É simples e é um cálculo bobo baseado nos volumes nominais dos reservatórios e na sua porcentagem atual.

O Sistema Rio Claro foi de 22 para 30,6% em dois dias. É uma boa notícia? Sim, claro que é. Mas é bom lembrar que o sistema Rio Claro tem capacidade de armazenar 13 bilhões de litros de água. O Sistema Cantareira tem capacidade de 1.4 TRILHÃO. Um Sistema Rio Claro cheio não dá nem UM POR CENTO do Cantareira. Os dois maiores sistemas, Cantareira (1,4 TRI de litros) e Alto Tietê (520 BI de litros) são os dois sistemas em pior situação. A gravidade da crise está aí.

Os sistemas Guarapiranga, Rio Grande, Rio Claro e Alto Cotia juntos representam 14% da capacidade de armazenamento de água em SP. Cantareira e Alto Tietê representam 86%, e, juntos, hoje, tem só 127 bilhões de litros dos 1,92 TRILHÕES de capacidade. No total, estão com 6,6% da capacidade, se somados. No meio da estação chuvosa. e o máximo que pode ser acrescido a isso é mais uma cota de 40 bilhões de litros do “terceiro volume morto” do Sistema Cantareira

Pra ter ideia do que isso representa, os sistemas Guarapiranga, Alto Cotia, Rio Grande e Rio Claro, JUNTOS, tem 153 bilhões de litros de água armazenada hoje, e capacidade de armazenamento total de 313 bilhões de litros  (fiz os cálculos baseando-me na quantidade nominal de água nos reservatórios e na porcentagem atual de cada um deles). Esses sistemas, somados, estão com 48,9% de sua capacidade. O que não parece ruim.

No entanto, é bom lembrar que a soma dos sistemas Guarapiranga, Alto Cotia, Rio Grande e Rio Claro representam menos de 1/7 do sistema, e que 6/7 da capacidade de armazenamento estão nos sistemas Cantareira e Alto Tietê. E o que isso quer dizer?

Os sistemas somados, hoje, tem uma capacidade de armazenamento de 2,233 TRILHÕES DE LITROS DE ÁGUA

Os sistemas somados, hoje, pelas informações da Sabesp, tem armazenados 280 BILHÕES DE LITROS DE ÁGUA, o que dá 12,54% DA CAPACIDADE.

E OS PRÓXIMOS MESES?

O Cantareira, sozinho, perdeu 492 bilhões de litros de água em 2014. Deixo vocês com o trecho dessa reportagem:

O Cantareira terminou 2014 sem recuperar 492 bilhões de litros de água perdidos durante os 12 meses. O ano começou com o nível do reservatório em 27,2% e terminou com 7,2%.

Porém, com a utilização das duas cotas do volume morto (a primeira elevou o manancial em 18,5 pontos percentuais e a segunda em 10,7 pontos percentuais) é como se os reservatórios tivessem iniciado 2014 com um volume acumulado de 56,4%. Assim, a queda foi 49,2% durante o ano, o número representa 492 bilhões de litros. De acordo com estimativas da Sabesp, o reservatório tem capacidade de armazenar 1 trilhão de litros, quando está com 100% do seu nível.

Eu realmente não sou especialista na área, mas se considerarmos verdadeira essa notícia de que os mananciais de São Paulo perdem 2,5 bilhões de litros de água por dia, fazendo uma conta simples, dá pra chegar à conclusão de que, sem chuvas e em um cenário ideal em que todos os sistemas estão integrados, teríamos água na região metropolitana de São Paulo para mais 112 dias. A data-limite para o fim dos reservatórios seria 15 de maio, nesse cenário. Com os 41 bilhões de litros adicionais do terceiro volume morto do Cantareira, a água acabaria 16 dias depois, no dia 31 de maio.

É óbvio que esse é o cenário mais pessimista possível, não contando com previsões como a da retirada de 600 bilhões de litros da Billings, apesar da poluição lançada cotidianamente pelo Rio Pinheiros e pelo esgoto não tratado das encostas. Também não conta com a falta de integração entre os reservatórios, que impede que o volume do Sistema Rio Grande, por exemplo, seja fornecido para o Sistema Cantareira.

E tem as chuvas. Apesar das previsões de que “As precipitações devem ficar abaixo da média pelo menos até abril” (aqui), pode ser que elas estejam erradas, que chova alucinadamente no Sudeste e que governo federal e governo estadual dêem as mãos em um culto ecumênico de agradecimento aos céus pela chuva alcançada.