A Greve dos Caminhoneiros sem Mistificações

A demanda dos caminhoneiros por redução no preço do diesel é justa, em um contexto de baixa quantidade de fretes (afinal a retomada econômica prometida pelo Temer não veio) e de revisão do preço dos derivados de petróleo pelo mercado internacional (cortesia do Temer, também)

Enquanto as pessoas não veem como legítima a revolta dos caminhoneiros (que estão tendo prejuízo, são autônomos em sua grande maioria e tem família pra sustentar com o dinheiro dos fretes), não vai ter diálogo e a galera “intervenção militar já” vai se aproveitar da revolta deles.

Agora as transportadoras aderiram. É locaute? Não, é convergência de pautas, diesel caro é um negócio que afeta negativamente toda a economia. A questão é que isso não tá sendo visto nos índices de inflação porque o consumo está tão baixo que nem a alta do petróleo puxa preços pra cima.

E mais: não há um mega esquema de organização mútua não. É que a rede logística do país é tão frágil que ir fechando estradas com caminhões promove um efeito cascata rápido e catastrófico nos fluxos logísticos, impedindo o abastecimento em grandes cidades.

E não acabou: há uma progressão de pautas que foram evoluindo durante vários anos, e uma entidade representativa negociando com o governo Temer (a CNTA), inclusive algumas reivindicações já foram atendidas e o governo espera encerrar a greve ainda nesta quinta feira.

E não estou falando que não há uso político disso. Tem caminhoneiro na greve que é pré candidato a deputado, tem caminhoneiro fazendo campanha pro Bolsonaro ou defendendo intervenção militar. Mas isso é muito mais um traço da cultura deles que qualquer outra coisa.

Mas o mais importante é isso: o litro da gasolina está caro pra caramba sim. Mas tem um negócio que me preocupa até mais: o preço da batata.

Por mais que seja um amido e não seja o melhor alimento do ponto de vista nutricional, batata é base da alimentação de muita família mais pobre, servindo até de mistura para famílias que não podem comprar carne todos os dias (convenhamos que é bem mais nutritivo do que miojo).

Até o começo da semana, a batata estava em R$ 2. O que era ótimo pra quem não pode gastar quase nada. Um almoço com arroz, feijão e purê de batata, ou batata frita, saia acessível.

Agora, em SP, a batata já subiu pra R$ 6 a R$ 10 o Kg. E o pobre não tem mais condição de comprar. Então passou da hora de dar uma solução pra essa greve: ela está afetando o prato de comida do pobre, que, convenhamos, é muito mais importante do que qualquer vidraça de banco (e essas são defendidas co unhas e dentes nas redes sociais, em todo e qualquer protesto)

E lembrando, finalmente, que essa greve de caminhoneiros é fruto da política de flutuação de preços de petróleo e de sucateamento das estruturas de refino expressa no novo modelo de reajuste de preços assinado por Temer em outubro de 2016.

Qualquer diagnóstico que não passe por isso é errôneo. A gente pode discutir o nível de responsabilidade do governo Dilma e de sua política de subsídio que trouxe prejuízos à Petrobrás? Pode. Ela foi muito prejudicial.

Mas ESSA paralisação foi fruto do aumento repentino do petróleo fruto da política atual de vinculação de preços ao mercado internacional de petróleo. Promulgada em outubro de 2016.

É sempre necessário colocar os pingos nos is. Que essa greve acabe logo, e da melhor maneira possível.

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