Surgiu a notícia, na Folha, de que Lula quer voltar à presidência em 2018, por pressão de sua esposa. Apesar de ser apenas uma especulação, acaba trazendo o assunto para a discussão com quatro anos de antecedência. Ainda mais considerando que o estado de saúde de Lula nos últimos anos, após o tratamento de um câncer muito agressivo na garganta (para se ter idéia, casos similares sem tratamento levam à morte em seis meses). Ninguém sabe como ele chegará em 2018. O próprio Lula afirma a interlocutores, na reportagem da Folha, que “o objetivo dele é estar vivo até lá”
De antemão, já digo que sou terminantemente contra a volta de Lula à Presidência. E exponho os motivos aqui:
1) Ele pode se tornar um mártir. E isso é sempre assustador
Imagine um cenário de ajuste fiscal no governo Dilma, aliado à retomada do crescimento, ainda que de forma modesta, nos dois últimos anos do mandato. Tudo isso, aliado à popularidade de Lula, tornariam o quinto mandato consecutivo do PT no governo federal algo bastante plausível.
Vamos supor que Lula seja eleito em 2018. E que, com diversos problemas de saúde, se reeleja em 2022. Daí não aguenta mais muito tempo e morre em 2024, no poder. Imagine o tamanho da comoção que se dará, e o efeito dessa comoção nos processos eleitorais seguintes. Considerando o que aconteceu no governo de São Paulo, onde o nome de Mário Covas é usado até hoje para justificar a continuidade do PSDB no governo do Estado, não é exagero pensar que, em um cenário desses, o PT permaneceria no poder até 2034.
A questão é: isso pode ser bom para o projeto de poder do partido, mas é péssimo para o país. E nem vou cair no discurso “ah, o país precisa de alternância” porque na maioria das vezes a alternância é uma falácia subordinada à conveniência eleitoral. Mas o fato é que, se for para o PT se manter no poder, que seja pelos motivos certos: o de que apresentou um projeto de país que convenceu mais pessoas, por acharem que é melhor e mais exequível. E isso deve ser avaliado a cada eleição.
A comoção distorce o cenário. Isso foi provado na própria eleição de 2014, em que a tragédia com Eduardo Campos catapultou Marina Silva à um cenário eleitoral privilegiado. O fato de que ela não soube aproveitar esse cenário, foi muito atacada e tropeçou em suas próprias contradições é tema para outra análise, mas o efeito da comoção foi enorme e imediato. E esse efeito seria infinitamente maior no caso de um líder carismático como Lula.
2) Retornos após o sucesso sempre tendem a ser um fracasso
É inegável que Lula fez dois bons mandatos na Presidência da República, saindo aclamado pela população e elegendo uma sucessora que pouco antes era uma desconhecida. Mas não é tão certo assim que ele faria um bom terceiro mandato em 2018, caso eleito.
O motivo é simples: na política, no futebol ou em qualquer outra coisa da vida, o sucesso é sistematizado. Vamos pegar o exemplo do Felipão na seleção brasileira, por exemplo. Ele foi campeão da Copa do Mundo em 2002. Foi a grande realização de sua vida. Em 2012, num ato de desespero da CBF, reassumiu a seleção. Repetiu a mesma fórmula de trabalho. E tomou a maior goleada da história da seleção brasileira em uma semi-final de Copa do Mundo. E manchou o seu legado anterior, passando a ser questionado.
Aconteceu o mesmo com Zagallo, por várias vezes. Ganhou a Copa de 1970 como treinador, com a melhor seleção da história. Daí manteve a fórmula para 1974 e apanhou da seleção holandesa. Em 1994, foi auxiliar-técnico de Parreira na conquista do Tetra. Para 1998, resolveu assumir como treinador e tomou 3 a 0 da França na final, naquela que foi a pior derrota da seleção brasileira em uma Copa do Mundo até o 7 a 1 da Alemanha. Não contente, repetiu a dose em 2006 com Parreira e fracassou de novo. Hoje, Zagallo e Parreira são lembrados pelos títulos, mas também pelos inúmeros fracassos posteriores.
Os dois mandatos de Lula foram a grande realização da vida dele. O grande legado de sua vida, o que estará escrito nos livros de História, a sua consolidação como um dos maiores personagens que já existiram no Brasil. Tentar um terceiro mandato é rifar tudo isso em nome do prolongamento de um projeto de poder.
No Brasil, há um único caso do tipo: Getúlio Vargas. Depois de uma Revolução (1930) e um golpe (Estado Novo, em 1937), Vargas quis se eleger em 1950. Foi eleito. E, em agosto de 1954, em meio a inúmeras pressões da oposição pela sua renúncia, cometeu suicídio. Se sacrificou pelo seu projeto de país. Para evitar o fracasso definitivo de um retorno que, mesmo tendo alguns aspectos positivos (a fundação da Petrobrás, por exemplo), passou á história como um relativo fracasso, pela forma como terminou.
Mas, dentro dessa linha de argumentação, há um motivo maior para governantes não retornarem. O de que “o que deu certo ontem pode dar errado amanhã”. De forma mais clara:
Quando alguém faz a “obra de sua vida”, seja governando o país em dois governos bem sucedidos ou ganhando uma Copa do Mundo como treinador”, essa “obra de sua vida” vira o exemplo para toda e qualquer atuação futura. E isso é um enorme problema, e não uma solução. Porque se a pessoa voltar à posição em que fez a “obra de sua vida”, vai tentar fazer as mesmas coisas novamente. E essas mesmas coisas não vão dar certo, por um motivo simples: o mundo muda.
O que Felipão fez em 2002 e deu certo deu errado em 2014 porque nesses doze anos o futebol mudou muito. A fórmula que fez com que ele fosse o melhor em 2002, usada em 2014, soou completamente ultrapassada. Com Lula é a mesma coisa: o que deu certo em 2003, se reutilizado em 2019, provavelmente vai dar errado. Porque o Brasil mudou muito nesse período (e muito dessa mudança foi realização do próprio Lula).
Um fracasso no terceiro mandato jogaria tudo isso por terra. A rejeição ao PT já é alta, a exposição estando no governo é grande e a corrosão do legado de Lula por um eventual terceiro mandato fracassado teria efeito devastador sobre o partido: sem a popularidade de sua principal referência, o PT seria tranquilamente alijado do governo federal por um longo período.
Conclusão
O que motiva Lula a voltar em 2018 não é só vaidade: é também o desejo de ver o PSDB longe do poder. Enquanto o PT não tem quadros prontos para disputar a eleição de 2018, há no PSDB nomes como Aécio Neves e Geraldo Alckmin. Além disso, Marina Silva provavelmente estará na disputa, e até mesmo o PMDB pensa, pela primeira vez desde 1994, em lançar candidato próprio. Lula seria o “porto seguro” diante de toda essa situação adversa.
No entanto, o desejo de Lula em retornar à presidência em 2018, se verdadeiro (há a chance de ser uma barrigada da Folha também, embora existam diversos indicativos de que a notícia é, de fato, fundamentada), mostra que o PT, como partido, não pensa mais de forma estratégica, e sim no curto prazo, em projetos de manutenção no poder “pelo próximo mandato”, no melhor sentido “depois a gente pensa no que faz”. Quando a ânsia pelo poder imediato acaba sendo mais relevante do que o projeto de país do partido, é uma sinalização clara de que, apesar das ilusões da esquerda e do papel da militância da vitória de Dilma, o PT não dá sinais de que vai voltar a ser um partido de bases, como foi até Lula assumir o poder. E isso é lamentável para um partido com a história do PT.
Apesar de vc e dos outros 48,5, os aecistas, ele voltará por nossa vontade e força pois ficou demonstrado que com a canalha fascista não há possibilidade de diálogo. Lula tentou e foi bombardeado e o que fazem com Dilma é inominável, de uma ignomínia só e o pior é que nem se trata de uma ideologia pelo bem do Brasil mas de um projeto de entreguismo do país ao que de pior há na face da terra: a máfia maçônica financeira anglo-sionista. Diálogos com a choldra bandida não são possíveis, por isso, que volte Lula e o povo o ajudará a esmagar a cabeça da serpente e todas as víboras que se escondem em seu íntimo.
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Mas cara, é só me acompanhar todo dia que você vai ver que sou tudo, menos aecista.
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Não diria que o autor do post é aecista, e sim alckimista. se tem uma coisa que paulista nao gosta, é de ver um “seu” não sendo presidente.
e o alckmin é um nome forte para 2018, mesmo com todo auê em cima do aecio. e qual a maneira do alckmin se eleger, dps de ele derrotar o aecio em uma previa? inviabilizando o lula. ficou claro pra mim isso.
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Sim, eu passo 70% do dia cornetando o Alckmin pela crise da água porque sou alckmista e quero ver o chuchu presidente em 2018. Muito pertinente.
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não conheço seu twitter. mas agora me dei conta que na verdade vc é serrista. se vc fala mal do alckmin, e nao quer o lula em 2018, só pode curtir o cara que adora fazer jogo sujo e inviabilizar os outros pra concorrer.
o vampiro não desistiu de ser presidente ainda, mesmo com a idade avançada.
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Sim, inclusive tem declaração de voto no Suplicy no primeiro turno no meu Facebook porque eu sou serrista.
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Usei uma serra, recentemente.
Sou serrista também.
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É por aí mesmo, Léo. Voltar o Lula, além de retrocesso, mostra que o partido não possui um projeto para o país e é por isso que se mantém no governo, mas que, pelo contrário, se utiliza de um apoio popular para manter o poder pelo poder.
Essa eleição foi a primeira que fui às ruas, fui com consciência e acreditando que um projeto tinha coisas boas e o outro projeto era baseado numa antipatia somente. Além de gostar da Dilma (mais que do Lula, inclusive).
Fui contra o retrocesso e não vou cair em contradição daqui a 4 anos.
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Assim como a política nacional como um todo, o PT precisa se reinventar, ter nomes novos. Creio que o grande nome que reflete essa nova cara que o PT precisa adotar é o Fernando Haddad, que tem feito um trabalho bastante digno à frente da Prefeitura de São Paulo. Trata-se de um nome diferente, capaz de trazer ideias novas, dar uma ‘arejada’ nos ideais políticos do partido e, por que não, do próprio país.
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Rindo muito dos diagnósticos precisos do Lucas aqui. De uma acuidade incomparável.
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Eu acho que o Lula ainda não se decidiu de fato sobre isso, até porque tem muito tempo até a próxima eleição. Ele fica soltando essa idéia pra gente só para ver a reação, tanto da mídia quanto dos companheiros de partido.
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Ótima reflexão!
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@Léo
Bem-dito! (Agradeço também você ter lembrado do “caso Vargas”, foi na mosca!)
Fiquei de bom humor após de ler seu post. E até agora me pergunto se foi mais por causa do próprio Lula dizer que o “objetivo dele estar vivo até lá”, ou se foi mais por causa daquele “cenário”, mencionando datas como 2022 e 2034. Espero que entenda o quero dizer.
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Retirado do Face do Lula:
Ao contrário do que publicou o jornal Folha de S. Paulo, baseado em supostas fontes anônimas, Lula não declarou que será candidato em 2018. No último sábado, quatro dias atrás, portanto, o ex-presidente foi perguntado sobre o tema em São Bernardo do Campo e disse: “Eu não vou querer saber mais do que Deus e dizer o que vai acontecer comigo em 2018. Na minha idade, se eu estiver vivo já é de bom tamanho. Muita coisa vai acontecer até 2018.” Ouça a resposta de Lula sobre candidatura em 2018.
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