Por que votarei em Dilma

Eu quero fazer um pouco mais do que escrever um texto bonito justificando minha posição política nessas eleições. É fácil declarar voto, militar por alguém ou lutar por uma causa. Mas é difícil encontrar razões para isso que não passem pela paixão política transitória e sem nexo.
Para isso, preciso contar um pouco da minha parca história de vida. Quando eu era pequeno, tinha meus oito anos de idade, tinha vários sonhos na vida. Uma vez, a professora da 3ª série (ou da 4ª, não me lembro bem) perguntou para cada aluno o que ele queria ser quando crescesse. Eu disse que queria ser Presidente do Brasil. Era uma presunção inocente que até hoje me faz rir.
Eu era um garoto diferente. Não que isso seja bom. Mas aprendi a ler muito cedo, e tinha uma curiosidade muito grande por saber mais sobre tudo. Passei muito tempo de minha infância lendo e relendo as enciclopédias que haviam em casa. Não havia Internet na época, éramos muito dependentes da televisão, e isso me levou, na inocência dos meus seis anos de idade, a ter atitudes infantis sem crítica, como achar que o Collor era melhor candidato que o Lula na eleição de 1989. Pouco tempo depois, também sem muita crítica, achei que o Collor era culpado, os caras-pintadas estavam certos e acompanhei a votação na Câmara dos Deputados que definiu seu processo de impeachment com expectativa. Mas tudo era muito infantil.
Fui crescendo, foram anos difíceis em casa. Não tínhamos muitos recursos, o cenário era quase sempre instável, e nessa época nossa família buscou refúgio em Deus. Guardo minha crença em Deus até hoje, como algo estritamente pessoal, que não tem nada a ver com política. Uma das minhas maiores críticas ao processo eleitoral atual foi a utilização indiscriminada de altares e púlpitos, por autoridades religiosas, em busca de votos.
Deus não tem orientação política. Mas pensar nos outros antes de pensar em você é algo que certamente agrada a Deus.
Mas o assunto não é esse. Minha família trabalhava no comércio, e parecia que as coisas estavam sempre piorando. O preço de tudo subia, as margens de lucro sempre diminuiam, o cenário era sempre de instabilidade. Meu pai conseguiu um emprego, mas só foi efetivado 3 anos depois. Nesse periodo foi chamado e dispensado várias vezes. Pois sempre havia uma crise, nunca haviam vagas efetivas, e ficávamos nessas idas e vindas, dependendo do cenário econômico, enquanto minha mãe tocava seu comércio para ajudar a sustentar a família. Eu fiz estágio nessa mesma empresa, e fui dispensado por causa da crise ocasionada pelo apagão de 2001.
Nessa época já era um jovem. No colégio técnico, em 1997, tive minha primeira vivência com o movimento estudantil, em uma malfadada experiência que levou ao fechamento e a “refundação” do Grêmio Estudantil de onde eu estudava. O Ministro Paulo Renato tinha acabado de aprovar a LDB, e o que eu ouvia é que aquilo seria ruim. E, de fato, percebendo a situação da educação pública técnica no Estado de São Paulo, abandonada, sem dinheiro para nada, sem aulas, desisti do curso e fiz o curso técnico em uma escola privada, com bolsa de estudo.
Nessa época, pensava em melhorar a vida das pessoas, mas não sabia como. Ainda não sei, na verdade. Mas, de pretenso engenheiro, terminei meu curso técnico pensando no que fazer do restante da minha vida. E, junto com isso, percebia que o Brasil seria sempre um antro de injustiças, um lugar em que sempre alguns poucos seriam favorecidos, e em que a sociedade era claramente dividida entre os dominadores e os dominados.
Vencer na vida era fazer parte da classe dos dominadores. Uma frase que minha mãe me falava marcou bastante. Ela dizia que “o sonho do oprimido não é deixar de ser oprimido, é ter alguém para oprimir”. Cresci nessa lógica perversa e sem sentido de um país onde só parecia haver opressores e oprimidos. Como legítima classe média apolítica, você deveria se espelhar no sucesso dos mais ricos e fazer de tudo para se diferenciar dos mais pobres.
Aquilo não estava certo. E então resolvi mudar completamente o rumo da minha vida profissional. Prestei vestibular para três Universidades Públicas. Em todas elas, o mesmo curso: Ciências Sociais. Passei nas três. Preferi fazer meu curso na Unicamp, por “ouvir falar que era melhor”.
Tive algumas decepções. Eu vi que mudar o mundo não era muito fácil, a revolução comunista era uma utopia, os movimentos estudantis não mereciam tanto crédito assim. Mas votei em Lula, em 2002, com convicção. E me emocionei quando ele venceu a eleição. Eu tinha esperança de um governo íntegro, honesto, que pensasse em todos e promovesse a igualdade. E com retidão moral.
A parte da retidão moral ficou para trás no mensalão. Mas trabalhei com Educação no Estado de SP, e perceber o tratamento que o governo do PSDB dava para o assunto era motivo de revolta. Os funcionários passaram mais de dez anos sem reajuste salarial, a situação era caótica, o cenário era de desmotivação geral. Os alunos aprendiam muito pouco.
A educação sempre foi essencial para mim. O conhecimento me libertou de muitas coisas. Estudar e conhecer mais a fundo todas as coisas sempre me realizou, sempre me fez feliz. Era inconcebível, para mim, qualquer governo que não tratasse com decência a questão da educação. Para mim, não é questão política, nem orientação ideológica: é uma filosofia de vida o fato de que a educação, sim, liberta, torna-nos pessoas melhores, faz de cada um de nós um ser humano com capacidades especiais e nos dá oportunidades que outrora não teríamos. E, para mim, um governo que trata a educação com desleixo não merece nenhum crédito.Vendo tudo o que as práticas dos governos do PSDB causaram de ruim em minha vida, peguei raiva do modelo de Estado do partido. Não é possível sobreviver em um Estado Mínimo. Não é certo colocar tudo nas mãos do mercado e fechar os olhos para aquela relação entre dominadores e dominados, opressores e oprimidos, eternizando as relações de poder como um moto contínuo perverso e devastador.

Foi então que percebi que alguma coisa estava mudando. Não na minha frente, mas estava. Em alguns lugares, os programas do governo Lula começavam a surtir efeito. Uma das coisas que mais marcou minha infância foram os efeitos catastróficos das secas no nordeste. A miséria que elas ocasionavam, quase todo ano. As imagens sempre eram chocantes. E eis que, de repente, essas imagens cessaram.
Fui pesquisar sobre. E percebi que o governo Lula tinha implantado um programa de cisternas rurais no semi-árido que, de forma simples e eficiente, ajudou a diminuir os efeitos da seca. E que os programas de transferência de renda do governo tinham valores desprezíveis para a maioria dos paulistas, mas faziam uma diferença absurda na vida econômica de muitas famílias mais pobres do Norte e do Nordeste, principalmente. Via que muita gente estava achando emprego mais fácil. Parecia que o Brasil estava mudando em algo.
Dei outro voto de confiança em Lula. Afinal, o adversário era o Alckmin, responsável direto pelo sucateamento da educação em São Paulo, junto com Mário Covas. Mudei de emprego, fiz um ano de faculdade na USP e me formei. E percebi um país mais justo nascer diante dos meus olhos. Não diminuiu só a desigualdade entre os brasileiros, mas diminuiu o sentimento de exclusividade.
Hoje, essa desgraça que assolou nossas vidas não pode voltar. Nasci, fui criado e cresci em uma lógica em que o “sentimento de exclusividade” era algo bom. Incluímos mais gente nesse bolo durante o governo Lua, diminuímos a “exclusividade” das pessoas, ajudamos a construir um país um pouco mais justo e igual. Eu sei que tive parte nisso, nas duas vezes em que votei no Lula. O país é melhor assim. Não porque está se desenvolvendo ou crescendo a taxas de 7% ao ano, mas porque existem mais pessoas compartilhando os frutos disso.
Toda ação tem uma reação. A diminuição dessa “exclusividade” provocou um ranço nunca visto em campanhas eleitorais. Pessoas necessitam provar que são melhores que outras, que não vivem no mesmo patamar, que são, de certa forma, “exclusivas”.
Não quero um país “exclusivo”. Quero um país justo. Um país em que a pobreza seja erradicada e o cidadão pobre tenha condições de ter educação de qualidade. Um país em que a lógica perversa de dominação possa ser revertida.
Hoje estou em minha segunda graduação. Finalmente farei Engenharia. Na UFABC. E agradeço por isso ao Lula, que retomou o investimento nas Universidades Federais, esquecido durante o governo do PSDB.
Não podemos colocar o projeto de um país mais justo em segundo plano em nome de valores morais questionáveis ou promessas demagógicas. Tenho o compromisso de dizer a vocês que quem continuará a caminhada para um país mais justo e inclusivo, nos próximos quatro anos, é Dilma Rousseff, principal defensora do bom legado que Lula trouxe para o país.
Poderia escrever muito mais sobre isso aqui. Mas o fato é que eu prefiro um governo que pense o Brasil para os brasileiros. Para todos os brasileiros. Que tenha em seu cerne um país mais justo, em que todos tenham a chance de ser felizes. E isso, pela minha experiência de vida, eu sei que o PSDB não fará. Tenho ressalvas ao PT, criticarei o partido muitas vezes, mas, hoje, temos no partido a unica esperança de continuarmos rumando para um país mais justo. Que, no fundo, acho que era aquilo que eu queria quando disse para minha professora que queria ser Presidente do Brasil, na 3ª série.
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