Em quatro notícias com menos de vinte e quatro horas de diferença entre si, é possível mostrar de forma instrumental como estamos sob um governo que odeia os brasileiros de todas as maneiras possíveis. Que quer matar de fome quem teve a sorte de não morrer na pandemia. E que é muito menos criticado do que deveria pela imprensa e pelas instituições.
NOTÍCIA 1

Sim, Paulo Guedes falou isso. E nem é a primeira declaração anti pobre dele. O Ministro da Economia mais descolado da realidade que esse país já teve ignora que energia é um grande problema para as classes D e E. Um dos maiores temores entre os brasileiros mais pobres é o de ter a energia cortada por falta de pagamento. E existem poucas instituições funcionando no Brasil, mas uma delas é o corte de energia por falta de pagamento. Nisso as concessionárias fazem um trabalho de excelência. Para religar a energia é bem mais demorado, mas o corte de energia é uma sentença irrevogável. A sentença “você está quebrado”, dada pelo carro da concessionária que chega na sua casa. “Ou apresenta a conta paga ou cortamos”. A energia cortada é um dos símbolos mais doloridos de empobrecimento que existem. Porque é um símbolo público. Os vizinhos veem. E também porque é um marco imediato da falta de dinheiro.
Energia elétrica é o gasto mais básico que tem. Ninguém deixa de pagar a conta de luz para pagar TV a cabo, para encher a geladeira de comida ou para comprar roupas. Porque, na prática, tudo depende de você ter energia elétrica em casa. Então quem não paga duas ou três contas de luz a ponto de ter a energia cortada faz isso porque está realmente quebrado e sem ter a quem recorrer. É um cenário desalentador sob todos os aspectos.
É por isso que a fala do Paulo Guedes é tão grave. “Pagar um pouco mais na energia elétrica”, em um cenário de orçamento apertado para todo mundo, pode ser a diferença, para milhões de brasileiros, entre ter a luz de casa cortada ou não. É asqueroso ver tanto desprezo ao sofrimento do brasileiro médio. Mas é exatamente o que se espera de Paulo Guedes e do governo Bolsonaro como um todo.
NOTÍCIA 2

Na esteira da notícia do encarecimento de energia menosprezado por Paulo Guedes, vem mais um efeito do “livre mercado” patrocinado por Paulo Guedes e por Bolsonaro desde 2019. Com o desmantelamento das políticas de segurança alimentar, foram desmanteladas também as garantias de abastecimento ao mercado interno. Com a cotação do dólar em alta, passou a valer mais a pena para as grandes empresas alimentícias nacionais exportar do que abastecer a demanda daqui. Em setembro passado, essa dinâmica já estava bem clara. Com isso, o brasileiro tem tido desespero com aumentos absurdos nos preços de produtos básicos de alimentação. Já aconteceu com o arroz, com o óleo, com a carne bovina e com a grande maioria dos itens da Cesta Básica. Agora, pelo visto, é a vez do frango, uma das únicas fontes de proteína que ainda permanecia em um preço minimamente aceitável. O governo não se importa nem um pouco com a insegurança alimentar do brasileiro. Aliás, esse mecanismo de encarecimento dos preços internos para privilegiar exportações é altamente desejável para esse governo, uma vez que essas grandes empresas exportadoras, que na maioria das vezes contam com ações na Bolsa de Valores, acabam lucrando mais. É uma política claríssima de concentração de renda, com consequências nefastas. Mas o importante é que a Bovespa bata recorde de pontos e os acionistas recebam polpudos rendimentos. Ainda que esses rendimentos sejam literalmente às custas da fome de uma parcela da população brasileira.
NOTÍCIA 3

A política de Paulo Guedes e de Bolsonaro fez a fome ser novamente uma questão real para o brasileiro, como não acontecia há muitos anos. O aumento do desemprego, o aumento da precarização e a inflação tornam o ato de se alimentar quase que um privilégio no governo Bolsonaro. Há algumas semanas, a fila para conseguir ossos de boi em Cuiabá, capital do estado que mais enriqueceu com o agronegócio nos últimos anos, chamou a atenção do país inteiro. Agora, famílias estão pedindo para os açougues separarem pelanca de boi, que normalmente iria para o lixo, para que eles tenham o que comer. Hoje, o Brasil tem 84,9 milhões de pessoas em situação de fome ou com algum grau de insegurança alimentar. Um contingente enorme de pessoas que não sabe se não vai ter três refeições nos próximos dias. O projeto de enriquecimento dos grupos que apoiaram Bolsonaro passa pelo efeito colateral de produzir uma multidão de subnutridos. Também passa pela destruição dos ecossistemas, pelo desmantelamento do emprego formal e pela condenação do Brasil a se tornar um grande fazendão de soja para alimentar o exterior. Mas o importante é que esse projeto continua sendo aplaudido pelo “mercado”, pelos “investidores”, por essa massa anônima que coloca dinheiro em qualquer coisa que dê mais dinheiro, sem ética nenhuma.
NOTÍCIA 4

Essa notícia é uma meia verdade. Sim, o mercado financeiro ainda apoia Paulo Guedes. Mas não é por “temer um substituto”. É porque Guedes faz tudo o que pode para incentivar a especulação nos capitais e os lucros das grandes empresas (as que estão na Bovespa). Um exemplo prático: enquanto a gasolina chega a R$ 7 o litro, inviabilizando até mesmo os motoristas de aplicativo, a Petrobrás está distribuindo R$ 31,6 bilhões em dividendos para seus acionistas.
É por isso que o mercado “teme um substituto pior” que o Guedes. Para o mercado financeiro, Guedes segue muito bom, ainda que esteja destruindo a indústria e a as bases da economia brasileira no processo. Para o povo brasileiro, só existe uma possibilidade de Ministro que seja pior que Paulo Guedes: um “Guedes competente”. Porque, para a nossa sorte, Paulo Guedes é bastante incompetente na implantação de suas maldades, tendo pouca capacidade de implantar na prática as suas ideias de raiz pinochetista.
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No fim, acaba ficando muito claro o quanto o governo Bolsonaro e seu staff odeiam o brasileiro. O governo não se importa em ver o brasileiro passando fome, não se importa em ver o brasileiro sem energia elétrica, não se importa nem mesmo em ver o brasileiro sem ter onde morar. Estamos diante de um governo que vibra com a morte em larga escala de brasileiros no meio de uma pandemia, porque isso é uma chance para negociar vacina superfaturada.
Não dá para esperar até 2022. Bolsonaro precisa cair agora.
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