Você acorda de madrugada, pega o ônibus lotado, perde metade da sua dignidade no trem, fica desesperado com o congestionamento, conta os minutos para não ter seu humilde salário descontado. Na maioria das vezes é assim. E muito disso porque todos vão trabalhar no mesmo horário, saem no mesmo horário, e produzem um dos grandes terrores da cidade grande: o horário de pico.
E é patético constatar que isso não mudou nem com o advento da Internet, que deveria incentivar o home office, e oferece, por exemplo a possibilidade de teleconferências ou coisa do tipo. Patético também constatar que as pessoas continuam presas no modelo de horário comercial fordista : você bate o ponto às 8 da manhã, sai para almoçar ás 11:57, volta às 12:53 e bate o ponto, no horário de saída, às 18:03. Tudo fechado, ordenado pela mentalidade inserida na sociedade de que AQUELE é o seu horário de trabalho, e no resto do dia você “vive”.
Realmente não importa o fato de que você sai de casa duas horas antes e chega duas horas depois do fim do expediente. Pior ainda: faz isso sem nenhuma qualidade. E pior: sem saber por que.
Sim, você já questionou, no mundo de hoje, POR QUE você trabalha das oito da manhã às seis da tarde? Olhe para o sujeito que deveria ser o seu exemplo. Isso mesmo, seu chefe. Não o sub-gerente de setor, mas o CHEFE mesmo. THE BOSS. E não de forma jocosa, como você está inclinado a fazer. Mas observe a rotina de trabalho dele. Ele quase nunca está trabalhando às oito da manhã, mas quase sempre fica até mais tarde. E isso não ocorre em uma empresa em específico, mas em boa parte delas. E ele faz isso por dois motivos:
1) A responsabilidade impede seu chefe de se desligar do ambiente de trabalho fora do horário comercial. Olha, se a Internet é boa pra sua vida em alguns aspectos, é ruim em outras. Hoje quem está em posição de chefia trabalha no metrô, em casa, no meio da aula da faculdade, no fim de semana, QUALQUER COISA EM QUALQUER LUGAR. E daí, com essa vida atribulada, fica a pergunta: PRA QUE continuar trabalhando em horário comercial, seguindo uma rotina rigorosa de chegar às oito da manhã e sair às seis da tarde, se você não vai mesmo sair as seis e se você acaba resolvendo boa parte de seus problemas de casa?
2) Eles podem. Simples assim. Você é chefe e já imagina todo o transtorno que vai encarar com o trânsito das sete e meia da manhã ou das seis e meia da tarde. Óbvio que, mesmo trabalhando, você vai querer fugir disso.
Então, fica a pergunta: se esse raciocínio pode ser válido para as posições de chefia, por que não pode ser válido para as outras posições dentro de uma empresa? Óbvio que existem coisas que são imutáveis, como turnos de atendimento, horários de aula e turnos de produção em empresas, mas mesmo eles podem ser adaptados para não começarem e terminarem nos horários comerciais de pico. Ainda mais hoje, em que trabalhos que demandam conhecimento e estratégia, não lidando diretamente com o público.
Por que o horário comercial precisa ser mesmo o horário comercial? Por que escritórios precisam trabalhar necessariamente das oito das seis? por que o banco precisa ficar aberto das 10 às 4, ou o Fórum precisa ficar aberto das dez da manhã às sete da noite? Por que a Bolda de Valores precisa necessariamente funcionar das dez da manhã às cinco da tarde?Por que esses serviços essenciais, que são demandantes de outros serviços, não podem ser feitos em horários estendidos ou alternativos, não tornando a vida de todo um inferno toda manhã e todo fim de tarde?
Estamos em uma era de mudança de paradigmas. As empresas e pessoas deveriam começar a se esforçar mais em mudar esse paradigma também.
Esta foi uma das soluções apontadas por especialistas para reduzir o impacto no trânsito, mas houve aquele que disse: – Mas esta solução não está nas nossas mãos e sim no poder privado. Pois bem, em Porto Alegre foi feita uma pesquisa que demonstrou que 15% dos passageiros de transporte coletivo nas horas de pico eram funcionários públicos. Não precisa dizer mais nada, certo?
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Pois é. Esse é o problema. O poder público por muitas vezes sugere coisas para a sociedade, mas ele mesmo não faz sua parte. Se as coisas começassem no serviço público, com o governo servindo como exemplo – e não o contrário – talvez fosse mais fácil fazer esse tipo de coisa.
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Muito interessante saber que a Suécia está implantando projeto nesse sentido. Isso precisa ser trazido logo para o Brasil:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u324626.shtml
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