Educação – A Maior Prioridade (parte 2)

Ontem comecei uma série aqui em que me propus a falar de educação. Antes de tudo, foi feito o diagnóstico de que a educação é o grande gargalo no desenvolvimento brasileiro, e deve ser completamente reformulada, sendo a prioridade máxima de qualquer governante que assumir o país.
Na postagem de hoje, vamos falar de aspectos genéricos e problemas gerais ligados à educação, para nas próximas postagens colocar soluções para as diversas fases da vida escolar, e como criar uma cultura de valorização da educação.
Desde a década de 50, países como Coréia do Sul, Irlanda e Espanha investiram de maneira prioritária e consistente na educação, e colhem até hoje os frutos por isso. A Coréia do Sul é o caso mais emblemático, saindo do limiar do subdesenvolvimento, na década de 50, para a posição de um dos países mais avançados do mundo. Em que pese o investimento estatal em diversas áreas da economia e o apoio norte-americano e japonês, o pilar do desenvolvimento sul-coreano foi a reformulação do sistema educacional do país e a priorização do tema.
A educação é a origem de tudo em uma sociedade. Investindo em educação você melhora a saúde, por exemplo, pois contará com mais médicos, enfermeiros e administradores hospitalares mais capacitados. Melhorará a segurança pública, pois a educação e a qualificação profissional proporcionarão melhores oportunidades àqueles que desejarem um futuro profissional. Melhorará o problema das habitações, pois se formarão mais empreendedores e engenheiros, capazes de projetar e executar um maior número de obras em menos tempo. Melhorará a gestão dos serviços públicos, pois os profissionais da área pública serão melhor qualificados, terão uma visão mais abrangente sobre os problemas da população e prestarão melhores serviços.
E educação é a roda que faz uma sociedade girar. É a base da estrutura social, é o mecanismo de transmissão de cultura e conhecimento que nos permite viver harmonicamente em sociedade. A educação é um elemento de coesão social, e não investir em educação significa formar uma sociedade problemática, doente, que manifesta suas aberrações através da violência e que é composta por pessoas infelizes e com seus talentos mal aproveitados.
Além disso, há um problema: existem pessoas que ganham muito dinheiro com a sistema de educação caótico e ineficiente que o Brasil tem. A carência de boas opções de educação no país fez com que florescesse uma rede imensa de instituições de ensino particulares, que cobram altas quantias pela educação. Essa rede está presente no Ensino Infantil, Fundamental e Médio, de forma quase predominante, “condenando” a classe média brasileira a pagar quantias absurdas mensalmente para dar uma educação digna aos seus filhos. Está presente nos cursos pré-vestibulares, para preparar pessoas com uma formação deficiente e mal-feita para o vestibular. E está presente no Ensino Superior, “popularizado” nos últimos quinze anos, com uma imensa rede de faculdades medíocres que oferecem uma formação “para o mercado de trabalho”, com uma carga teórica mais pobre do que a da maioria dos cursos de nível técnico ministrados no exterior.
As pessoas que ganham dinheiro com a educação não estão interessadas na reforma do ensino, nem em mudanças estruturais. Se tudo continuar como está, seus empreendimentos não correrão riscos, os investimentos em profissionais qualificados não precisarão ser realizados e as instituições privadas de ensino poderão continuar oferecendo o ensino medíocre que oferecem atualmente.
A lógica é perversa, mas, para os proprietários de escolas particulares, quanto pior a qualidade do ensino público, melhor para eles. Se o salário do professor da escola pública for mais baixo, por exemplo, eles terão que pagar menos para atrair os profissionais do que pagariam se a educação fosse melhor. Se o nível da educação pública for deplorável, como é atualmente, eles precisarão oferecer apenas uma educação medíocre ou ruim para se destacarem frente às escolas públicas.
É uma lógica semelhante à utilizada pelos planos de saúde e hospitais particulares para oferecerem serviços medíocres. Partindo do princípio de que a saúde pública é péssima, eles oferecem um serviço ruim, que as pessoas são obrigadas a pagar para não precisarem recorrer ao serviço público, que é ainda pior. E como saúde é uma necessidade absolutamente básica, hospitais e convênios médicos sobrevivem e lucram prestando serviços cada vez piores. É o lado nefasto de delegar serviços que normalmente seriam feitos pelo setor público ao setor privado. Por estas e outras devemos pensar muito bem antes de elegermos candidatos de partidos com tradição de “enxugamento da máquina estatal”. A educação e a saúde no Brasil só estão no calamitoso nível atual por conta de sucessivos governos que não investiram o suficiente, apostando na competência do setor privado, e tornaram o problema uma bola de neve.
Para modificar a educação no Brasil, este é o primeiro grande desafio: ter coragem de contrariar interesses poderosos, consolidados, e que exercem forte lobby no Congresso Nacional. Ter coragem de contrariar estes interesses e melhorar o ensino público, porém, empurrará para cima a qualidade do próprio ensino privado, e formará um circulo virtuoso, que beneficiará a indústria, o comércio, e fará o país se desenvolver como um todo, propiciando novas oportunidades inclusive para que construiu sua vida profissional com o ensino privado. O primeiro passo é convencer os empresários do setor disso. Ou fazer a reforma educacional apesar deles – o que é bem mais provável que aconteça.
Na próxima parte, começaremos a falar sobre os problemas da educação. Mais uma vez deixo o espaço aberto a comentários e sugestões.
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