Não escrevi mais sobre os últimos acontecimentos, estejam eles ocorrendo aqui em São Paulo, em São José dos Campos, no Rio de Janeiro, na Somália, na Nigéria, na Síria, ou em qualquer lugar. E isso por dois motivos simples. O primeiro é que me falta tempo. E segundo é que me falta alento e me sobra revolta. E não sei manifestar isso adequadamente.
Os últimos fatos ocorridos (e estou falando da Cracolândia, de Pinheirinho, dos protestos em Teresina, Vitória e no Recife) só me mostram claramente uma coisa: estamos em uma geração que não se sente representada pela estrutura política que detém o poder. E grande parte do desinteresse do brasileiro pela política também parte daí: o brasileiro, especialmente o jovem, não se sente representado pelas estruturas partidárias existentes.
É absurdamente deprimente que, depois da redemocratização, tão poucos partidos políticos tenham sido criados. E, geralmente, por dissidências de partidos já existentes (como foram os caso do PSOL e do PPL, por exemplo), ou por projetos políticos pessoais, como é o caso do PSD.
É impressionante também que existam tantos partidos minúsculos, sem ideologia, criados à reboque quando da redemocratização do país, permanecendo até hoje com a verba do fundo partidário. O fundo partidário deveria ser extinto. Porque o ciclo político é assim, ideologias são superadas e dão espaço para novas ideologias. Mas, no Brasil, o sistema político é pautado pela imobilidade. Partidos arcaicos tentam se repaginar mantendo a mesmo estrutura, como foram os casos do DEM (antigo PFL) e do PR (antigo PL). Obviamente, sem nenhum sucesso.
Eu vejo nas ruas, nas redes sociais, nas universidades e empresas, uma geração de jovens disposta a se engajar na política. Mas que não se sente representada por nada que está aí. Isso porque a estrutura dos partidos está paralisada na década de 80, com ideologias e realidades que remetem àquela época. Não há partido realmente voltado para o futuro, que atenda as demandas e aos anseios dessa geração de jovens.
Percebo que a maioria dos jovens com senso crítico acaba sendo obrigado a utilizar uma prerrogativa destruidora nas eleições: a do “voto negativo”. O voto negativo é um conceito político relativamente simples, utilizado com maior ênfase com eleições decididas em dois turnos, em que uma pessoa vota não por admiração, mas por eliminação. Por medo do outro candidato. É o conceito do “não-voto”. A democracia às avessas. O medo é uma arma política e a intimidação é uma forma de evitar mudanças no status quo.
Todas as gerações foram contestadoras, todos os grupos de jovens com senso crítico transformaram suas gerações de alguma maneira. Mas vejo que a atual geração de jovens está perdida. A atual geração de jovens não se sente representada por ninguém. Há algum tempo, defendo um novo modelo de partido político, que seja capaz de representar uma geração familiarizada com as novas tecnologias de informação e comunicação.
Existe uma distância cada vez maior entre a estrutura política brasileira e os jovens idealistas do país. Essa distância tende a aumentar cada vez mais, e eu creio que o momento deve ser de rompimento. Os jovens idealistas do Brasil devem fazer como na década de 80, em que pensadores fundaram a maioria dos atuais partidos hegemônicos brasileiros.
Percebo uma acomodação. E essa acomodação incomoda. É um distanciamento, uma repulsa à política, e essa repulsa tem um reflexo extremamente negativo para o país. O sentimento de repulsa não deve nunca ser em relação à política, mas em relação a uma geração de políticos ultrapassados, que já deveria estar cedendo seu lugar para nós, jovens, colocarmos nossas ideias em prática e colaborar um pouco para levar à política a profunda transformação que nossa sociedade sofreu com o advento das novas tecnologias de informação.
Odeie as práticas políticas vexatórias que inundam o nosso país. Repudie pessoas que se deixam corromper por favorecimentos ilícitos e pela embriaguez do poder. Mas ame a política. Existe uma geração brilhante de jovens nas Universidades, nas empresas e na Internet, repleta de senso crítico e visão de futuro. Uma geração que não se conforma com as injustiças cada vez mais indisfarçáveis de nossa sociedade. Uma geração de se revolta quando vê pessoas sofrendo por inoperância ou estratégias de governo. Uma geração que não suporta mais o status quo atual, e também não suporta os oportunistas que tentam tomar o lugar das velhas figuras políticas com as mesmas ideias retrógradas.
É hora de mudar a história do Brasil. Hora da atual geração mostrar o seu valor. Se você chegou até aqui, é porque provavelmente não se sente representado também. Junte-se com outros que compartilham desse mesmo sentimento. São muitos. Vamos nos organizar, lutar pelo que consideramos justo e contra qualquer arbitrariedade. Como?
Não sei, e fico feliz por não saber. Porque todo pensamento inovador, de uma geração, deve ser fruto de uma coleta de ideias e de uma compilação de valores. Vamos construir algo que represente efetivamente os valores da sociedade atual. Que são ótimos, apesar de uma minoria reacionária que sempre nos faz pensar o contrário.
Todos os que vieram antes de nós lutaram por algo. Agora é a nossa vez.
Pingback: Falta de autocrítica, o problema crônico da política brasileira | Textos – por Leonardo Rossatto
Pingback: A Lei mais estúpida da humanidade | O Enciclopedista
Pingback: A Insanidade do Voto Impresso | O Enciclopedista
Pingback: Um partido para século XXI | O Enciclopedista
Pingback: Marco Feliciano e os Direitos Humanos | Aleatório, Eventual & Livre