Essa semana foi marcada por um protesto contra a desindustrialização que reuniu sindicatos patronais e de trabalhadores em frente à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. A diminuição da participação da indústria no PIB é uma das principais causas do protesto.
O tema do texto não é a desindustrialização em si, que não é um fenômeno brasileiro, mas um fenômeno global. De acordo com a ONU, todas as principais economias do mundo tiveram forte recuo da participação industrial na economia. A intenção é desconstruir a falácia do setor industrial brasileiro, que insiste em determinar o Custo Brasil como a principal causa de perda de competitividade por parte da indústria brasileira.
Dentre as justificativas, estão o custo dos salários de nossos políticos, muito altos, o excesso de corrupção, a falta de infra-estrutura, dentre outros. Todos eles tendo como alvo o governo, nunca os próprios empresários. E espalhado por gente como o proto-político Paulo Skaf, presidente da FIESP.

Paulo Skaf, presidente da FIESP
Em minha concepção, o problema industrial brasileiro tem origem em uma característica peculiar e cultural do brasileiro, eternizada pelo ex-jogador Gérson: a necessidade quase patológica de levar vantagem em tudo. Um trecho despretensioso de uma propaganda de cigarros acabou se tornando um dos raros virais brasileiros anteriores à Internet. A frase “eu gosto de levar vantagem em tudo, certo?” acabou virando um fenômeno sociológico, explicando algumas atitudes de boa parcela dos brasileiros:
No caso do Custo Brasil, é possível concluir algumas coisas. A primeira delas é que, de fato, a abertura comercial traz à indústria novos desafios. No entanto, a maioria dos países enfrentou esses desafios investindo em inovação, e não reclamando de desindustrialização e pedindo mais protecionismo aos governos. Mesmo porque o Brasil já é o sétimo país mais protecionista do mundo.
Existem três exemplos que denotam bem a aplicação profissional dessa necessidade brasileira de levar vantagem em tudo. Dois industriais e um no setor de serviços. O primeiro deles é o das montadoras de automóveis. O Brasil montou seu parque industrial automotivo dentre das décadas de 30 e 60, baseado em plantas de multinacionais do setor. Os incentivos à indústria automotiva se estendem até hoje, como fruto de um pesado lobby das mesmas. Temos 21 indústrias automotivas instaladas no país, e nenhuma delas é nacional.
Dentre os 10 maiores mercados automotivos do mundo, apenas Brasil e Canadá não possuem fábricas próprias. No entanto, o Canadá possui acordos de livre comércio com os EUA que barateiam sensivelmente os custos de produção e importação no país.
O Brasil tem o carro mais caro do mundo. E isso por causa do lucro das empresas, e não dos impostos cobrados, como argumentam federações como a Anfavea, que sempre usam impostos como pretexto para aumentarem os valores de revenda dos automóveis. O carro mais barato do país atualmente, o Ford Ka, custa, sem nenhum opcional, R$ 23.650,00. Na cotação de 05 de abril, quase US$ 13 mil. Considerando a renda média do brasileiro, que é de R$ 1699,70, gastamos quase 14 meses de salário para comprar o carro mais barato do país.
A conta fica ainda mais inexplicável quando são contabilizados os lucros enviados pelas montadoras brasileiras ao exterior: apenas em 2011, eles chegaram a US$ 5,6 bilhões. Considerando que existe uma limitação legal em 30% para envio de remessa de lucros ao exterior, podemos calcular o lucro das montadoras brasileiras, em 2011, em, no mínimo, em US$ 18,7 bilhões. Algo que oscila, de acordo com a cotação do dólar em 2011, entre 30 e 35 bilhões de reais. Os lucros das montadoras brasileiras são sigilosos e atrelados às matrizes, mas sabe-se, por exemplo, que a GM brasileira foi determinante na recuperação da concordatária GM americana, em pouco mais de um ano. Graças aos lucros exorbitantes das montadoras daqui.
Tal estrutura de lucros também acaba com as tentativas de produção de um veículo genuinamente nacional. A tentativa mais célebre foi feita por João Amaral Gurgel, que produziu veículos no país entre 1987 e 1994, mas foi vítima de uma abertura econômica mal planejada e mal executada pelos governos Collor e Itamar Franco. Abaixo, uma entrevista em que Gurgel mostra as dificuldades enfrentadas por ele, como industrial:
O segundo setor é o imobiliário. As construtoras reajustaram, nos últimos anos, os preços dos imóveis a índices abusivos nas grandes metrópoles brasileiras, formando uma bolha imobiliária localizada nas regiões metropolitanas brasileiras (para mais informações, leia esse texto, e depois esse). Tal ânsia por lucros afeta o próprio planejamento urbano, provocando uma explosão de desigualdade social nas cidades. É claramente insustentável a médio e a longo prazo, e poderá culminar com uma explosão na inadimplência dos mutuários em breve (ou em uma quebradeira generalizada das construtoras, se o governo não intervir).
O terceiro setor em que é notório o desejo de se levar vantagem em tudo é o bancário. Em outubro, quando da greve dos bancários, já fiz uma reflexão sobre o assunto. Os bancos brasileiros são os únicos do mundo que não necessitam de alavancagem, pois se sustentam apenas com tarifas. E, ainda assim, cobram os spreads bancários mais altos do mundo. O problema é tão grave que o governo atual estuda atacar radicalmente o spread bacário, através dos bancos públicos. Enquanto a taxa de juro básica da economia brasileira, a Selic, está em 9,75% ao ano, bancos chegam a cobrar até 19,90% ao mês, ou 245% ao ano, em taxas como o pagamento rotativo dos cartões de crédito.
Tudo isso torna o lucro dos bancos brasileiros incrivelmente altos para a estrutura e o nível de alavancagem dos mesmos. Tanto que, nessa época de crise na União Européia, o Santander Brasil foi decisivo para a recuperação da matriz espanhola.
É normal que você esteja se perguntando, nesse momento, se eu vou ter a calhordice de defender que, na verdade, o Custo Brasil não existe. Obviamente que não. O Custo Brasil existe sim, mas é provocado pelo mesmo motivo que leva os três setores da economia citados a acumularem lucros tão exorbitantes: o desejo de se levar vantagem em tudo. O excesso de corrupção, a burocracia de agentes públicos “criando dificuldades para vender facilidades”, a falta de infra-estrutura, é tudo fruto dessa mentalidade mesquinha de boa parte dos brasileiros, no setor público e no setor privado, em levar vantagem em tudo. Os brasileiros pagam caro pelo que consomem e pagam altos impostos por conta do anseio de políticos e empresários em lucrarem acima do que seria considerado justo.
Na verdade, o brasileiro médio é tão calcificado pela falta de educação formal e pela falta de senso crítico que não consegue nem mesmo formar uma noção razoável de justiça. Não consegue quantificar o valor justo de um produto ou de um serviço, e também não consegue compreender situações abusivas de forma conclusiva.
Nesse caso, de fato, fica mais fácil atacar o governo, por um único motivo. O governo é um agente público, impessoal, distante, disperso em diversos rostos. A noção de “classe”, torna essa “instituição” chamada poder público, nas três esferas (Executivo, Legislativo e Judiciário) e nas três instâncias federativas (União, Estados e Municípios), mais fácil de ser atacada e culpada por todos os problemas de nossa sociedade. Mas a culpa não é só do poder público. É da nossa noção individualista de deixar a justiça de lado para levar vantagem em tudo. A conclusão é que o Custo Brasil existe, diminui a eficiência das empresas, mas é alvo de um marketing agressivo utilizado para os empresários do país, nas mais diversas áreas, fazerem lobby junto aos governos e à opinião pública, buscando vantagens que, em muitas oportunidades, margeiam a lei.
Além de todos os malefícios já citados aqui, a necessidade de empresários e políticos de levarem vantagem em tudo trazem duas consequências negativas imediatas sobre a própria sociedade:
A primeira delas é o desestímulo à inovação. O Brasil nunca ganhou um Prêmio Nobel (*) por não investir em educação e pesquisa científica. Mas também por ter a inovação historicamente desestimulada pela intenção de muitos em levar vantagem em todos osaspectos, utilizando “jeitinhos” para isso, à margem da lei. O trabalho contínuo e o acúmulo de conhecimento nunca foram valorizados no país. No lugar disso, são valorizados os atalhos. E preferimos, por exemplo, taxar importados à inovar, fazer lobby à inovar, ou fornecer escolas particulares de nível superior de péssima qualidade ao invés de investir continuamente em educação.
A segunda, e mais grave, é o aumento das brutais desigualdades sociais do país. Se alguém tenciona levar vantagem em tudo, por mais que seja anti-ético, por muitas vezes consegue. E, quando alguém leva vantagens indevidas, alguém sempre é desfavorecido. E tal relação só aumenta as diferenças sociais entre ricos e pobres. E tais diferenças só são diminuídas artificialmente pelos governos, através de programas de transferência de renda. Mas, mais uma vez, a solução para tal disparidade está no aumento sensível e contínuo do nível da educação pública. E com um sistema legislativo que funcione efetivamente, impondo sérias punições a comportamentos de mercado condenáveis.
Na próxima vez que um empresário citar o Custo Brasil em um discurso, tenha uma certeza: ele está fazendo lobby. Para pagar menos impostos e para jogar a sociedade contra o governo. É tão irritante quanto aquele jogador de futebol que fica se jogando no chão a cada trombada para jogar a torcida contra o juiz ou quanto aquele guri de oito anos que faz escândalo e chuta o tabuleiro estragando a brincadeira de todo mundo, depois de perder no Banco Imobiliário. São coisas que devem ser ignoradas, porque o nosso problema não é o Custo Brasil. É a cultura de levar vantagem em tudo que é aceitável, por boa parte dos brasileiros, eternizando as desigualdades sociais e e desenvolvimento torto e manco do país.
(*) O Brasil nunca teve um vencedor em uma das seis principais categorias do Prêmio Nobel: Medicina, Economia, Física, Química, Literatura e Paz. Em 1994 o geógrafo Milton Santos ganhou o Prêmio Valtrin Lud, maior distinção internacional na área e considerado por muitos como um “Prêmio Nobel da Geografia”.
Brilhante texto, Leo. O Custo Brasil, na verdade, é resultado de um conjunto de fatores que agem simultaneamente. Os altos impostos e taxas, a péssima condição de infraestrutura (principalmente no ramo logístico), a abertura irracional da nossa economia, o alto custo do setor público (diretamente relacionado à corrupção e incompetência administrativa), tudo isso contribui para coisas absurdas como, por exemplo, pagarmos por um carro popular o mesmo preço de um sedan de luxo nos EUA. Mas, o que poucos dizem, as taxas de lucro exercidas pelas nossas empresas, principalmente as multinacionais, contribuem significativamente para o preço final das mercadorias brasileiras. Muitas dessas multinacionais utilizam grandes economias do dito mundo “subdesenvolvido” para estabilizar sua condição financeira, principalmente em tempos de crise como os atuais. Isso se não falarmos dos salários absurdos dos executivos no Brasil. Uma amiga minha que trabalhou no RH do Santanther, simplesmente disse que o rendimento anual do diretor do banco, juntamente com prêmios e participação nos lucros, era em torno de R$16 MILHÕES! Que acha disso?
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Nem precisa falar nada. 16 milhões de reais anuais pra um executivo é um negócio inadmissível, mesmo incluindo bônus. Parece a situação dos executivos do Lehman Brothers, do JP Morgan e do Goldman Sachs antes da crise de 2008. Na bolsa americana, dizia-se que para bônus de executivos “o céu era o limite”. Os donos de bancos islandeses que quebraram na crise de 2008, além de presos, foram obrigados a devolver pro país os bônus milionários que receberam.
Essa política de bônus absurdos só contribui com o aprofundamento dessa filosofia de se levar vantagem a qualquer preço. Porque, no final, ela é recompensada.
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Lembra de mim, Leo? Precisamos tomar uma cervejinha… Abraço!
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Pô, claro que eu lembro de você Affonso, jamais ia esquecer de ti. Tá morando aonde, em SP? Que daí as coisas facilitam consideravelmente, hahaha.
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Ainda estou aguardando pra marcarmos alguma coisa, hahaha. Abraço!
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Fiquei impressionado com a compilação simples de “sucessos” de nossa indústria e a simplicidade na comunicação. Muito bem escrito o texto e fica impossível discordar de uma virgula.
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A única coisa que posso dizer; que excelente artigo, retrata perfeitamente o Brasil. A ganância do setor privado e a ineficiência e corrupção do setor público.
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Uma única ressalva ao texto: o lobby dos empresário vai bem mais longe, incluindo os “encargos trabalhistas” como um dos vilões do Custo Brasil.
A “desoneração da folha” é uma reivindicação antiga da classe patronal.
Os empresário dizem, com a maior cara de pau, que cada salário implica em 100% de custos para o empregador. Com isso, insinuam que o salário dos trabalhadores poderiam dobrar, não fosse a ganância do Estado, esse glutão corrupto do dinheiro privado. Uma tentação para os trabalhadores, que sempre querem aumentar seus salários.
O que NUNCA é esclarecido é que, para chegar nos impressionantes 100%, os empresários incluem encargos como o 13º salário; as férias remuneradas de 30 dias anuais com acréscimo de 1/3; o FGTS; e, pasmem, o descanso semanal remunerado!
Para os empregadores, esses seriam gastos extras impostos pelo Estado, criando custos onde não deverim existir. Não são exatamente taxas que somem no ralo do Estado, não é?
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Muito bem lembrado. E isso denuncia que os empresários, em geral, não querem que o Brasil tenha uma indústria top, hoje, mas sim um parque industrial similar ao chinês ou ao vietnamita, com funcionários ganhando salários pífios, de menos de 100 dólares por mês, enquanto empresários tem lucros milionários. É a lógica da desigualdade e a necessidade de aplicá-la de maneira cada vez mais instensa.
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Adorei o texto. Impecável mesmo.
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A tempos leio os artigos do blog e nunca comentei. Mas esse texto é admirável. Quando vi o título pensei ser mais um a defender a existência do custo Brasil colocando a culpa no governo e seus impostos, mas assim que começei a leitura percebi que se trata de um texto realmente crítico às falácias que tanto acostumamos a ouvir de empresários e comentaristas/jornalistas “especializados” (pra não dizer comprados) nos jornais, revistas e internet. Se 10% da população brasileira fosse capaz de ler e compreender este texto talvez a realidade de nossa economia e os custos absurdos que pagamos por produtos básicos e de péssima qualidade fossem diferentes. Parabéns pelo artigo Léo.
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Agradeço muito por suas palavras. E concordo integralmente com elas, em relação ao Custo Brasil. Um abraço!
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Léo, neste ano estou fazendo meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) cujo o tema é exatamente o “Custo Brasil”, mas, voltado para a competitividade que nossos manufaturados enfrentam frente ao comércio exterior. Percebi logo de cara que o tema é bem polêmico, pois, a vários “comentários” referente ao tema. No momento estou apontando todos entraves que nossos produtos enfrentam no processo produto, tornando assim, nossos preços mais caros em relação aos preços de outros países. Minhas escritas até o momento sempre levam como sendo um dos, senão o único culpado, o Governo. Mas percebi que há “alguns” comentários, como o seu, que distorce praticamente tudo o que escrevi até o momento. Gostaria de lhe pedir uma opinião. Que rumo devo seguir no meu trabalho em relação ao famoso termo “Custo Brasil”?
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César, muito obrigado por comentar a respeito.
A verdade é que nenhum trabalho acadêmico que aponte um único responsável pelo problema do Custo Brasil abrange de forma suficiente a questão.
Se você quer fazer uma pesquisa de qualidade, você deve pensar que uma parcela relevante da culpa é a ineficiência da máquina estatal sim, que historicamente foi engessada e pródiga em criar dificuldades para vender facilidades, em um cenário que, em muitos lugares, lembra até hoje o patrimonialismo do século XIX.
No entanto, seu trabalho dará um salto qualitativo muito grande se você considerar como parte relevante do Custo Brasil o nosso empresariado. Os empresários brasileiros passaram a maior parte da história do país fazendo parte de uma política de substituição de importações muito protecionista, investindo pouquíssimo em inovação e em melhoria de produtividade. Nosso custo de vida alto, em algumas áreas específicas, é reflexo direto dessa falta de investimento em inovação. A culpa, longe de ser dos funcionários, é do baixo valor agregado da maior parte dos produtos do setor secundário no Brasil. Pouquíssimos produtos aqui são feitos com alto investimento tecnológico. O Brasil é um país muito mais consolidado como montador do que como desenvolvedor de tecnologia.
Além disso, e essa é uma análise menos econômica e mais social, há um fator importante: a desigualdade social histórica é causa ou consequência (há controvérsias) de uma mentalidade mesquinha das classes mais favorecidas, que tenta, de toda maneira, levar vantagem em tudo e sobre todos. Infelizmente isso não pode ser quantificado. Mas a desigualdade social pode, e é fruto direto dessa relação.
Enfim, espero ter ajudado. Quaisquer dúvidas adicionais pode falar, que estou à disposição. Um abraço!
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Acho que o Brasileiro em geral perdeu muito a sensação de causa e efeito, em geral acham que a sua opinião ou sua ação é muito pequena para gerar algum resultado. Falta algo mais nacionalista no sangue deste povo, eles mal conhecem o hino da pátria que vivem, por que lutariam por algo bom que aconteça nesse solo? a visão de futuro para o brasileiro é algo fictício e intangível, que se apaga no consumismo que alem de consumir a merreca do que eles ganham os fazem trabalho inesgotavelmente pra ter certeza de que nada vai mudar.
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Eu concordo integralmente com o artigo. Mas acho que faltou apenas UMA variável: o consumidor. Por falta de educação, instrução, ou qualquer outra coisa que me falha o vocabulário, o brasileiro paga pelos produtos, não importa quanto eles custem. Um carro aqui é caríssimo, o lucro por montadora por veículo é o dobro do segundo maior lucro (México, se não me engano), o preço é assustador. Mas ainda assim a indústria automobilística bate recorde sobre recorde de vendas. Quem compra um carro zero, REALMENTE precisa de um carro zero?
É uma mistura de estupidez com falta de informação. Estupidez pq o brasileiro, no geral, sente a necessidade de se auto-afirmar com o carro novo, mostrando pros outros que ele é uma pessoa “que se deu bem na vida”. Falta de informação pq ele está claramente sendo roubado.
O consumidor tem uma boa parte da culpa, pelo menos nos bens supérfluos. Se ninguém comprar, o preço automaticamente tem que abaixar. Se o governo isentar impostos, a única coisa que vai acontecer será a indústria lucrar mais. Ela não vai abaixar o preço, vai é ganhar mais dinheiro. Não teve aquele executivo da Mercedes que disse isso? “pra que eu vou abaixar o preço se tá vendendo?”…
E aí temos um outro problema, e esse problema é falta de instrução mesmo: o das prestações. A indústria, especialmente a automobilística, já percebeu que, se ela dividir em 5 anos, o consumidor compra o carro dela, paga o dobro do valor dele (que já é assustadoramente alto) e, no final dos 5 anos (Às vezes menor), troca de carro, normalmente por um da mesma montadora. É o negócio perfeito, se vc olhar do ponto de vista da montadora. E quem poderia parar com isso? Só e apenas só o consumidor. Não adianta o governo tabelar, não adianta isentar impostos, não adianta AUMENTAR impostos, nada disso vai resolver. O brasileiro, “apaixonado por carro” como gostam de dizer por aí, tem é que parar de ser otário. E eu acho isso bem complicado de acontecer.
Só complementando o seu ponto de vista, sorry se eu me empolguei e acabei escrevendo demais. Seu texto está excelente, sem nenhuma dúvida, deu até gosto de ler algo tão bem escrito e que vai diretamente no cerne da questão.
Kudos infinitos!
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Opa, agradeço as palavras. Bacana mesmo é encontrar mais pessoas que pensem da mesma maneira, como você.
E a questão do consumidor é exatamente essa que você disse: estupidez e falta de informação. Creio que é um traço cultural herdado da época (até 1990) em que o mercado brasileiro era fechado para produtos do exterior. Na prática, as empresas praticavam o preço que quisessem, pois não havia concorrência em escala internacional.
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Cara, só posso dizer uma coisa sobre esse texto: BRILHANTE!! Empresários e políticos, destruindo o Brasil desde que me dou por gente. Mas o brasileiro é otário. Aqui na minha cidade eu posso ver que as pessoas vendem seus votos por pneus de carro, muros de casas, e pasmem, até secadores de cabelo. Tem gente aqui que constrói casa de quatro em quatro anos. E ainda saem se gabando por terem ganhado mais do que o vizinho. Mal sabem eles que esse dinheiro já foi tirado deles durante quatro anos, e que agora está sendo remetido em parte de volta a eles. Eles não querem a dignidade de poder comprar o que querem no local onde bem entendem, afinal de contas o Bolsa Família te dá R$64 todo mês pra você sobreviver; e olha que magnífico, agente ainda pode comprar medicamentos por apenas R$1 nas Farmácias Populares. Esse nosso governo faz mesmo tudo pensando em nós. E olha agora, podemos comprar carros com IPI baixíssimo graças a pressão de empresários e as calças frouxas dos nossos governantes. Isso tudo porque nossa memória é fraca e o aumento de 30% no IPI dos importados no final do ano passado caiu no esquecimento. “Agora agente dá 7% e os cachorrinhos manipulados vão correndo às concessionárias se meter em dívidas impagáveis de 60 meses, afinal os juros estão baixíssimos, só 1,89% ao mês. Vamos aumentar a inadimplência? Sim! Mas o que é isso pra Bancos que têm o maior spread do Mundo?” E pensar que eu com meus poucos 22 anos de idade sou possuído de tamanha indignação, mas fico de mãos atadas ante a essa população promiscua e interesseira, que como diz o texto, quer levar vantagem em tudo, esquecendo o real significado de dignidade, honra e trabalho duro. Brasil! Onde o pão e circo valem a revolta de milhares de fanáticos cujo ideal de realização como pessoa é participar da magnanima seleção de Ronaldos, Neymares e afins! Entender o Mundo? Pra quê? O espelho embaçado não reflete o verdadeiro palhaço!
Matthews C. Kort-Kamp
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Me explique se possível: a indústria têxtil nacional hoje é nula, muitas fábricas quebraram e os varejistas passaram a comprar produtos fabricados na Ásia. Isso tudo em um cenário nacional protecionista. As fábricas quebraram porque os empresários gananciosos acharam que os lucros não eram suficientes, ou por causa do custo Brasil?
As pessoas sempre buscarão alocar o seu dinheiro da melhor maneira possível. Os consumidores naturalmente escolherão a alternativa mais barata dentre produtos similares e os empresários procurarão investir nos segmentos mais lucrativos. Quando isso ocorre, os preços tendem a abaixar. Sendo assim, por que novos bancos não são formados, já que o negócio é lucrativo? Por que não existe uma montadora nacional? Porque falta liberdade econômica, porque existe capitalismo de compadres (crony capitalism), porque há excesso de regulação, porque há instabilidade nas leis, porque há barreiras de entrada impostas pelo governo.
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Aí eu te respondo com um exemplo da própria indústria têxtil nacional: enquanto a indústria têxtil popular padece, a têxtil de luxo prospera. E isso porque, mesmo com as barreiras impostas, o produto estrangeiro acaba entrando no país por um preço menor. E isso acontece muito em setores como a indústria têxtil e a de utensílios domésticos, por exemplo.
Concordo que a política governamental contribui, e que as empresas brasileiras só praticam preços abusivos porque são protegidas. Daí vivemos um capitalismo de estado que sustenta cartéis pouco produtivos em nome dos “empregos”. E é esse o jogo das empresas. Elas continuam sendo protegidas porque a cada ameaça de desoneração elas ameaçam o governo com demissões. E o que sustenta TODA a política econômica do governo atual é a baixa taxa de desemprego nominal. Se ela sobe, a capacidade de consumo da população cai, gerando um efeito dominó que vai terminar em uma recessão.
O que precisamos entender como “custo Brasil” aqui é que ele não é só “culpa do governo”, como se alardeia por aí. É sim culpa dos governos em não terem políticas econômicas vantajosas e permanecerem reféns desse grupo de empresários de alguns setores da economia em nome de uma política econômica simplista e de curto prazo, mas é culpa também desse grupo de empresários que ganha subsídios e faz lobby junto ao governo para manterem taxas de lucro exorbitantes no país. As montadoras, por exemplo, remeteram para o exterior US$ 12,1 bilhões de lucros entre 2010 e 2012. E eles só podem repassar para suas matrizes 30% do lucro total. O que quer dizer que o lucro das montadoras entre 2010 e 2012 foi no mínimo de US$ 40 bilhões.
É um valor alto demais, sem paralelo em mercado similar nenhum.
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A culpa não é do governo, mas sim do governo? Ora, quem patrocina o corporativismo não pode ser mais ninguém que o própio governo. Desregulamente qualquer área e logo verá que, se houver lucro, logo haverá concorrência. E com concorrência decorre queda dos preços.
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Isso pode ser verdade em setores em que o custo de instalação, de produção e do produto final são relativamente baixos. Mas aqui estamos falando de empresas que tem um custo inicial de bilhões para operar e começar a produzir algo que dê dinheiro. E daí essas empresas e o governo acabam construindo uma relação pouco saudável para a população, e a culpa é compartilhada. Ao mesmo tempo em que os governos são culpados por abrirem brechas para esse lobby, as empresas também tem sua parcela de culpa ao exigir privilégios do governo que atentam completamente contra o livre mercado.
O problema é que os governos pensam apenas no curto prazo, na taxa de desemprego dos próximos 3 meses e em coisas do tipo. Daí faz uma eterna barganha que eterniza privilégios a setores específicos e inclusive ajudam a aumentar as desigualdades do país.
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Os agentes fazem lobby, pressionam o governo, cobram preços abusivos apenas jogando as regras do jogo, poderiam fazer em qualquer país que permitisse. A culpa é sim do governo que, impondo suas políticas, abre brecha para que essa situação ocorra.
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