Abaixo, um gráfico e uma tabela analisando o ganho real de valor do salário mínimo entre 1995 e 2014.
Os dados utilizados foram:
– Variação do salário mínimo entre janeiro de 1995 e dezembro de 2014 (IBGE)
– Inflação anual entre 1995 e 2013 – IPCA (Fonte)
– Inflação anual estimada para 2014, de 5,93% (Boletim Focus/Estadão)
A fórmula para verificar o ganho real do salário mínimo é simples: análise do reajuste subtraído da inflação do período. Os dados estão refletidos no gráfico a seguir:
Como a exposição dos dados via gráfico não expõe todos os dados, separei-os adequadamente:
As constatações são:
– O governo Lula foi o governo que proporcionou o maior aumento real ao salário mínimo dos trabalhadores (98,32%). O governo FHC, em 8 anos, proporcionou 85,04% de aumento real ao salário mínimo. No governo Dilma, o ganho real no salário mínimo dos trabalhadores foi de apenas 15,94%.
– Boa parte do ganho salarial real para os trabalhadores no governo Fernando Henrique Cardoso se concentrou no primeiro ano de governo, devido ao processo de estabilização da economia (20,45%). Em dois dos oito anos de governo FHC (1999 e 2002), o salário mínimo perdeu valor real, tendo reajuste menor que o da inflação.
– No governo Lula, o maior ganho salarial real ocorreu em 2006 (13,52%). No entanto, seus oito anos de governo apresentaram ganho salarial real de forma consistente. No final de seu governo, o valor real do salário mínimo era o praticamente o dobro do valor quando o presidente assumiu.
– No governo Dilma, o ritmo dos ganhos salariais diminuiu consideravelmente. Mesmo se considerarmos que a presidente(a) teve metade do tempo de trabalho de Lula e Fernando Henrique Cardoso, os indicadores são tímidos: apenas 15,44% de ganho real no salário mínimo nesses quatro anos. Muito inferior ao ganho real do salário mínimo nos 4 primeiros anos do governo Lula (46,40%) e aos 4 primeiros anos do governo FHC (42,26%).
Conclusão
– O salário mínimo avançou 934,29% em números absolutos em 20 anos, enquanto a inflação no período foi de 399,81%. Em termos reais, o salário mínimo avançou, no período, 534,48%.
– Isso quer dizer que o poder de compra de uma pessoa que ganha um salário mínimo, no final de 2014, será mais de 5 vezes maior do que o poder de compra de quem ganhava um salário mínimo no final de 1994.
Independente de qualquer posicionamento político, é um fato histórico o de que a política de aumento real dos salários mínimos é uma das mais eficientes formas de combate à desigualdade social em larga escala. O Brasil vem apresentando há 20 anos uma política consistente de valorização do salário mínimo, que proporciona a ascensão social e a inclusão de um número maior de pessoas no mercado consumidor. No entanto, é bom ressaltar que ainda existem cerca de 25 milhões de pessoas no Brasil hoje ganhando menos de um salário mínimo.
Também é bom ressaltar que as políticas de aumento real do salário mínimo devem ser trabalhadas em conjunto com outras políticas de inclusão social, como o fornecimento de bons serviços públicos, saúde básica, e, principalmente, educação de qualidade que forme cidadãos capazes de exercer com qualidade suas funções na sociedade.
Uma política consistente de aumento do salário mínimo produz um aumento geral no índice de liberdade das pessoas: não apenas da liberdade de consumo, mas também a liberdade relativa à inserção social, e, em menor escala, a liberdade de participação política. Além de todos os outros benefícios, a inserção social faz com que as pessoas passem a requerer seus direitos com maior frequência.
Ok, bom trabalho, vou guardar os gráficos.
Mas o problema é que esse aumento do salário mínimo não veio acompanhado do aumento da produtividade do trabalho brasileiro. Aliás, esse é um dos fatores que explicam o baixo crescimento do Brasil nesses últimos anos, agora que o boom das commodities, da expansão do crédito interno e do dinheiro fácil acabou. Em outras palavras, o PIB tem subido mais do que a produtividade (29% contra 19% nesse século, segundo o IPEA).
E como melhorar a produtividade? Fácil de falar mas difícil de fazer. A resposta é óbvia: educação, infraestrutura, reforma tributária…
Esse baixo crescimento no governo Dilma reflete muito isso. Se o bolo (PIB) não está ficando maior, então fica mais difícil aumentar as fatias (salário mínimo). São problemas estruturais que já de lá atrás.
E uma reforma tributária, mais facilidade na hora de contratar e despedir e também para que as empresas possam investir em sua mão-de-obra, investir em tecnologias também ajudaria bastante. No caso, o salário do trabalhador aumentaria sem que houvesse um aumento na inflação, que é o que acontecesse agora.
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Sim, concordo plenamente com suas colocações. A política de aumento real do salário mínima é boa, mas bem insuficiente, se não vier acompanhada de aumento da produtividade. E esse aumento só vem com maior qualificação profissional (educação), maneiras mais fáceis de escoar a produção (infraestrutura), uma forma mais racional e justa de onerar (ou desonerar) a produção (reforma tributária). E estamos mesmo pagando a conta, porque reformas paliativas nos levam a um cenário de crescimento limitado mesmo, quando não de estagnação.
Para fugirmos disso, devemos nos concentrar no longo prazo. Mas quem está disposto a se sacrificar para priorizar projetos de longo prazo, mudanças estruturais na sociedade? Na política brasileira, não vejo ninguém com essa disposição.
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Só esqueceu de mencionar que o índice oficial da inflação é utilizado pra corrigir múltiplos créditos e débitos, por isso é tão baixo. Para satisfazer o mercado, certos grupos empresariais,bancos, etc e , principalmente, para pagar salário mínimo, o índice oficial divulgado é irrisório. Todos sabemos que a inflação real é bem maior e completamente artificial assim como o índice de desemprego que só mede aqueles que estão procurando emprego e não conseguem. Abraços.
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Meu caro, ao fazer a soma do aumento real do SM no governo FHC, ocorreu um erro. A soma correta é 42,36% de aumento real. De todo jeito, o artigo está consistente. Mas muito cuidado com tabelas, como Marcelo Neri bem sabe, pode te custar o emprego. Abs.
Gabriel
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Cara, você não pode somar os anos, pois são processos cumulativos. Ele compara no fima o total do período.
Porém, fiquei com a dúvida do porquê você não ter feito a mesma conta para a tabela do Lula, que na sua conta “cuidadosa” com as tabelas não daria mais que 90% também.
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Republicou isso em Eu Vivo a Melhor Idadee comentado:
ADOREI O ARTIGO!É BOM SABER DAS COISAS!
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Temos que ter em mente que o aumento do poder aquisitivo não influencia diretamente no enquadramento social do indivíduo, ou seja, se a pessoa pertence a classe E e agora possui um poder de compra, não quer dizer que o sujeito vai “subir” para a classe D ou C.
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Meu caro, apesar de não interferir muito na sua analise os seus calculos estão errados, o certo seria ((1+taxa de aumento)/(1+taxa de inflação)-1)*100, quando tiver tempo refaz ai.
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Pingback: AÉCIO NEVES VOTOU CONTRA A VALORIZAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO | Blog do Renato
Legal a explicação … mas no dia a dia meu bolso diz outra coisa.
Alguém está mentindo … será que é meu bolso ?? …safado !!!!
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Pergunta, e antes de FHC se entrasse nessa comparação, seria Sarney e Collor Itamar no gráfico . Acha queo resultado seria diferente ? O ponto de partida ficou meio esquisito. Qual seria ?
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