Dados científicos pro Bolsonarista: “ideologia”, em sentido pejorativo.
Conspirações malucas bolsonaristas para bolsonaristas: “dados técnicos”, “fatos”
É uma inversão tão maluca que realmente não tem antídoto fácil. Eles transformam séculos de ciências em “duelo de narrativas”
Tem hora em que a gente realmente fica sem saber o que fazer, o bolsonarismo é um muro alienante tão bem construído e com ferramentas tão sofisticadas que realmente dá a impressão de que eles estão num mundo diferente do nosso, que nem se consideram da mesma espécie que a gente.
Por eles não nos considerarem “da mesma espécie”, eles julgam que devemos ser eliminados. Nossa morte não só é aceitável: é desejável. É exatamente a mesma construção que os nazistas faziam em relação às “raças não arianas”, mas entre bolsonaristas e não bolsonaristas.
O bolsonarista é um ser superior dotado de um suposto “conhecimento da verdade”, que é essa narrativa maluca que eles espalham diariamente nas redes sociais. Quem não acredita é inferior. Quem combate essa narrativa é inimigo e deve ser eliminado. Daí 500 mil mortes viram algo aceitável. E não só aceitável: desejável.
A grande característica do bolsonarismo como movimento extremista de direita é a destruição de qualquer empatia com o ser humano. Pessoas só existem dentro de sua função na sociedade, se não cumprem essa função devem ser eliminadas. Não é força de expressão: eles querem nos matar.
É por isso que eles negam a ciência em várias dimensões. Não é só o negacionismo sistemático da pandemia: negar o método científico (coisa que o Olavo fazia e faz) torna o cenário propício para eles inventarem uma realidade alternativa, adaptada às próprias narrativas.
Foi o que aconteceu com o passeio ciclístico de moto que Bolsonaro fez no sábado, dia 12 de junho. Os bolsonaristas falaram em mais de um milhão de pessoas de moto, o que é rapidamente desmentido por uma conta simples de matemática.
A Rodovia dos Bandeirantes tem cinco faixas de 3,5 metros. Cada moto parada colada na outra ocupa em média 3 m² (esse cálculo é bem modesto inclusive, considerando que cada motoqueiro usa um espaço de 2 metros – o comprimento de uma CG 150 – por 1,5 metros de lado). Andando, de forma meio perigosa até, essa área sobe AO MENOS pra 10 m² (meio perigosa MESMO, estamos falando de uma distância de 3 metros entre as motos em movimento e um metro de distância lateral).
Considerando as cinco faixas (5 x 3,5 metros = 17,5 metros) mais o acostamento, temos 20 metros de rodovia (o acostamento sempre é menor). Isso quer dizer que cada Km de rodovia tem 20 mil m². Ou seja, em cada Km de rodovia cabem 2 mil motos.
Daí dá pra analisar os números com um pouco mais de precisão.
Alguns bolsonaristas falaram de cem mil motos. Além das fotos impactantes, isso causaria ridículos 50 km de fila na Rodovia dos Bandeirantes, e também um tumulto impraticável em SP. Obviamente não aconteceu.
Desnecessário então falar sobre os supostos 1.324.000 motos. Isso causaria 662 Km de fila numa estrada de cinco faixas. Daria literalmente para encher a Fernão Dias de motocicletas entre São Paulo e Belo Horizonte E TAMBÉM entre Belo Horizonte e São Paulo.
A Folha de São Paulo e o governo de SP falaram em 12 mil motos. Isso causaria uma fila de 6 km. O tumulto na cidade sugere bem menos que isso, mesmo com as marmitas grátis após a manifestação.
Mas, ainda assim, é algo mais plausível que as demais possibilidades. É bom lembrar, porém, que foram destacados 6,3 mil policiais pro evento. Se essa estimativa for verdadeira, estamos falando de um policial para duas motocicletas, o que já configuraria um imenso fracasso em relação ao que achavam que seria.
Mas, dessas doze mil motocicletas, temos ao menos 500 motos da polícia, destacadas para acompanhar o evento. Essa brincadeira custou R$ 1,2 milhão. Isso além dos R$ 75 mil que a prefeitura de São Paulo investiu.
Essas informações tornam o evento ainda menor. 15 mil pessoas no máximo, contando os garupas. E, quando há comparação com as manifestações anti Bolsonaro, a coisa fica ridícula: o UOL estimou mais de 420 mil pessoas nas ruas pelo país em 29 de maio.
Estamos falando, hoje, de ao menos 28 vezes mais gente na rua pra protestar contra o Bolsonaro do que pra dar suporte a ele. É esse o tamanho do Bolsonaro hoje. Diminuto. Reduzido ao seu público radicalizado. Tendo que recorrer a subterfúgios como passeio de moto pra criar volume.
Mas daí você vai pesquisar no Google e os caras continuam espalhando a narrativa:

Isso porque Bolsonaro está nem aí para a ciência, para as mensurações ou para qualquer coisa do tipo. A ciência só atrapalha na criação das narrativas loucas dele. Ele sabota a ciência sistematicamente inclusive. Prova disso é que o supercomputador do INPE, o Tupã, usado para as previsões do tempo e para a criação de modelos climáticos no país, deve ser desligado em breve. O motivo? O governo federal não repassou nem mesmo a verba para o gasto em energia elétrica do supercomputador. Esse tipo de coisa nunca aconteceu antes, e, como o supercomputador já está defasado (em 2019 o governo não quis comprar outro), provavelmente o desligamento será para sempre: a chance desse processo de desligamento e religamento do supercomputador causar algum problema insolúvel é imensa.
E daí voltamos ao início do texto. Para o bolsonarista, dados científicos são “ideologia”. O que há de mais elementar na ciência é contestado (as vacinas, por exemplo, que o próprio Bolsonaro disse essa semana sem nenhum dado que “não funcionam”). E tudo isso porque sim, eles tem no negacionismo um projeto de morte. Um projeto de genocídio, seja por COVID, seja por qualquer outra coisa. Porque eles acham que os bolsonaristas são uma raça superior, assim como Hitler achava a respeito dos arianos. E só não apelaram para uma “solução final” ainda porque isso ainda é execrável para boa parte da sociedade.
Mas, se a sociedade deixar, eles farão isso. E dirão que “Deus mandou”, que é uma “batalha espiritual contra o mal”. E a metade de evangélicos que ainda apoia o Bolsonaro vai aplaudir e esperar que Jesus Cristo desça das nuvens para aplaudir a matança patrocinada por evangélicos no Brasil.
Seguimos acreditando que o “mal” é o bolsonarismo. E que de alguma forma nos livraremos dele. Mas infelizmente o custo desses anos de atrocidade será altíssimo.