Um coronel da PM disse que os restaurantes de São Paulo deveriam ser obrigados a pagar seguranças particulares para funcionar. Essa semana a Polícia Militar também sugeriu o fechamento das estações de metrô próximas a estádios em dias de jogos.
Por outro lado, existe uma ânsia pela instalação de catracas e cancelas nos mais diversos espaços. A USP, que deveria ser um ambiente de liberdade e contestação, é exemplo disso.
Não vou questionar aqui se a iniciativa é de um governo específico ou de uma sociedade. Mas as duas iniciativas, assim como inúmeras outras que vemos em nossa sociedade, tem uma única perspectiva: a privação da liberdade das pessoas, em troca de segurança.
Todas as guerras, durante a história da humanidade, tiveram como pano de fundo a luta pela liberdade, em alguma escala. Todas as guerras começam com alguém se revoltando contra uma situação de opressão ou com algum governante tentando privar outro povo de sua liberdade.
As experiências práticas do socialismo deram errado não porque o sistema é pior ou melhor do que o capitalismo. Mas porque, devido ao ambiente externo de ameaças ao regime, os governos socialistas oprimiram o povo através da manipulação da realidade e da privação de liberdades individuais. Ninguém pode aderir a uma ideia obrigado ou sob tortura. Todos devem ter a liberdade de escolher. O maior valor que um ser humano deve prezar é a liberdade. De pensar, de se manifestar, de ir e vir, de viver, de sonhar. Amartya Sen, laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 1998, tem uma das melhores definições sobre o assunto:
“Vivemos um mundo de opulência sem precedentes, mas também de privação e opressão extraordinárias. O desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de cidadão“
Só teremos uma sociedade madura e desenvolvida quando eliminarmos todas as privações de liberdade das pessoas.
Só que,atualmente, estamos caminhando no caminho contrário. As pessoas negociam sua liberdade em troca de uma “sensação de segurança”, que é algo altamente subjetivo. Compra-se o isolamento, proíbe-se a interação.
Só tem medo da interação quem tem algo a perder. A ânsia por segurança é a ânsia por separação social, pela formalização da desigualdade social, é a ânsia de ser opressor e ter orgulho disso.
A violência só está disseminada em toda a sociedade porque ela proíbe. Porque ela promove a desigualdade. Porque ela privilegia alguns, enquanto pisa no resto. E esses privilegiados acham melhoro isolamento do que o relacionamento. É mais fácil fugir do que incomoda do que enfrentar. É mais fácil ignorar uma realidade do que modificá-la.
Por isso, cada vez mais as pessoas trocam sua liberdade por uma sensação irreal de segurança. Cada vez elas querem estar em ambientes fechados, cheios de catracas, de preferência pagando para entrar, por “diferenciação”.
Na sociedade atual, o dinheiro compra tudo. Mas ele não pode comprar um milimetro que seja (se é que isso é mensurável) de nossa liberdade. Uma liberdade baseada sobretudo no profundo respeito às pessoas. Uma liberdade que entende que cada um de nós só será livre quando todos forem livres, quando todos tiverem oportunidades, quando todos inclusive tiverem a chance de quebrar a cara e tentar de novo.
A liberdade de todos sempre valerá mais do que a segurança de alguns.
Perfeito!!
Concordo com absolutamente tudo.
Parabéns pela analise.
“A liberdade de todos sempre valerá mais do que a segurança de alguns.”
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