Um mundo em busca de alternativas

A sociedade está em um momento de transição.

Quando o comunismo se fragmentou, no final da década de 80, o neoconservador Francis Fukuyama se apressou em publicar um livro que resgatava o conceito hegeliano de “Fim da História”. Para ele, a sociedade finalmente tinha atingido o “equilíbrio final” previsto por Hegel no século XIX. Com a queda da última ameaça real ao triunfo do liberalismo, a sociedade tinha finalmente chegado ao seu ápice, como civilização.

Fukuyama não poderia estar mais errado. Duas décadas depois de sua publicação, a sociedade capitalista encontra-se à beira do colapso. O fim da “concorrência” com o regime capitalista provocou a “queima da energia” do capitalismo em um nível nunca visto antes. De maneira análoga à uma estrela que queima elementos cada vez mais pesados antes de explodir, o consumo (e seus controladores) tem demandado cada vez mais da sociedade. Se existia o capitalismo industrial até meados do século XX, o que se percebe nas últimas décadas é a infiltração do consumismo em todas as entranhas da sociedade.

Na política, as ideologias deram lugar ao descrédito, em escala mundial. Partidos são apenas  ferramentas de marketing, uma vez que capitalismo e socialismo, para eles, representam exatamente a mesma coisa: regimes políticos  feitos por profissionais, insulados da sociedade, controlados por uma oligarquia muito específica: a financeira, que controla todo o mercado de consumo.

Prova da oligarquização do capitalismo está no fato de que quase tudo o que consumimos, em nossa vida cotidiana, é produzido por apenas dez conglomerados. Essa radicalização da sociedade de consumo levou a lógica consumista a se instalar além do mercado.

A lógica do consumo vem desde a Revolução Industrial, mas tornou-se mais aguda com o advento do modo de produção Fordista/Taylorista no início do século XX. E, desde então, vem se tornando ainda mais agudo, em ciclos mais intensos, proporcionados pelo avanço tecnológico e pela intensificação das relações capitalistas.

O consumismo, que antes de refletia apenas no mercado, hoje é parte da vida. Determina a ocupação territorial (o que é mais claro nos países de desenvolvimento capitalista tardio, como os latino-americanos), determina o que os governos fazem, através das oligarquias financeiras, determina a filosofia de vida das pessoas. Um dos frágeis pilares do capitalismo atual são os títulos da dívida pública dos diversos governos no mundo. Títulos que, na prática, são feitos de dinheiro que não existe, com base apenas em algo imaterial, quase místico: a confiança dos investidores na capacidade de pagamento de determinadas nações.

A emissão de títulos da dívida pública foi a forma encontrada pelos governos nacionais de inserção na lógica capitalista. De consumir e de incentivar o consumo. De aplicar a lógica do consumo como definidora da identidade.

Para muitos teóricos, a solução não está na “inserção das pessoas na sociedade de consumo”, como preza o modelo de crescimento econômico aplicado na China, na Índia, e, em menor escala, no Brasil, nos últimos anos. Está na superação do modelo atual. Só que ainda não existem alternativas viáveis construídas. O fato é que o modelo consumista está em colapso, assim como o socialismo estava há 20 anos. Existe uma sensação de “quase-anarquia” sendo construída, análoga à sensação existente nos países da Cortina de Ferro após o colapso do regime soviético.

Nesse contexto, a Internet é o grande diferencial nas relações humanas, nos últimos vinte anos. Definidas por Manuel Castells como “Redes de Indignação e Esperança” (que é o título de seu novo livro, inclusive), os movimentos sociais surgidos na era da Internet recusam filiação partidária, recusam vínculos com o modelo atual, recusam a lógica de controle pelo medo imposta pela sociedade de consumo. Medo esse que é mais intenso entre os próprios comandantes do modelo econômico, e leva a ações violentas para manutenção do status quo.

A questão é que não existe nenhuma ideia acerca do que virá adiante. Existem apenas esperanças, que são fruto da indignação e do inconformismo com o modelo econômico consumista. Que, além de não dar conta das relações entre natureza e sociedade, não dá conta das relações sociais, produzindo um cenário de frustração coletiva, ocasionado pela diferença entre o desejo de consumo das pessoas, que tende ao infinito, e da capacidade real de consumo, que, além de limitada, é desigual.

Sem respostas, obviamente, ficam duas reflexões: a primeira de Zygmunt Bauman, em vídeo, acerca dos rumos da sociedade atual:

E uma de Manuel Castells, escrita, falando de alternativas à nossa sociedade, no momento atual:

http://www.outraspalavras.net/2012/08/03/castells-quer-tecer-alternativas/

 

 

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3 comentários sobre “Um mundo em busca de alternativas

  1. Mais um indicativo de que o sistema está próximo do colapso: o escândalo da Taxa Libor, que rompe com o paradigma da auto-regulação dos mercados. Quando o princípio da auto-regulação é violado pelo próprio mercado, é sinal de que as forças produtivas já não conseguem contrabalancear o ímpeto pelo lucro:

    http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/23795/a+fraude+da+libor+ou+o+colapso+do+principio+neoliberal+da+auto-regulacao.shtml?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

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  2. Pingback: Eventos que reproduzem a sociedade do espetáculo | Aleatório, Eventual & Livre

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