Semana passada foi lançado o livro do Amaury Ribeiro Júnior sobre as fraudes nas privatizações durante a década de 90. Apesar de ter tido acesso a alguns conteúdos, não me sinto à vontade pra comentar sobre o assunto. Não li o livro inteiro e qualquer análise seria leviana, como tem sido a maioria das análises que fizeram do livro durante essa semana, de lado a lado.
Mas uma coisa eu sei analisar: a reação das pessoas ao livro nas redes sociais. E, a exemplo de outros casos, como o câncer do Lula, a invasão da reitoria da USP e os vídeos envolvendo Belo Monte, a conclusão é uma só: estamos na era da informação e de democratização profunda do conhecimento, mas estamos também na era em que tudo é banalizado e retrucado. A vida está se tornando uma eterna discussão com argumentos idiotas de parte a parte.
É sabido que as tecnologias de informação provocaram uma mudança profunda na concepção da sociedade, em seu Ethos, no que ela tem de mais essencial e profundo. O acesso à informação foi transformado, de maneira profunda e irreversível. Isso tem um lado bom e um lado ruim.
O lado bom: hoje em dia temos acesso a tudo. Podemos, com algum esforço, nos debruçarmos sobre qualquer tema. E isso é sensacional, sob todos os aspectos. Essa democratização profunda tem potencial de desenvolver a sociedade como em nenhum outro momento. A verdade sempre vem à tona, de uma forma ou de outra, e é possível vasculhar as coisas além das pontas de iceberg. O maior exemplo disso é o constrangimento causado aos governos pela divulgação de informações por Julian Assange e pelo Wikileaks. Com a abertura das informações fica muito mais difícil dissimular, enganar e tentar passar uma imagem inexistente. O acesso irrestrito à informação torna as pessoas muito mais próximas ao que se convenciona chamar de verdade.
O lado ruim: com mais informação disponível, tudo é banalizado. As tentativas de manipulação obviamente continuam existindo, as pessoas sabem que informação é poder e que o monopólio da informação traz poder. Então, com uma politica de desinformação, de banalização de tudo e de descredibilização da classe política, você torna tudo normal. Banaliza tudo.
Vou ficar em dois exemplos, explicando o modus operandi de cada um deles:
1) A Banalização da Violência
Já falei aqui sobre a imposição do medo na sociedade (http://poucodeprosa.wordpress.com/2011/11/28/o-medo/) e não pretendo me aprofundar nisso. Mas existe uma lógica envolvida.
O fato é que o medo justifica investimentos em segurança. A “propaganda” do medo é dada pela imprensa, que “vende” uma imagem de violência generalizada pelo simples motivo de que isso atrai mais a atenção das pessoas do que uma boa notícia, por exemplo. E alimenta diversos interesses: o do governo, que quer manter um quadro policial truculento e que combate seletivamente o crime, passando uma falsa “impressão de segurança” enquanto crimes de colarinho branco continuam a ser praticados sem restrições. Das empresas que trabalham com segurança, que continuam lucrando com o aumento dos investimentos na área, por pessoas que não confiam em policiais e se dispoem a pagar pela própria segurança. E, principalmente, aos setores mais conservadores e abastados da sociedade, que utilizam a questão da segurança como justificativa para “não se misturar” com pessoas “diferenciadas”, como pudemos constatar principalmente em São Paulo, nos últimos anos.
Além disso, a banalização da violência interessa aos bandidos, que se sentem empoderados com o medo da população, com liberdade de ação, afinal, é exatamente isso que a sociedade, de certa forma, “espera”.
2) A Banalização da Política
A política é um instrumento único de mudança e ação social, o grande catalisador das mudanças na sociedade e na vida das pessoas.
O acesso à política também mudou nos últimos anos, com a mudança na dinâmica da informação. E vemos que a política sofre também com um processo de banalização intencional e patrocinado por certos setores da sociedade, interessados apenas no pdoer.
O primeiro passo é colocar a classe política em completo descrédito. Notícias negativas recorrentes, denúncias, o político corrupto sendo tratado como padrão. A corrupção existe, deve ser combatida, mas o trabalho de separação não é feito. Falando que “tudo é a mesma coisa” e colocando todos os políticos no mesmo lamaçal, fica fácil colocar todos em descrédito. E com isso se banaliza a corrupção também.
O próximo passo é banalizar as denúncias. O que leva a um fenômeno de doer o estômago: o partidarismo cego, imbecil, babaca e sem senso crítico. Quando há uma denúncia, a resposta do militante é “ah, mas você também fez isso, quem investigou?”. No caso da Privataria Tucana, em específico, a resposta padrão tem sido o mensalão. Assim como era o governo FHC no caso do mensalão. É um moto perpétuo de merda.
O importante é banalizar tudo. Se há informação demais, pega-se o que atende determinados interesses e se exclui o resto. E qual é o objetivo final: é afastar a sociedade da política para que os mesmos grupos que sempre exploraram a política com interesses escusos possam continuar explorando-a. O cidadão, enojado, de fato se afasta. E pega raiva da política como um todo.
Conclusão
Esse maldito processo de banalização precisa ser revertido. E não apenas em relação á violência e a política. na vida, no dia-a-dia, nos esportes, tudo hoje é banalizado. Fala-se demais sobre determinados assuntos, nada mais é tocante, é importante, tem o devido valor. A exploração dos temas varia de acordo com a conveniência de quem está argumentando, sempre.
O processo deve ser revertido de peito aberto, com ousadia, profunda crença nas pessoas e enfrentamento de irregularidades. Óbvio que há problemas, mas não podemos ser reféns de quem tenta impor o medo e o descrédito para se eternizar como explorador da máquina administrativa e ditador de regras. E, obviamente, aqui eu não falo de um partido ou grupo específico, mas de todos que tentam usar o medo e o descrédito como ferramentas para afastar as pessoas da política e das mobilizações, banalizando tudo.
Não deixe sua vida ser vítima desse processo de banalização também.
A questão é que – para diminuir a banalização de tudo – é necessário que indivíduos tenham conhecimento, discernimento, hombridade e moral. Mais do que nunca essas coisas são “privilégio” de uns poucos que não se deixam levar pela massificação, pasteurização e padronização do ensino, virando massa de manobra semi-aculturada. E o que esses que correm atrás de aprender, ler e saber ganham com isso? Nada. Eles perdem e se desgastam tendo que discutir em pé de igualdade com um pseudo que só quer saber de agitar a galera e depois contar vantagem no bar.
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