Se existe uma posição ingrata, em qualquer coisa que se faça, é o quarto lugar.
Nos esportes, em geral, os três primeiros lugares são premiados. Existe uma famosa corrente de Internet (bem piegas, por sinal), falando acerca do valor do tempo, dizendoque “para você aprender o valor de um milissegundo, pergunte a alguém que recebeu a medalha de prata na Olimpíada.” Tá errado. O segundo lugar vai levar uma lembrança do feito dele e vai ser reconhecido pra sempre por isso. Pergunte pro 4º lugar, esse sim sabe o que é sofrer.
Você se recorda, por exemplo, dos candidatos que foram 4º lugar nas eleições para presidente? Até do 3º lugar, que nem foi para o segundo turno, as pessoas costumam lembrar. Enéas em 1994, Ciro Gomes em 2002, Heloísa Helena em 2006, Marina Silva em 2010. Agora, os 4ºs colocados nem “terceira via” são considerados. São apenas figurantes. Pessoas que saíram da eleição sem criar quase nenhum capital político.
O jogo mais melancólico em Copas do Mundo ou Olimpíadas nunca é o jogo entre duas seleções já eliminadas na primeira fase ou coisa do tipo. É a disputa do 3º lugar, sempre. O 3º lugar ainda resgata alguma honra. O 4º lugar, em geral, cai no esquecimento. O desprezo ao 4º lugar é tão grande que, quando ele é fruto de uma campanha excepcional, como a da Bulgária na Copade 1994 ou a do Uruguai na Copa de 2010, as pessoas simplesmente se esquecem do 4º lugar e passam a se referir às seleções de maneira diferente, como “semifinalista”. Ou algum de vocês, em discussões acaloradas sobre futebol, nunca lembrou da “Bulgária do Stoichkov que chegou na semifinal na Copa de 94”?
Em esportes individuais, como a natação e o atletismo, a frustração é ainda maior. Porque o 4º lugar sempre ficou a um passo ou a uma braçada de distância da conquista, da glória, de ser lembrado. Caso emblemático é o do tenista Fernando Meligeni, que é mais lembrado pelo ouro no Pan-Americano de Santo Domingo, onde encerrou sua carreira profissional, do que pelo 4º lugar nas Olimpíadas de Atlanta.
O Brasil ficou em 4º lugar em uma Copa do Mundo uma única vez,em 1974. Foi um dos maiores anticlímax brasileiros em Copas do Mundo, a exemplo de 2006. O Brasil tinha acabado de vencer a Copa de 1970, e, embora tivesse sem Pelé, era uma seleção fortíssima, com muitos jogadores que haviam sido tricampeões do mundo quatro anos antes, e o mesmo treinador (Zagallo). No entanto, a seleção tomou uma aula histórica de futebol do Carrossel Holandês na semifinal, e, destroçada, perdeu a decisão do 3º lugar para a Polônia. Foi a senha para uma renovação total. Da Copa de 1974, permaneceram, para a Copa seguinte, apenas os goleiros Leão e Waldir Peres, os meias Rivelino e Dirceu e o lateral Nelinho.
O 4º lugar é uma posição ingrata. Uma posição triste. A posição de quem olha para os vencedores comemorando no pódio e sofre sozinho, com o peso de seus próprios erros nas costas, tentando entender o que deu errado. Uma posição em que não há prêmio de consolação, em que não há reconhecimento, em que, no final, todo o trabalho não foi suficiente.
O Brasil é um país em que nem o vice-campeão é reconhecido. O 4º lugar, então, cai no mais completo esquecimento. O único lugar em que as pessoas ainda valorizam o 4º lugar é no Campeonato Brasileiro. E não porque a posição traz alguma honra, mas porque traz uma vaga na Copa Libertadores da América do ano seguinte.
O quarto lugar, que também pode ser o segundo, o terceiro, o quinto, o sexto, ou qualquer outro lugar, é sempre a primeira posição após aqueles que atingiram seus objetivos. É a posição que passa perto. A posição do quase. A posição que é vítima do imponderável.

Seleção italiana de 1982: a de melhor desempenho após um quarto lugar
É, antes de tudo, a posição em que estão aqueles que não merecem a sua gozação, mas o seu incentivo. O quarto lugar de hoje pode ser o campeão de amanhã. Como foi a Itália de Paolo Rossi, em 1982, quatro anos após perder a disputa do 3º lugar para a seleção brasileira, na Copa do Mundo disputada na Argentina.
boa analise. vamos criar um meme – quarto lugar da vida
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Hahahahahahaha, “quarto lugar da vida” é bacana.
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