Um espectro assombra os candidatos das eleições proporcionais nessa eleição. Uma sombra que promete ser um sorvedouro de votos e que tem provocado a revolta de analistas e candidatos em geral. Estamos lidando com o “fenômeno Tiririca”, que promete ser mais um campeão de votos em São Paulo, reeditando a turba de “votos de protesto” que já alçou à Câmara dos Deputados políticos como Enéas Carneiro e celebridades como Clodovil Hernandez. Por uma infeliz coincidência, ambos já falecidos.

O caso de Tiririca, no entanto, é diferente. Se com Enéas e Clodovil o espanto veio depois da contagem de votos, com Tiririca as críticas e protestos estão acontecendo antes. Fazem programas no Horário Eleitoral rebatendo-o. Tentam impedir, junto aos tribunais eleitorais, o Tiririca de usar a imagem do… Tiririca, alegando que o mesmo não passa de um “personagem”. Afinal, por que Tiririca incomoda tanto?

É simples. Tiririca, de forma involuntária, escancara a situação da política do país. Escancara a credibilidade atual dos políticos. Enéas tinha suas propostas, e muitos votaram neles por concordarem com o que ele falava. Clodovil, além de ser uma celebridade, era considerado inteligente por seus pares, e defendia causas também. Tinha um discurso que pregava a moralidade no Congresso, e atraiu muitos votos por isso.

E Tiririca, o que propõe? Nada. absolutamente nada. Tiririca é um iconoclasta. Tiririca não tem nada para propor, e faz sua popularidade com slogans como “o que faz um deputado federal? Não sei. Mas se você me colocar lá eu te conto.” e “Tiririca: pior do que tá não fica”. Aí começa nossa explicação para o que realmente incomoda no candidato.

Muitas pessoas realmente acreditam nesse discurso. Realmente acreditam que colocar no Congresso um humorista, que não faz idéia do que fazer lá, é melhor do que colocar políticos experientes e corruptos, que, no fim das contas, “também não fazem nada”. Tiririca escancara a completa descrença da população com a classe política brasileira. Escancara a falta de credibilidade dos políticos brasileiros, e demonstra, de uma vez por todas, que os cidadãos não votam em celebridades por acreditarem em idéias excêntricas, e, sim, porque não acreditam em mais nada.

Tiririca escancara o fracasso do modelo proporcional brasileiro. Isso ficará claro quando ele conseguir mais de um milhão de votos. Com mais de um milhão de votos, ele levará consigo 5 a 7 deputados da coligação para a Câmara. Desequilibrará o jogo político no estado da federação que conta com o maior número de eleitores.

Tiririca escancara o fracasso do atual modelo eleitoral, e, principalmente, do Horário Eleitoral Gratuito. Mostra que, no modelo atual, ninguém tem tempo de se destacar pelas propostas, mas você pode se destacar fazendo humor e ridicularizando o sistema. Fazer humor em um horário político subsidiado pela população (sim, as emissoras são ressarcidas pela exibição), e ter resposta positiva da população, demonstra com uma precisão enorme que o sistema atual está falido. E deve ser repensado com urgência.

Sem fazer nenhuma proposta, Tiririca tornou-se um revolucionário. Tornou-se um iconoclasta. Um candidato que quebra paradigmas. E por isso toda a classe política e a imprensa estão incomodados. Porque, sem pregar nenhuma mudança, Tiririca coloca às claras a necessidade de mudanças urgentes no sistema político brasileiro.