Três eternidades

Se Deus concedesse um único desejo para a maioria das pessoas, ele seria o de viver eternamente. Mas esse desejo tem três dimensões:

1) A dimensão que a deusa grega Eos (Aurora, para os romanos) pediu para Zeus em relação a seu amante Títono. Ela pediu para Zeus que Títono se tornasse imortal, sem, no entanto, pedir juventude eterna para ele. Títono foi ficando cada vez mais velho e decomposto, sem morrer.

2) A segunda dimensão é a da “juventude eterna”. É semelhante à situação do robô Andrew Martin durante boa parte do livro “O Homem Bicentenário”, de Isaac Asimov. Ele via todas as gerações de pessoas morrendo. Um homem com juventude eterna acabaria se tornando cada vez mais amargurado ou individualista, ao saber que todas as pessoas que ama morrerão, enquanto ele permanecerá para sempre.

3) A terceira dimensão, que seria a do meu pedido para Deus, seria a mais simples de todas: eu pediria para Deus apenas uma coisa: que a morte não existisse, que a morte fosse proibida para sempre. Se nada e ninguém morressem todos nós poderíamos viver uns para os outros, felizes, manifestando amor sem preocupações.

Todos os nossos problemas estão direta ou indiretamente relacionados à morte. Se trabalhamos, estudamos ou tentamos nos afirmar é pela necessidade de deixar um legado, frente ao nosso tempo limitado. Se temos medo, é porque tememos pela nossa vida. Se consumimos alucinadamente e somos individualistas, é porque sabemos que um dia não poderemos mais dar prazer ao nosso próprio corpo.

A morte é o grande limitador da nossa existência. E está presente e impregnada em cada partícula do Universo. tudo tende à aniquilação. Pessoas, planetas, estrelas. Um Universo sem a morte seria um Universo perfeito. E essa perspectiva ajuda a explicar minha crença em um Deus que prometeu um Universo perfeito e sem a morte para as pessoas.

E isso só acontece porque o sofrimento das pessoas quando elas lidam com a morte me convence diariamente de que a morte não é algo natural e não deveria acontecer. A morte deveria ser proibida. E, para superar a agonia da não-eternidade, prefiro depositar esperanças em um Deus que diz que a morte será proibida um dia. E que viveremos a terceira eternidade, sem degeneração e sem sofrimento.

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5 comentários sobre “Três eternidades

  1. Duvido que as nossas vidas fossem melhores se não morreriamos físicamente. Na minha opinião, o verdadeiro problema se encontra na necessidade do ser humano de dar sentido a vida. Os excessos de consumo, as atrocidades, a violência, e tudo mais, são “fenômenos” deste problema – embora sejam manifestações patológicas.

    Enquanto vivemos como “seres biológicos”, a morte nunca será “proibida”. É bem ao contrário: sem morte não ha vida. E ao contrário. É um “círculo eterno”.

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  2. P. S.

    Mais uma perspectiva, só pra refletir, acabei de me lembrar disso:

    “Porque, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á;
    mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á.”
    (São Lucas 9.24)

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