
A Brookfield Business Partners, recentemente envolvida em polêmicas e investigada por ameaçar moradores no interior de Minas Gerais, comprou a Aldo Solar, maior empresas de geradores solares do país. No ano de 2020, a Aldo faturou R$ 1,6 bilhão com seus sistemas para a instalação de geração distribuída de energia solar, especializada em produtores residenciais e em pequenas usinas, capazes de manter o funcionamento de empresas de pequeno e médio porte.
A aquisição mostra a importância que o mercado de geração e distribuição de energia solar vem ganhando nos últimos anos, apesar da falta de incentivos governamentais. O fato da Aldo Solar atrair o interesse da Brookfield, uma empresa de gestão de ativos, é sozinho um sinal consistente de que o setor deve ter forte crescimento nos próximos anos. O Brasil encerrou 2020 com 7,5 GW de capacidade de energia solar instalada e pretende aumentar essa capacidade em 68% até o final de 2021, chegando a 12,4 GW de capacidade instalada. Hoje, isso é muito pouco perto da capacidade instalada do país, mas, de acordo com dados do próprio governo, a participação deve subir de 2% para 2,9% do total nesse ano.
Nesse momento de crise energética, a priorização de fontes renováveis e de fácil instalação é essencial para mitigar o risco de um racionamento extensivo, que comprometa seriamente a atividade econômica do país. No entanto, esse tipo de política deve ser feito com ajuda governamental, uma vez que, sem incentivos, a instalação de fontes individuais de energia tem caráter fortemente excludente, uma vez que o preço da instalação de um sistema de painéis solares continua sendo, em média, um investimento que se paga em 3,8 anos, exigindo um capital para investimento que poucas pessoas tem.
Ainda que já existam programas de financiamento de instalações de energia renovável, como o do Banco do Brasil, é necessário que isso se torne de fato uma política governamental, para que a cadeia econômica se torne mais robusta, gerando mais empregos e contribuindo para o equilíbrio da demanda energética no Brasil. No entanto, não parece ser essa a política do governo.
A crise energética tem sido respondida pela equipe econômica do governo Bolsonaro com políticas de encarecimento da energia. Isso é extremamente problemático, porque gera exclusão energética: os mais pobres ficarão mais perto de ter a energia elétrica residencial cortada, em um cenário de crescimento do desemprego e retomada tímida da atividade econômica. É um projeto de exclusão energética que vai na contramão do que deveria ser feito no país. E, se considerarmos que acesso a energia elétrica é um direito (o que parece bastante óbvio), a mesma lógica deveria servir para o financiamento de instalações de energia renovável, que inclusive teriam papel essencial em locais mais vulneráveis, que também são os que mais sofrem com interrupções na rede elétrica.
Nesse sentido, a aquisição da Aldo pela Brookfield só mostra como o governo está atrasado, uma vez que ele deveria ser o fomentador desse tipo de política. A existência de multinacionais interessadas em atuar no setor antes de uma regulamentação e de uma política robusta do governo mostra o pouco cuidado dado ao setor nos últimos anos por um governo cada vez mais refém das concessionárias de energia elétrica.