A Lava Jato é uma aula magna sobre a política brasileira. Quem dera todas as investigações fossem como ela.
Vamos entender, de forma didática:
O PP tem mais de 30 nomes na lista que o Procurador Geral da República mandou para o STF por um motivo simples: essa lista é fruto da delação de Paulo Roberto Costa (o cara da foto acima), ex-diretor de abastecimento da Petrobrás. A diretoria de abastecimento havia sido indicada pelo PP. Vem mais coisa por aí.
A aula começa aí. Existem três diretorias da Petrobrás sendo investigadas, no contexto da operação Lava Jato:
- A diretoria de abastecimento, que era comandada por Paulo Roberto Costa, indicado pelo PP
- A diretoria de serviços, que era comandada por Renato Duque, indicado pelo PT.
- A diretoria internacional, que era comandada por Nestor Cerveró (o do olho torto), indicado pelo PMDB.
A lista que foi para o STF é relativa a só uma das áreas. Provavelmente sairão mais duas listas de políticos. E daí percebemos a diferença entre os partidos políticos envolvidos.
O PP é aquele partido fisiológico que quer ganhar com a corrupção, mas em geral não comanda o esquema. Quando é flagrado, finge que não é com ele, mas, na prática, age como o corrupto padrão: o esquema desmonta quando os corruptos são pegos. Na hora em que a polícia aparece, todo mundo sai correndo e é cada um por si. Por isso, inclusive, é compreensível que Paulo Roberto Costa seja o primeiro delator da Lava Jato. Estava só tentando livrar o seu da reta. 99% dos esquemas de corrupção que acontecem em prefeituras e governos estaduais aqui no Brasil tem esse perfil do PP.
O PT tem outro perfil: o pessoal sabe que cometeu o crime, todas as evidências apontam para isso, mas a militância e os acusados compartilham de um mesmo discurso: o do “somos todos inocentes e isso é uma conspiração de forças ocultas para que não consigamos melhorar o Brasil e tirar ele da mão desses crápulas que roubaram o país por 500 anos”. E permanecem com esse discursos mesmo após o trânsito em julgado das condenações.
Só tem um problema aí: se o partido queria tanto assim mudar o país, a parte da corrupção seria um dos ítens. Mas não, o partido se aproveitou do esquema. E se aproveitou para tentar manter seu projeto de poder. Para eventualmente financiar campanhas futuras.
A justificativa do PT para “entrar no esquema” foi dada por José Dirceu, em 2005: é o famoso “todo partido tem caixa 2″. Caras como José Dirceu realmente acham que os fins justificam os meios, nesse sentido, e que valia a pena correr o risco de ser corrupto, porque era a única forma de se “igualar” aos demais partidos nesses tempos em que os gastos declarados com campanhas políticas “DÃO BILHÃO”, como já diria Ciro Gomes.
É por isso que o partido levou com naturalidade a delação de caras como Pedro Barusco, gerente que respondia diretamente a Renato Duque na Petrobrás. E é por isso que o partido vai defender seus quadros mesmo depois da condenação. É um ideologismo torto, bastante constrangedor, que estimula esse maldito Fla-Flu político totalmente sem regras entre os “petistas” e os “anti-PT”. Isso faz com que as pessoas não enxerguem que existem muitas outras posições no espectro político, às vezes bem mais perigosas.
E tem a diretoria internacional, na mão de Nestor Cerveró. Cerveró foi o único que não aceitou nenhum acordo de delação. Cerveró é a cara do PMDB. Um partido que está sempre no poder, como um parasita, ocupando o máximo de áreas possíveis. A solidariedade interna do PMDB não é que nem a do PP, que se desfaz na primeira crise, e nem como a do PT, que flerta com o delírio persecutório. O PMDB é uma máfia, age como uma máfia e, como máfia, faz o possível e o impossível para preservar seus membros. Quando um membro cai, cai sozinho. E não tenta levar ninguém junto para se salvar.
Isso é notório na primeira declaração de Eduardo Cunha, o terceiro homem da nação, ao ver seu nome na lista da procuradoria-geral: ele declarou que “não se preocupa, afinal serão mais de 100 deputados investigados”. Bem, essa declaração expõe duas coisas: ele não acredita na Justiça brasileira como instrumento de punição de políticos em massa e também conhece o esquema bem o suficiente pra conseguir estimar quantas pessoas estão envolvidas. É a empáfia e a postura desafiante típica de um mafioso.
Renan Calheiros segue pelo mesmo caminho: a primeira coisa que ele fez ao saber que seu nome estava na lista do procurador-geral, ainda na terça-feira, foi retaliar o governo, até então seu aliado. Depois, levantou conspirações como “o governo mandou incluir meu nome e o de Eduardo Cunha na lista”. O sentimento de Renan Calheiros de que ele seria uma parte inatingível de uma máfia era tão sólido que seu nome na lista do procurador-geral provocou MÁGOAS. Ele realmente pensava que “ia dar um jeito” de não aparecer na lista.
E também há o quarto tipo de corrupto aí, desvinculado de todos até agora: o opositor, que denuncia a corrupção, mas age da mesma forma. É o caso de Antonio Anastasia, que conseguiu a proeza de ser indiciado mesmo sendo do PSDB. E também de Sérgio Guerra, que em 2009 cobrou R$ 11 milhões de propina para não abrir uma CPI contra a Petrobrás.
A questão é: a maioria dos políticos que apareceram na operação Lava Jato são de um tipo de corrupto diferente de um cara que também foi lembrado, mas por NÃO aparecer na Lava Jato: Paulo Maluf. Maluf é o arquétipo clássico do político corrupto: é procurado até pela Interpol, mas sempre dá um jeito de escapar. Seus desvios não eram para abastecer um esquema milionário de campanha, mas para benefício próprio.
A Lava Jato mostra a profissionalização da corrupção, feita com um único objetivo: bancar o financiamento da próxima campanha eleitoral. Eventualmente se pega uma parte do dinheiro para um luxo pessoal aqui ou ali, mas o grosso vai pro caixa 2, que, nas palavras de José Dirceu, “todo mundo faz”. Seja ele pra financiar a reeleição do deputado do PP, as campanhas milionárias de PT e PSDB ou a máquina mafiosa do PMDB, que vive desses cargos.
A pergunta que fica no final da aula é: operações como a Lava Jato vão inibir esse modelo de corrupção profissionalizado?
A resposta é: sozinhas, não vão. Se as campanhas eleitorais continuarem sendo bilionárias, operações como a Lava Jato só vão fazer a corrupção mudar de lugar. Afinal, os partidos precisam desesperadamente arrecadar recursos, em todas as frentes, para “igualar” seus adversários. E para continuarem eternizando um sistema político extremamente aparelhado, cada vez mais afastado da população, em que a eleição de um deputado custa em média R$ 5 milhões (sim, multiplicando isso por 513 dá mais de R$ 2,5 bilhões).
Siga o Medium Brasil | Twitter ─ Facebook ─ RSS ─ Canal oficial