As pessoas podem achar que o Psoe não é lá um grande partido de esquerda. Os sonhos da esquerda, ao olhar para a Espanha, se assentam sobre o Podemos na maior parte das vezes. É o Podemos que é o partido de esquerda novo, que é a nova experiência, que teve repercussão internacional, que inspira outros partidos de esquerda mundo afora. O que é o Psoe? É aquela esquerda velha, cheia de vícios, que deveria estar em processo de superação para que a nova esquerda cool assuma o poder.
Pois é. Na prática, as coisas não funcionam bem assim. Depois de assumir o poder no ano passado com o inesperado voto de desconfiança em Mariano Rajoy, em uma aliança extremamente débil, Pedro Sánchez vê seu projeto de poder ser legitimado. Ganhou 38 cadeiras em relação à eleição passada. O Podemos, por sua vez, perdeu 29 cadeiras. É o que podemos ver na apuração de votos do El País.
Do outro lado, o PP, que governou a Espanha praticamente por toda a última década, sofreu uma das maiores derrotas de sua história. Com 66 votos, ficou perto de perder a hegemonia na direita para o centro-direitista Ciudadanos. E ainda viu a assustadora ascensão do Vox, que fez a extrema direita ganhar 24 assentos no parlamento espanhol.
Na Espanha, a exemplo do Brasil, do Brexit, dos EUA, do Mianmar e de mais um monte de lugares no mundo, tivemos uma intensa campanha de fake news via redes sociais. Especialmente pelo WhatsApp. A coisa foi tão grave que as redes de TV passaram parte de seu tempo desmentindo boatos nessa última semana. E o Facebook bloqueou páginas de WhatsApp de partidos como o Podemos (há a suspeita de que todo mundo tenha tido canais de engajamento bloqueados, mas só o Podemos reclamou porque pega meio mal reclamar que o Facebook não deixa você passar mensagens indiscriminadamente, é uma espécie de etiqueta anti spam meio hipócrita que a gente tem)
Mas o grande fato da eleição espanhola é que o Vox não subiu como todos suspeitavam que subiria. É meio bizarro ter que comemorar que os neofranquistas tenham conseguido só 8% do Parlamento, mas é a situação atual, infelizmente. E o fato do Vox não ter subido tanto revela algo mais legal ainda: o engajamento via criação de fake news no WhatsApp e Facebook tem limites. Mais do que limites, tem defesas.
O efeito avassalador das fake news via Facebook e WhatsApp nas eleições doa EUA, do Brasil e também no Brexit foi avassalador também por ser novidade. Isso é importante e precisa ficar claro. Com os efeitos das fake news pipocando mundo afora, muitas relações de confiança desenvolvidas nas redes sociais ruem. Isso obviamente é ruim, mas ao mesmo tempo leva as pessoas a não serem tão crédulas em discursos feitos exclusivamente para gerar repulsa (e gerar votos com isso). Odiar cansa. E a Espanha mostrou que está cansada desse ódio vazio, elegendo um projeto social democrata amigável aos imigrantes e que aposta fortemente na integração da União Europeia como ferramenta de promoção do desenvolvimento econômico no país.
As notícias são boas, afinal.