Em primeiro lugar, gostaria de explicar para vocês que a Rio+20 não é um evento isolado. Teve origem na Eco-92, a primeira das Conferências da ONU realizadas no Rio de Janeiro que discutiu com seriedade as questões ambientais e como temos explorado os recursos naturais do nosso planeta (a primeira Conferência sobre o Meio Ambiente foi realizada em Estocolmo, em 1972, de acordo com a dica da Denise de Oliveira).
Agora, estamos no Rio de Janeiro novamente, com a maioria dos líderes mundiais, e mais um monte de ONG’s e diversas outras organizações preocupadas com a sustentabilidade. Que, mais do que um marco ideológico, virou uma ferramenta de marketing.
Os desafios na Rio=20 são dois: o primeiro diz respeito à qualidade de vida do um terço da população que vive inapelavelmente abaixo das condições mínimas de vida, não podendo nem mesmo se inserir na sociedade em seu formato atual. Observando a sociedade sem vislumbrar qualquer mudança, parece nítido que desperdiçamos um terço da humanidade, que poderia estar trabalhando para o desenvolvimento econômico e tecnológico, mas é segregado e relegado a condições sub-humanas, alimentando a desigualdade social, a violência, as tensões entre povos e a insanidade geral da humanidade, que já provocou tantas guerras e atitudes horrendas, intensificadas nos últimos séculos (não por coincidência, após a ascensão burguesa no século XV, que ocasionou maior necessidade de recursos, de forma exponencial).
O segundo desafio engloba o primeiro desafio em um contexto mais amplo: a relação da população mundial com o futuro de seu planeta. Estudos já dão conta de que consumimos 50% além da capacidade de reposição de nosso planeta. A situação não é preocupante apenas porque estamos “devendo” para o planeta, explorando-o além do que podíamos. É preocupante, principalmente, porque esse nível de exploração está aumentando muito rapidamente. Para termos ideia, há 10 anos explorávamos o planeta 42,5% além de sua capacidade. No ritmo atual, por volta de 2080 estaremos explorando o planeta além do dobro de sua capacidade. Com consequências catastróficas.
Por isso, precisamos usar a Rio+20 para convencer os governantes, de alguma forma, a sair do discurso e ir para a prática. O planeta está usando uma espécie de cheque especial na natureza. E, assim como os bancos, a natureza vai cobrar essa conta com juros. Você pode não sentir isso hoje, pensando que o planeta não está perto de estourar seu limite de crédito, mas a situação não é bem assim. Se continuarmos crescendo nesse ritmo, sem foco na inclusão dos que estão abaixo da linha da pobreza e no planeta que entregaremos às próximas gerações, é bem provável que os netos de nossos netos vivam num mundo catastrófico, nos moldes do descrito por uma partida de Civilization jogada por dez anos.
A Escala de Kardashev mede o desenvolvimento tecnológico das civilizações. A humanidade está ingressando em um patamar, nessa escala, que nos impele a uma pergunta: até quando poderemos viver baseados em um estilo de vida que não controla a energia consumida pela humanidade? Obviamente explorar recursos energéticos externos ao planeta ainda não é uma possibilidade, em nossa civilização, e, se não aprendermos a explorar os recursos do planeta Terra de forma racional, jamais será.
Sustentabilidade não é um conceito de marketing. É pensar nas pessoas, nos grupos sociais, nas cidades e no planeta como conceitos que devem ser eternizados. Como coisas que devem durar pela maior quantidade de tempo possível. E o pensamento na Rio+20, de construir um mundo mais sustentável, deve ser justamente esse: o de ter um mundo que não corra riscos para as próximas gerações, que mantenha a sua biodiversidade, que preserve todas as belezas que ainda temos hoje.
Como numa corrida de revezamento, a Rio+20 é a chance de sabermos para onde e em que velocidade vamos correr. Em que condições entregaremos o bastão do planeta. Talvez a última, na nossa geração. É necessário que entreguemos para a próxima geração um mundo melhor do que aquele que tomamos da última.