Nessa semana, o Santo André ficou muito próximo da Série D do Campeonato Brasileiro. Depois de passar pela Série A do Brasileirão em 2009, o time teve uma queda vertiginosa de rendimento, foi usado por diretores para fins escusos e é boicotado pela prefeitura da cidade, que é a responsável direta por transformar o Bruno José Daniel, estádio tradicional, com mais de 40 anos, nessa terra arrasada aí, que não recebe uma partida com público desde 11 de setembro de 2011:
Pra piorar a situação, existem indícios de que o Santo André pode pedir licença e ficar sem disputar nenhum campeonato caso realmente caia para a Série D do Brasileirão no próximo domingo. A situação no clube é lastimável, as dívidas se acumulam, e a má administração, aliada ao descaso da prefeitura, colocam o Santo André à beira da falência.
No entanto, esse time do Santo André teve um “canto do cisne”: foi a final do Paulistão de 2010, contra o Santos de Neymar e Ganso que encantava o Brasil e goleava quase todo mundo.
Todo mundo achava que a vitória santista na final seria fácil, mas o Santos quase perdeu o título. O segundo jogo da final foi 3 a 2 para o Santo André (que precisava ganhar por 2 gols de diferença), que ainda teve um gol mal anulado. E uma bola na trave no final do jogo.
Inspirado na histórica coluna “E se”, do Ubiratan Leal, no Balípodo, vamos simular realidades alternativas. Esse texto é obviamente uma obra de ficção. Mas imagine: o que ocorreria se o Santo André ganhasse a final do Paulistão de 2010?
Vamos ao jogo: 45 minutos do segundo tempo, o Santo André, com dois jogadores a mais, pressiona o Santos em busca do gol do título. A bola é lançada na área. Rodriguinho se estica todo para desviar. Na trave! No rebote, a bola cai no pé de Rodrigão, AQUELE, que só confere pro gol. A torcida no Pacaembú fica atônita. Aquele Santos parecia invencível. O Santos não tem forças para reagir. Aos 48 minutos, o juiz apita o final do jogo. A minoria de andreenses no estádio começa a comemorar enlouquecidamente. O Santo André era campeão paulista de 2010.
O choque era evidente para todos os jornalistas esportivos. Na capa do Lance!, Neymar caído no chão com a mão no rosto, chorando, e a manchete “INACREDITÁVEL”. Dorival Júnior, inconformado com a recusa de Ganso em ser substituído, antes do gol fatal de Rodrigão, jogou pesado com a diretoria santista “ou eu, ou ele!”. Ganso, em desgraça, ficou encostado e foi vendido para o Benfica por 12 milhões de euros.
O título do Santo André teve um grande beneficiado: Dunga. Com a fama de amarelão que Neymar adquiriu ao perder a final e a fama de insubordinado de Ganso, Dunga não teve problema em justificar convocações como a de Grafite e Kléberson. Foi apoiado pela imprensa o tempo todo e, com o grupo redondo e bem entrosado, fez uma boa Copa do Mundo até a semifinal, quando perdeu da surpreendente seleção uruguaia nos pênaltis, com a segunda cavadinha decisiva de Loco Abreu na Copa. Depois ainda perdeu da Alemanha na disputa pelo 3º lugar, mas todos consideraram o desempenho de Dunga bom o suficiente para que ele tivesse mais quatro anos à frente da seleção. Na primeira convocação depois da Copa, Bruno César, Branquinho, Carlinhos e Nunes, todos campeões pelo Santo André, foram chamados por Dunga.
Neymar levou o Santos, sem Ganso, à semifinal da Copa do Brasil, contra o Grêmio. No entanto, não conseguiu segurar o ímpeto dos gaúchos, que venceram o primeiro jogo por 4 a 3 no Olímpico e seguraram um empate em 2 a 2 em Santos.
No Brasileirão, o time ficou em 5º lugar, sem vaga na Libertadores. Pressionado, LAOR vendeu Neymar no final da temporada para o Valencia, por 20 milhões de euros. “Não conseguiríamos coisa melhor nele”.
No Santo André, calmaria. Depois de vender boa parte dos jogadores do time campeão paulista, o time não teve forças para subir e terminou a Série B em sétimo lugar. Mas não dava sinais de que voltaria a ser o grande time que foi Campeão Paulista. No começo de 2011, Sérgio Soares foi contratado para o lugar de Mano Menezes, demitido após a eliminação do Corinthians para o Tolima. E terminou como responsável direto pelo primeiro título alvinegro da Libertadores, no ano seguinte.
No Paulistão de 2011, o Santo André escapou na última rodada do rebaixamento. O time tinha sido desmontado no fim do ano para pagar as dívidas das malfadadas campanhas eleitorais de Marcelinho Carioca e Romualdo Magro para Deputado Federal e Estadual. Na Série B não teve jeito: o time caiu para a Série C sob protestos da torcida, que ainda não pôde acompanhar as últimas oito rodadas da competição porque a prefeitura destruiu a metade coberta do Bruno Daniel para “uma grande reforma”.
Em 2012, a queda foi inevitável. Sem estádio o ano todo, o Santo André terminou na lanterna do Paulistão, com 5 pontos em 19 jogos. Na Série C, caiu com duas rodadas de antecedência. Há indícios de que, afundado em dívidas, o time vai se licenciar e não disputar a Série A-2 de 2013.
No Santos, nada mais aconteceu. O time teve desempenhos sofríveis nos campeonatos de 2011 e 2012, e LAOR já disse que não vai disputar a reeleição. Disse que não quer mais passar a vergonha de ser eliminado pelo Coruripe da Copa do Brasil.
Ganso teve um início ótimo no Benfica, mas depois ficou quase um ano parado, contundido. Não conseguiu mais se firmar no time. Foi vendido para o Porto no meio de 2012, após brigar com a diretoria dos encarnados, alegando que “não estava sendo valorizado”.
Neymar, sem pressão no Valencia, começou a jogar todo o seu futebol. Levou os valencianos à semifinal da Champions League 2011/2012, como principal astro do time, e ainda ajudou Roberto Soldado a ser artilheiro do último Campeonato Espanhol, em que o Valencia disputou o título ponto a ponto com Barcelona e Real Madrid (terminou três pontos atrás dos merengues).
Depois de muita desconfiança, virou a grande aposta de Dunga para a Copa de 2014, junto com Kaká e Felipe Melo. No meio de 2012, foi contratado pelo Real Madrid, por 55 milhões de euros. O Santos comemorou a transação, pois vai poder receber os 5% do “clube formador”, que vão ajudar a equilibrar as finanças do clube e pagar os dois meses de salários atrasados do elenco. Foi o que restou ao clube.
Ou seja, não mudou muita coisa pro Santo André.
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Exatamente. Mesmo se ganhasse o Paulistão em 2010, com essa administração, o time cairia na situação que vive hoje.
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Não tinha me ligado até agora que o ocaso de turbo ligado do Santo André guarda tantas semelhanças com o do Juventude.
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Verdade. As quedas vertiginosas dos dois times foram similares.
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