaro anunciou que quer fazer o Auxílio Brasil “para todos”, a partir de novembro de 2021, no valor de R$ 400. É uma proposta completamente eleitoreira, mas a discussão foi rapidamente por outro caminho: o do teto de gastos, regra criada no governo Temer e que será deliberadamente rompida por Bolsonaro para pagar pelo auxílio.

A questão é que Bolsonaro precisa de uma bandeira para apresentar na eleição de 2022. Precisa se vender como “bondoso”, após sua popularidade chegar no piso e ele ser rejeitado por mais de 60% da população.

Daí, na sexta-feira 22, o noticiário é inundado por ameaças de demissão de Paulo Guedes após dois de seus secretários pedirem o chapéu. Não importa que um desses Secretários seja o cara que impediu que o governo destinasse orçamento para o combate à pandemia em 2021 por achar que a pandemia ia acabar em novembro de 2020. O mercado especulativo estava apavorado por julgar que esses “técnicos” iam deixar o governo. Nenhuma novidade aí, afinal todos sabemos que Paulo Guedes está no Ministério da Economia pra favorecer especulador em detrimento da população mesmo, e eles nem disfarçam mais. É só ver o desespero com a questão do embargo chinês à carne brasileira: os caras preferem segurar os abates do que baratear a carne no mercado nacional. Enquanto isso, a população segue indo atrás de osso pra comer.

No final, Paulo Guedes ficou e o teto de gastos será quebrado. Ficou porque é um bundão mais interessado na mamata do que em qualquer possível princípio. Mas essa discussão toda oculta o aspecto mais nefasto do projeto do Auxílio Brasil.

Uma Sentença de Morte Para os Mais Pobres

Em nome da reeleição, Bolsonaro está condenando à morte as pessoas mais pobres do país. É como se Bolsonaro dissesse para eles se apresentarem na estação ferroviária de Umschlagplatz em janeiro de 2023. E a permanência de Paulo Guedes mostra que ele se dispôs a ser o Lutz Schwerin von Krosigk da vez. Não é um exagero falar nesses termos, uma vez que Bolsonaro está desmantelando toda a estrutura de políticas sociais existentes para estourar o caixa do governo e montar um “Auxílio Brasil” que só existirá até DEZEMBRO DE 2022.

É isso mesmo. Todo o esforço cessa em dezembro de 2022. Se não houver uma articulação forte da sociedade, em janeiro de 2023 teremos uma multidão de brasileiros sem Auxílio Brasil e sem Bolsa Família. Tudo em um cenário de inflação acelerada, com o governo mantendo políticas que geram aumento de preços. E as contas públicas quebradas. Ou seja: mesmo que Bolsonaro não se reeleja, vai ser muito difícil reestruturar as políticas sociais e econômicas para que não tenhamos uma grande fome no Brasil em 2023, muito mais grave do que a que estamos passando em 2021.

É inacreditável que, nessas alturas, os analistas políticos se prendam a questões como o teto dos gastos quando temos essa avalanche a caminho. A questão social no Brasil recrudesceu com Bolsonaro, e todas as políticas estão desestruturadas. Além disso, a economia também está desestruturada, e o Brasil não tem a menor condição de resolver isso com crescimento econômico porque nem energia para isso há (estou falando literalmente de energia elétrica. Não parece, mas estamos no meio de uma crise hídrica e energética).

O que fazer?

A única solução possível para o Brasil nesse cenário é o fim do bolsonarismo hoje. O Brasil precisa ficar um ano “arrumando a casa” para ter condições mínimas de evitar a crise que se avizinha, e a pessoa menos recomendada para isso é a pessoa que criou essa crise.

É preciso revisar regras, para que o agronegócio e os acionistas da Petrobrás não lucrarem de maneira perniciosa enquanto o Brasil vê os alimentos encarecerem nos supermercados e o combustível faltar nos postos de gasolina (ou ser vendido a valores astronômicos). É inaceitável ver os mercados e os legisladores aceitando de bom grado esse tipo de estelionato eleitoral antecipado.

E é bom frisar: o problema não é a regra do teto em si. O problema é a grade de prioridades desse governo. Os setores progressistas querem um sistema de renda básica permanente, que não seja condicionado ao processo eleitoral. Inclusive o auxílio de R$ 600 só surgiu por proposta da esquerda – Paulo Guedes queria pagar R$ 200. Mas isso tem que vir de outros lugares: os ricos precisam pagar mais impostos, por exemplo. É preciso parar com os mecanismos de transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos, que tem hoje como exemplos a política de privilégio ao agronegócio em detrimento dos pequenos agricultores e da preservação ambiental, e também a desregulamentação do mercado que incentiva os subempregos. Essa conta precisa ser paga pelos bilionários, e não pela parcela da sociedade não tem dinheiro nem pra comer. Os ricos estão cada vez mais ricos, a concentração de renda no Brasil aumentou absurdamente na pandemia, como é possível ver nesse levantamento do Banco Credit Suisse:

Não há motivos para que os ricos não paguem pela recuperação social no pós pandemia se eles foram os que mais ganharam na pandemia. E por isso é preciso combater hoje a perversidade de empresários bolsonaristas que ficam de gabando em dizer que faturam R$ 30 milhões por dia, que nem faz Luciano Hang. Deveria ser motivo de vergonha faturar tudo isso enquanto tem gente literalmente catando comida no lixo para ter o que comer.

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