Por que discursos de ódio sempre devem ser repudiados?

Levy Fidélix e Luciana Genro durante o discurso de ódio do primeiro no debate da Record (Fonte: R7)

Levy Fidélix e Luciana Genro durante o discurso de ódio do primeiro no debate da Record (Fonte: R7)

Ontem, no debate presidencial, vimos duas cenas tristes:

– Levy Fidélix defendendo abertamente a homofobia, comparando gays a pedófilos e incitando inclusive agressão física contra eles
– NENHUM dos candidatos marcando posição contra esse discurso de ódio logo depois

Qual é a mensagem que eu leio desses dois fatos?

1) Nossos políticos consideram discursos de ódio algo tolerável. Ou pior: o repúdio aos discursos de ódio está subordinado ao cálculo eleitoral: você só repudia o discurso de ódio se isso não vai te tirar votos.

2) A parte de nossos políticos que não tem votos a perder não encontrou uma resposta imediata ao discurso de ódio do Levy Fidélix. Acontece. É tipo tomar um soco na cara e não saber como reagir. Mas foi péssimo, de qualquer forma.

3) é conveniente lembrar que esse sujeito que fez discurso de ódio em rede nacional recebe R$ 1,6 milhão do fundo partidário por ano (http://oglobo.globo.com/brasil/levy-fidelix-cobra-ate-400-mil-de-quem-quer-se-desfiliar-do-prtb-13931999). Isso quer dizer que todos nós estamos ajudando a bancar um discurso de ódio às minorias com dinheiro público. Inclusive as minorias que ele odeia.

Sabe por que foi péssimo ninguém se manifestar? Porque isso significa a NATURALIZAÇÃO DO ÓDIO. Quer dizer que não estamos nem aí se alguém sair falando em rede nacional que quer matar um grupo específico de cidadãos.

Sim, cidadãos. Ontem o ódio foi contra gays, mas frequentemente é contra mulheres, contra negros, e historicamente já foi contra judeus, contra ciganos e até contra canhotos. Numa sociedade em que o ódio é tolerável, um dia você é o opressor, mas no dia seguinte pode ser o oprimido.

Por isso que NENHUM discurso de ódio deve ser tolerado. Sob justificativa nenhuma. E, para isso, é bom recorrer à história dos genocídios. Do nazismo à Ruanda, passando pela Bósnia e pela Armênia, a maioria deles, durante a história da humanidade, teve três etapas:

– A naturalização do ódio contra uma minoria ou contra um “povo rival”, sob os argumentos mais esdrúxulos (como os de Levy Fidélix)
– A disseminação desse ódio por toda a população pelos mais diferentes meios, geralmente relacionados com o poder (como Levy Fidélix fez ontem)
– A “colocação em prática” desse ódio, agredindo a minoria ou o “povo rival” em questão (como Levy Fidélix sugeriu para fazermos ontem)

O genocídio, enquanto matança em escala, deve ser sempre repudiado. Porque é o desrespeito mais profundo à vida humana que pode existir. É por isso que até hoje a maioria das pessoas repudia caras como Hitler e Stálin, que promoveram matanças em escala industrial.

Esse é o alento contra os discursos de ódio. Você pode não saber, mas se você ainda se escandaliza com discursos de ódio você ainda valoriza a vida humana antes de qualquer outra coisa. E a resposta aos discursos de ódio deve SEMPRE ser essa: a do repúdio, por um motivo simples: o de que a vida humana é a coisa mais preciosa que existe, e ela deve ser SEMPRE preservada. TODAS as outras questões são menores e não autorizam ninguém a passar por cima do valor mais básico da humanidade: a preservação da vida humana.

Foi esse limite que Levy Fidélix ultrapassou. E é por isso que seu discurso deve sim ser repudiado.

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Um comentário sobre “Por que discursos de ódio sempre devem ser repudiados?

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