Há muito tempo a eleição para a prefeitura de São Paulo não apresentava tantos candidatos diferentes com alguma relevância. Já foram feitas diversas análises do cenário político paulistano, sérias e cheias de pretensão. Odeio explicar ironia, mas o objetivo aqui é justamente o contrário: fazer uma análise sem seriedade e sem pretensão nenhuma, mas que talvez chegue a alguma conclusão no final. Ou não.
Para isso, os candidatos foram analisados dentro de um dos contextos mais comuns e marcantes do paulistano: o da balada. Assim como existem vários “tipos” numa casa noturna, existem também vários “tipos” entre os candidatos a prefeito de São Paulo, que você vai conhecer a partir de agora:
José Serra – o velhinho sem noção
Sabe aquele tiozão de 50 anos, recém-separado, que resolveu “curtir a vida”? Que, depois de 30 anos ausente, resolveu voltar pra balada com o mesmo visual (se bobear, até faixinha na cabeça) e os mesmos passinhos de dança dos anos 80? Então, é o Serra.
Não que ele tenha ficado 30 anos ausente da política, longe disso. Só que, depois da eleição de 2010, algum marqueteiro colocou na cabeça dele que ele tinha que “se renovar”, “parecer jovem”, mesmo com 70 anos de idade. Ele abraçou a idéia. E virou aquele velhinho sem noção que fica dançando passinhos dos anos 80, com visual dos anos 80, no meio de um monte de gente jovem. E proporciona cenas como essa:

Serra de skate (Fonte: bnci.com)
Obviamente, não dá certo. Não só por causa da falta de senso de ridículo, mas porque ele não tem pique pra aguentar o ritmo. E daí, nos intervalos em que ele senta e recobra a consciência, faz o papel que já se esperava dele: o de velho ranzinza que não se conforma por ser o mais rejeitado da festa.
Celso Russomano – o Arroz
Sabe aquele cara que chega antes de todo mundo, se antecipa aos demais, se prepara como ninguém, fica o tempo todo fazendo um esforço imenso, mas no final fica só na friendzone? Então, esse é o Russomano.
Ele liga pra menina três dias antes, banca o gentil, vai buscá-la em casa, abre a porta do passageiro pra ela, fica conversando sobre amenidades o tempo todo. Todo mundo acha que vai ser um caso de sucesso, que ele vai ficar com a guria, passar a noite toda junto e pedir em namoro no dia seguinte, apesar de não entender como ela pode querer ficar com um cara feio e sem noção que nem ele.
Só que falta poder de decisão. Falta uma postura mais incisiva. Falta “chegar”, na gíria da balada. Daí a garota passa a considerá-lo amigo. E, como amigo, ele vira um arroz: o sujeito que tá sempre junto atrapalhando a abordagem dos outros, mas não faz nada. Daí, quando ele vai ao banheiro, chegam outros caras, com sucesso. Ela engrena uns namoros, tem umas desilusões, e no final vai reclamar de tudo pra ele. O cara vira uma espécie de “querido diário” dela. E sabe que nunca vai ser mais do que isso.
É essa a relação entre Russomano e São Paulo.
Fernando Haddad – o amigo aleatório do promoter
Ser amigo do promoter tem suas vantagens. Você ganha um camarote VIP, com muito whisky disponível. O promoter manda o DJ agradecer a sua presença, te dando alguma notoriedade. Mas a maioria da galera ouve o agradecimento e olha pro cara com aquela expressão de “famoso quem?”. Daí o promoter começa aquele trabalho boca a boca de sair conversando e tentando convencer todo mundo de que, no fim, o amigo dele é legal. Esse é Haddad (e seu promoter, Lula).
O lado ruim é que, como amigo, você tem que se sujeitar às vontades do promoter, como chamar o velho tarado que todo mundo odeia pro seu camarote. Se vai dar certo no final, ninguém sabe. Mas, obviamente, o papel de amigo do promoter é chato. Rende um monte de sorrisos sem graça. Principalmente se você mostrar um certo grau de timidez, como parece ocorrer com Haddad.

Haddad como amigo do promoter (Fonte: Valor Econômico)
Gabriel Chalita – o amigo pega-ninguém
Ele passou a vida toda indo com os pais à igreja. Nunca frequentou uma balada. Sempre foi usado como exemplo de comportamento por toda a paróquia. Fez catecismo, crisma, trabalhou de coroinha. Daí os amigos da escola disseram que balada era um negócio legal, ele conseguiu dobrar os pais e foi. Esse é o Chalita.
Ele está completamente perdido na balada. É um ambiente novo pra ele. A sorte dele é que sempre pagou o lanche da galera na escola e pode sair falando “sou amigo de fulano e de ciclano”. Mas é a primeira vez que ele está naquele ambiente. É o famoso “amigo pega-ninguém”, que começa gaguejando, depois perde um pouco do medo, mas não coloca uma gota de álcool na boca, porque vai contra os seus princípios.
Seu sucesso vai depender basicamente do quanto ele vai conseguir “se soltar” na balada.
Soninha Francine – a descolada, mas nem tanto
Ela sempre foi aquela guria estudiosa que sofria bullying na escola. Daí resolveu fugir do estigma. Ficou revoltada. Quis provar que era “igual” aos outros, começou a tentar fazer mais bagunça que a ala bagunceira da turma.
Na balada ela vai com roupas alternativas, provavelmente feitas por alguma confecção “ecologicamente correta”. Fala que bebeu mais do que todo mundo, mas ostenta o mesmo Martini pela metade a noite toda. Beija uns caras aleatórios, quer fazer o tipo de descolada, da mulher moderna e livre. Mas desaparece na hora em que eles propõem terminar a noite no motel. Na verdade, continua sendo tão insegura quanto na época da escola. Essa é a Soninha.
O mais triste de tudo é que ela provavelmente vai terminar a noite com o velhinho sem noção, por uma dessas ironias do destino.
Paulinho da Força – o chato
Sabe aquele cara que você sempre fala que “conhece de vista”, de outras festas, mas que nunca parou pra ter uma conversa? Esse é o Paulinho.
Toda balada ele está lá. Todo mundo já conhece, mas ele parece ser tão chato que ninguém tem coragem de se aproximar e conversar um pouco. Ele passa a maior parte do tempo em algum canto, bebendo alguma coisa junto com seus poucos amigos. De vez em quando arrisca ir pra pista e dançar alguma coisa, mas a falta de habilidade é notória. Vai passar a vida toda nesse ritmo, até desistir de vez ou assumir o papel de arroz, o que é uma possibilidade bem plausível também.
Carlos Gianazzi – o engajado
Sabe aquele cara que vai pra balada e só fica falando de política? De como a sociedade é injusta, de como “temos que nos mobilizar e mudar tudo isso”? É o Gianazzi.
Já conhecendo o tipo e o fato de que, se ele puxar conversa, é meia hora falando de política, a maioria das pessoas acaba se afastando. Ele sempre está com dois ou três amigos, cuja única função é concordar com ele. E, obviamente, não vai chegar a lugar nenhum.
Miguel Manso – o figurante
Você não o viu na festa, não sabe quem é, nunca nem pensou em conversar com ele. Mas, na hora em que vai baixar as fotos, vê que ele está em umas duas ou três delas. E fica se perguntando “ué, como esse cara apareceu aqui?”
Esse é Miguel Manso, do PPL, que ninguém conhecia até essa eleição e, provavelmente, vai continuar sem ninguém sabendo quem é depois dela.
Os tipos bizarros
Ah, você não vai falar individualmente de Levy Fidélix, Eymael, Ana Luíza do PSTU e Anaí Caproni? Não. Os quatro fazem parte do mesmo tipo de gente: aqueles tipos bizarros que você sempre vê na balada e dá risada. Ninguém leva a sério, mas eles sempre deixam o ambiente mais alegre.
Mas em quem eu devo votar?
Não faço idéia. E espero sinceramente que esse texto não oriente seu voto. Foi só uma forma descontraída de apresentar os candidatos. Talvez com um fundo de verdade. Talvez.
…melhor ainda do que o artigo dos “coxinhas”…delicioso!
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Eu conheço mais o Eymael que o Manso.
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